Nesta quinta-feira (27), os católicos campo-grandenses celebram o dia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, santa representada em Campo Grande, pelo santuário erguido em 1939, há oito décadas e meia, na Avenida Afonso Pena, uma das principais vias da cidade.
A data tem sido celebrada desde o dia 21, sexta-feira passada, e os festejos e atos religiosos, como missas e novenas, devem conquistar até o dia 30 (domingo que vem) o prestígio de ao menos 70 mil pessoas.
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Quando construída a igreja, a cidade tinha pouco menos de 50 mil habitantes; hoje beira à casa de 1 milhão de moradores.
Segunda igreja levantada na cidade, tornou-se uma das principais referências religiosas da região ao ponto de virar a padroeira de Mato Grosso do Sul, por força de uma lei sancionada, em dezembro de 2017, pelo então governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Reportagem de O Jacaré foi ao santuário ontem, quarta-feira (26), data que os coordenadores da instituição promoveram missas o dia todo e que reuniu entre 25 mil e 30 mil pessoas, e lá conversou com fieis para saber com eles o motivo da devoção por Perpétuo Socorro, a religiosa que o mundo conheceu por volta dos anos de 1.200, no século XIII [ver histórico mais abaixo].
Reginaldo Padilha, reitor do Santuário Perpétuo Socorro, disse que antes de construída a paróquia, novenas [na Igreja Católica, uma das tradições é rezar novenas como forma de devoção a Deus; trata-se de um momento de fé de cada devoto, que reza durante nove dias por alguma intenção ou em agradecimento] eram promovidas nas casas dos fiéis.
Ainda hoje, as novenas são realizadas na paróquia todas às quartas. O reitor disse que há casos em que os fiéis que moram em outras cidades, por exemplo vão a uma consulta médica e, depois, passam pela igreja, levam o diagnóstico e, lá, pedem ajuda à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Numa das missas de ontem, uma senhora contou, por meio de carta escrita à mão que foi ao médico e descobriu ter sido infectada por câncer e a perspectiva de vida não alcançaria um ano. A fiel contou ter sido curada e o comunicado enviado à igreja seria um meio de narrar um exemplo de superação por meio da fé depositada em Perpétuo Socorro.
Reginaldo Padilha afirmou, também, que os fiéis que lá vão buscam ajuda e também aparecem nas missas para agradecer por conquistas. “Eles [fiéis] pedem proteção, emprego, casa própria, e, saúde, principalmente”, disse o pároco.
Jornalista pediu cura de câncer do enteado
Arcílio Batista, 70, jornalista aposentado, disse que vai ao Santuário Perpétuo Socorro, todas as semanas. “Aqui estou às quartas, quintas e domingo”, afirmou.
Meses atrás, em março passado, sustentou Batista, um enteado seu de 40 anos de idade foi submetido a uma cirurgia no fígado, órgão comprometido por um câncer. “Confiei em Perpétuo Socorro. Rezei e aqui pedi pela saúde dele [enteado]. Deu tudo certo, ele fez a cirurgia, recuperou-se e já retornou ao trabalho. Valeu minha fé pela santa”, afirmou o aposentado que resolveu comentar outra “bênção”, segundo ele.
“Estava precisando de dinheiro, e num período de quatro minutos, depois de pedir à santa, fui contemplado”, disse o aposentado que revelou que o dinheiro necessitado surgiu por meio de um amigo que, “do nada”, apareceu e entregou-lhe em mãos a quantia que lhe faltava.
Mulher clamou por milagre após quebrar o pé dentro do ônibus
Outro exemplo é de Raimunda, 68, conhecida como Dona Branca, moradora do bairro Centro-Oeste, em Campo Grande.
Ela disse que, em março passado, sofreu um acidente dentro de um coletivo do transporte público da cidade e feriu gravemente o pé. Por um período não pode andar por recomendação médica.
Ontem, quarta-feira, ela participava de uma missa e disse ter ido até o santuário para agradecer a Perpétuo Socorro. Ela entrou na paróquia andando e afirmou que isso teria sido possível ‘graças’ aos pedidos feitos à santa. “Rezei muito por isso”, afirmou dona Branca.
