A quebra do sigilo bancário revelou que a Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul repassou R$ 5,127 milhões para o presidente, Francisco Cézario de Oliveira, e aos cinco sobrinhos. O maior beneficiário foi Umberto Alves Pereira, o Beto, uma espécie de tesoureiro da entidade, que recebeu R$ 2,8 milhões entre 2019 e 2023.
Os dados fazem parte do despacho do juiz Eduardo Eugênio Siravegna Júnior, da 2ª Vara Criminal de Campo Grande, que autorizou os 14 mandados de busca e apreensão e a prisão preventiva dos sete acusados de integrar a organização criminosa. Os mandados foram cumpridos nesta terça-feira (21) com a deflagração da Operação Cartão Vermelho.
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O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) promoveu uma devassa nas contas da entidade nos últimos cinco anos e investigou a família de Cezário. Interceptações telefônicas montaram o modus operandi do grupo para desviar o dinheiro repassado pelo Governo do Estado, através da Fundesporte, e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
“Importante frisar que tais depósitos nas contas dos investigados não ocorriam em datas periódicas ou com constância de valores, de modo a justificar eventual identificação de repasse por serviços prestados à Federação de Futebol. As intenções criminosas para desvio de dinheiro da Federação também puderam ser identificadas por meio de conversas registradas nas interceptações telefônicas”, pontuou o magistrado.
Em quatro anos, a Federação de Futebol fez 84 transferências para as contas de Francisco Cezário, que somaram R$ 403.225,47. De acordo com o Gaeco, o montante não foi declarado para a Receita Federal do Brasil.
A investigação apontou ainda que o imperador do futebol, já que estava no comando desde 1998 e permaneceria até 2027, usava os sobrinhos para movimentar o dinheiro desviado. O maior beneficiário foi Beto, que recebeu R$ 2,265 milhões diretamente das contas da Federação de Futebol. Outros 279 depósitos fatiados foram feitos e somaram R$ 621.180. A estratégia tinha o objetivo claro de driblar os órgãos de controle e fiscalização do sistema financeiro.
Em segundo lugar ficou Aparecido Alves Pereira, o Cido, delegado de jogos da FFMS. Ele teria recebido R$ 862,1 mil, sendo R$ 411,4 mil diretamente da entidade e mais R$ 450,7 mil repassados pelos clubes de futebol.
O filho de Beto, Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira, recebeu mais de meio milhão de reais apesar de, oficialmente, não ter nenhum vínculo com a entidade esportiva. No total, a FFFMS depositou R$ 523,8 mil nas contas de Marcelo. Ele ainda foi beneficiado com 90 depósitos fracionados, que totalizaram R$ 89 mil.
Valdir Alves Pereira foi beneficiado com o repasse de R$ 594 mil, mas deste total, apenas R$ 53,7 mil foram repassados diretamente pela Federação de Futebol. O tio repassou a maior parte, R$ 540,3 mil.
Francisco Carlos Pereira recebeu R$ 308,8 mil da federação e outros R$ 99,2 mil de Beto. Todos os dados foram possíveis graças à quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico decretadas pela Justiça durante a investigação.
O Gaeco acompanhou Beto no banco quando ele realizou saques em duas ocasiões. No dia 25 de outubro de 2022, o sobrinho de Cezário saiu da agência bancária com uma pasta. Em outra ocasião, ele chegou a ser fotografo com maços de dinheiro.
Os saques sempre eram fracionados em valores abaixo de R$ 5 mil para não levantar suspeitas do COAF, o xerife do sistema financeiro. O Gaeco apontou que foram realizados 1,2 mil saques de valores baixo de R$ 5 mil, que totalizaram R$ 3 milhões.
O juiz decretou a prisão preventiva de Aparecido Alves Pereira, Francisco Cezário de Oliveira, Francisco Carlos Pereira, Marcelo Mitsuo Elzoe Pereira, Umberto Alves Pereira, Valdir Alves Pereira e Rudson Bogarim Barbosa.