Mário Pinheiro, de Paris
O totalitarismo pode ser interpretado como doença, câncer, erva daninha e também pela maneira mais fácil de chegar ao poder derrubando alguém pelas armas. Geralmente, o líder desta corrente política, reúne membros e adeptos de todas as classes sociais, pode também apelar ao fator religioso para se mostrar piedoso ou crente como se fosse o crepúsculo da esperança diante da miséria e catástrofe.
O termo totalitarismo foi utilizado pelo jornalista italiano Giovanni Amendoa em 1923, para denunciar o movimento fascista que ganhava corpo e voz com Benito Mussolini e depois se espalha pelo continente europeu.
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Mas o totalitarismo entra na linguagem ordinária, como sustenta Hannah Arendt, e passa pela banalização do mal. A tomada de consciência do caráter criminoso do totalitarismo é estudada pelo marxista Herbert Marcuse e o nazismo entra no estudo por ser a expressão do medo e da barbárie sustentada pela classe jurídica na instalação do mal.
Para Arendt, a essência do totalitarismo pousa sobre a extrema violência e difere de todas as formas de opressão política. A ditadura, segundo ela, não chega aos pés da ideologia totalitarista. Neste caso, o ex-presidente brasileiro seria um engodo, fanfarrão, criador de bravatas, aquele que joga ao público a ideia da coragem sem jamais ter sido corajoso.
A banalidade do mal vem no bojo da tirania totalitária, é a racionalidade da violência. No Brasil, não faz muito tempo, alguém pregava uma guerra civil, a morte, poder das milícias, armas nas mãos de todo cidadão, a divisão das famílias, amigos e a presunção de inocência dos evangelizadores da prosperidade na exploração de pessoas simples.
O totalitarismo é a ideologia do terror e desumanização que impõe a lógica de uma ideia. A Europa já passou por algumas experiências nada edificantes que deixaram rastros de desespero sombrio, sem horizonte, de trevas.
Geralmente, o ser fascista se esconde atrás do baluarte da família, garante que ela é sagrada, privada, intocável e necessita de cuidados de Deus e da pátria. É uma simples ilustração, mas ela descamba no individualismo do pensamento fanático que acaba por desunir os membros da própria família. Quando o grupo fascista conquista o poder, seja pelo voto ou pela força militar, o cidadão e a situação social é o que menos interessa.
O totalitarismo é o espelho da modernidade.
Muitos países estão aderindo ao retorno de sistemas que oprimem a liberdade de expressão, proíbem os movimentos sociais, são totalmente contra as feministas, os homossexuais e adotam uma regressão em termos gerais.
Exemplos como a Hungria, Argentina, Itália e muito próximo da extrema direita como a França que deseja renegar até o direito de acolhida de imigrantes e refugiados políticos. O Brasil se livrou do fascismo por um triz, mas o público que lambe os pés do ex-presidente nega e ignora o passado, a história.
O sujeito que se diz esclarecido politicamente e desconhece a raiz da maldade, aciona o negacionismo da ciência e acha mais simples assumir o papel de alienado para posar de herói atrás do teclado de um computador, é um abestado. O negacionismo ocupa a primeira fase do eleitor bolsonarista que se diz liberal, mas não entende a base da ideologia que ele defende. O terror, segundo Arendt, é a essência do sistema que visa a eliminação sistemática da oposição, dos supostos inimigos da sociedade.
Durante muito tempo, o fascismo foi objeto de análise, de estudo, pelas correntes liberais e marxista. As primeiras interpretações era de que se tratava de uma ditadura que desconhece as instituições civis, assim como a separação dos poderes e as liberdades individuais.
Os liberais viam esta ditadura como uma classe que visava defender os interesses do capitalismo. O fascismo aparece às vezes como um “camaleão” eclético capaz de mudar conforme o momento. Mas o totalitarismo, com sua face “angelical” de fascista, é a encarnação decadente da razão. O discurso deles bate na mesma tecla de sempre: combater o comunismo.