Mas, segundo ela, depois do ferimento no pé fez outro pedido: quer se formar em Matemática. “Estou estudando para isso, e, minhas orações e Perpétuo Socorro devem me ajudar e vou conseguir”, disse, otimista, Dona Branca.
Motorista de aplicativo agradece moto nova
Ronaldo Alexandre Amaro, 53, motorista do aplicativo Uber, um dos últimos da fila entre os fieis que foram à missa promovida ontem por volta do meio-dia, disse ter obtido “várias ajudas, bênçãos da santa”, como disse, mas resolveu revelar uma delas.
Católico desde criança, Amaro disse que recentemente havia comprado uma motocicleta de fabricação nova, um desejo antigo dele, então dono de uma moto usada.
Por meio de rezas, pedidos e idas à igreja, ele conseguiu o feito. “Aqui [santuário] sinto-me protegido, firme e conquisto o que peço”, afirmou o motorista.
Nossa Senhora do Perpétuo Socorro deixou a condição de paróquia em 1999, 25 anos atrás, quando tornou-se santuário.
Serviço social
Além das missas e novenas, o Santuário Perpétuo Socorro conduz projetos sociais por por meio da AFIM (Associação Redentorista Filhos de Maria), criada em agosto de 2013. A instituição está ligada ao Santuário Estadual Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e é responsável por cuidar de todas as obras sociais do Santuário e implementar projetos.
O atendimento realizado pela associação é voltado para as pessoas carentes, com a distribuição de cestas básicas, doações de roupas e calçados.
A AFIM oferta ainda, tratamento psicológico breve e Orientação Jurídica através de profissionais voluntários, de forma gratuita.
A AFIM atende também cerca de 22 instituições assistenciais, com doações de alimentos, roupas, produtos de limpeza, entre outras doações.
O santuário coordena também uma comunidade conhecida como Terapêutica Redentorista, que cuida de dependente químicos e alcoólicos.
História de Perpétuo Socorro
A devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro começou a ser propagada a partir de 1870 e espalhou-se por todo o mundo. Trata-se de uma pintura do século XIII [1201-1300], de estilo bizantino [relativo à cidade de Bizâncio (atual Istambul, na Turquia).
Segundo a tradição, foi trazida de Creta, Grécia, por um negociante que roubou a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro no século XV. Sua intenção era vendê-la em Roma. Durante a travessia do mar Mediterrâneo, uma tempestade quase fez o navio naufragar. Chegado em Roma, ele adoeceu e, arrependido, contou a um amigo sua história e pediu que ele devolvesse o ícone a uma Igreja.
A esposa desse amigo não quis devolvê-la, mas, após ficar viúva, Nossa Senhora apareceu à sua filha de seis anos e lhe disse para colocar o quadro de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em uma Igreja: na Igreja de São João Latrão ou na de Santa Maria Maior.
Em 27 de março de 1499, o ícone foi entronizado na Igreja de São Mateus, ficando lá por mais de 300 anos.
Em uma invasão, a Igreja de São Mateus foi destruída. Os Agostinianos que guardavam a Obra, levaram-na para um lugar oculto, onde permaneceu esquecida por 30 anos. Um monge muito devoto, antes de morrer, contou a história a um coroinha, que, tempos depois, se tornou padre Redentorista e ajudou a reencontrar o ícone.
Em 1866, o Papa Pio IX entregou a guarda da imagem aos Redentoristas e fez esta recomendação: “Fazei com que todo o mundo conheça esta devoção”. Fizeram, então, muitas cópias do ícone e a difundiram por todas as partes do mundo.
Atualmente, o quadro original encontra-se na Igreja de Santo Afonso, em Roma.
De semblante grave e melancólico, Nossa Senhora traz, no braço esquerdo, o Menino Jesus, ao qual o Arcanjo Gabriel apresenta quatro cravos e uma cruz. Ela é a senhora da morte e a rainha da vida, o socorro seguro e certo dos que a invocam com amor filial.
O centro da pintura não é Nossa Senhora, e sim Jesus. Maria é, assim, “aquela que indica o caminho” ou como é mais conhecida: “a via de Cristo”.