No âmbito da Cartão Vermelho, operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), imposta nesta semana e que prendeu o presidente da FFMS (Federação de Futebol de MS), Francisco Cezário de Oliveira, 77 anos, por desvio de milhões de reais, conforme os mandados de prisão e de buscas e apreensões, indica que a entidade que completa 46 anos de fundação, neste ano, terá de ser reinventada.
É que, além de Cezário, encarcerado na terça-feira passada (21), por força de um mandado de prisão preventiva, medida que não tem tempo para acabar, o vice-presidente da FFMS, Marco Antônio Tavares, o Marquinhos, também se encrencou na trama. Escancarou-se seu envolvimento ao ponto de ele incluir no esquema o filho, Marco Paulo Abdalla Tavares. Os dois captavam dinheiro da entidade de modo ilícito, segundo as investigações do Gaeco.
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A dupla Cezário e Marquinhos tem mandato que a credencia a chefiar a FFMS até 2027.
Em citações encaixadas nas 21 páginas dos mandados de prisão e buscas e apreensões, determinados por Eduardo Eugênio Siravegna Júnior, juiz da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, Marquinhos e o filho aparecem em condições suspeitas e que justificam a razão de o magistrado mandar os investigadores até a casa deles no dia Cezário foi preso.
“… no dia 25/10/2022, mês em que a Federação de Futebol recebeu dois termos de fomento (repasse de dinheiro], Umberto Alves Pereira [integrante do esquema e que foi preso com Cezário] foi visto saindo da sede da entidade [da FFMS] e dirigindo-se até uma agência do Banco Itaú desta Capital para realizar um saque, retornando em seguida ao local na posse de uma pasta preta”, diz trecho da denúncia do Gaeco
Em seguida, revela os investigadores:
“No local [sede da FFMS], aguardavam Aparecido Alves Pereira, Francisco Carlos Pereira, Marco Antônio Tavares (vice-presidente da FFMS), Luiz Eduardo Leão Gonçalves e Rudson Bangarim Barbosa [todos implicados na trama], supostamente para receberem parte do dinheiro sacado”.
Noutra página, mais situação que compromete Tavares:
“…. também se justifica a medida de busca e apreensão tendo como alvo Marcos Antônio Tavares (Marquinhos), pois, conforme apurado nas investigações, este utilizava-se de uma empresa de sua propriedade, denominada MTAVARES EVENTOS para o fim de ocultar o esquema de desvio de dinheiro”.
Assim que a justiça determinou quebra de sigilo bancário nas contas dos envolvidos, o Gaeco ficou sabendo que entre os anos de 2020 e 2022, Marcos Antônio recebeu diretamente da conta bancária da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul a quantia de R$ 40.795,00”.
Também segundo o Gaeco, “desde 2018, Marco Paulo Abdalla Tavares, filho de Marco Antônio Tavares, recebeu da Federação de Futebol R$ 257.820,00”.
Reportagem de O Jacaré tentou conversar com pai e filho, mas até esta publicação, não tinham sido localizados. Assim que se manifestarem este material será atualizado.
O esquema
Conforme reportagem desta quinta-feira (23), o Jacaré noticiou que a suposta organização criminosa chefiada por Francisco Cezário de Oliveira inseria declarações falsas e maquiava a prestação de conta para esconder o desvio de recursos. Interceptações telefônicas revelam como o grupo agia para justificar a saída do dinheiro. Apenas a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) repassou R$ 14,6 milhões entre 2013 e 2022, conforme os balanços da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul.
A Operação Cartão Vermelho mostrou que os integrantes da organização criminosa até procuravam outros meios de receber mais dinheiro e não escondiam que tudo era repassado para Cezário, o imperador do futebol sul-mato-grossense.
Francisco Cezário é advogado e foi prefeito da cidade de Rio Negro.
Contra o vice-presidente da entidade e o filho, o Gaeco cumpriu mandados de busca e apreensão.