Uma nova pesquisa envolvendo um médico da Universidade de Southampton, no Reino Unido, traz novidades sobre as diferenças entre os sexos no que diz respeito ao sono. A nova revisão de evidências de pesquisas explorou as principais diferenças na forma como mulheres e homens dormem, variações em seus relógios biológicos e como isso afeta seu metabolismo.
O estudo foi publicado pela revista Sleep Medicine Reviews em artigo que destaca o papel crucial que o sexo desempenha na compreensão desses fatores e sugere que o sexo biológico de uma pessoa deve ser considerado no tratamento do sono, do ritmo circadiano e de distúrbios metabólicos.
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O estudo aponta que as mulheres classificam a qualidade do sono como inferior à dos homens e relatam mais flutuações na qualidade do sono, correspondendo a mudanças ao longo do ciclo menstrual.
“A menor qualidade do sono está associada à ansiedade e aos transtornos depressivos, que são duas vezes mais comuns nas mulheres do que nos homens”, explicou em entrevista coletiva a pesquisadora Sarah L. Chellappa , da Universidade de Southampton e autora sênior do artigo.
“As mulheres também têm maior probabilidade do que os homens de serem diagnosticadas com insônia, embora as razões não sejam totalmente claras. Reconhecer e compreender as diferenças sexuais no sono e nos ritmos circadianos é essencial para adaptar abordagens e estratégias de tratamento para distúrbios do sono e condições de saúde mental associadas.”
Os autores do artigo também descobriram que as mulheres têm uma probabilidade 25% a 50% maior de desenvolver a síndrome das pernas inquietas e até quatro vezes mais probabilidade de desenvolver distúrbios alimentares relacionados com o sono, onde as pessoas comem repetidamente durante a noite.
Enquanto isso, os homens têm três vezes mais probabilidade de serem diagnosticados com apneia obstrutiva do sono. A apneia manifesta-se de forma diferente em mulheres e homens, o que pode explicar esta disparidade. Nas mulheres, está associada a um risco aumentado de insuficiência cardíaca, mas não em homens.
Estudos de laboratórios do sono descobriram que as mulheres dormem mais do que os homens, gastando cerca de 8 minutos a mais em sono não REM (Movimento Rápido dos Olhos), onde a atividade cerebral fica mais lenta. Embora o tempo que passamos em REM diminua com a idade, este declínio é mais substancial nos homens mais velhos. As mulheres também entraram no sono REM, caracterizado por altos níveis de atividade cerebral e sonhos vívidos, mais cedo do que os homens.
Variações nos relógios biológicos entre homens e mulheres
A equipe composta por mulheres pesquisadoras da Universidade de Southampton, no Reino Unido, e da Universidade de Stanford e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, descobriu que diferenças entre os sexos também estão presentes em nossos ritmos circadianos.
Eles descobriram que a melatonina, um hormônio que ajuda no controle dos ritmos circadianos e do sono, é secretada mais cedo nas mulheres do que nos homens. A temperatura corporal central, que atinge o seu máximo antes de dormir e o seu mínimo algumas horas antes de acordar, segue um padrão semelhante, atingindo o seu pico mais cedo nas mulheres do que nos homens.
Correspondendo a estas descobertas, outros estudos sugerem que os períodos circadianos intrínsecos das mulheres são cerca de seis minutos mais curtos do que os dos homens.
O pesquiador, da Universidade de Stanford, que liderou a revisão, afirma: “Embora esta diferença possa ser pequena, é significativa. O desalinhamento entre o relógio biológico central e o ciclo sono/vigília é aproximadamente cinco vezes maior nas mulheres do que nos homens. Imagine se o relógio de alguém funcionasse consistentemente seis minutos mais rápido ou mais lento. Ao longo de dias, semanas e meses, essa diferença pode levar a um desalinhamento perceptível entre o relógio interno e os sinais externos, como luz e escuridão.
“As interrupções nos ritmos circadianos têm sido associadas a vários problemas de saúde, incluindo distúrbios do sono, distúrbios do humor e comprometimento da função cognitiva. Mesmo pequenas diferenças nos períodos circadianos podem ter implicações significativas para a saúde e o bem-estar geral.”
Os homens tendem a ter cronótipos mais tardios, preferindo ir para a cama e acordar mais tarde do que as mulheres. Isto pode levar ao jet lag social, onde o seu ritmo circadiano não se alinha com as exigências sociais, como o trabalho. Eles também têm horários de descanso e atividades menos consistentes do que as mulheres no dia a dia.
Sono e impacto no metabolismo de homens e mulheres
A equipe de pesquisa também investigou se o aumento global da obesidade poderia estar parcialmente relacionado ao fato de as pessoas não dormirem o suficiente – com 30% das pessoas entre 30 e 64 anos dormindo menos de seis horas por noite nos Estados Unidos, com números semelhantes na Europa.
Houve grandes diferenças entre a forma como os cérebros das mulheres e dos homens responderam às imagens de comida após a privação de sono. As redes cerebrais associadas aos processos cognitivos (tomada de decisão) e afetivos (emocionais) foram duas vezes mais ativas nas mulheres do que nos homens. Outro estudo descobriu que as mulheres tinham uma ativação 1,5 vezes maior na região límbica (envolvida no processamento de emoções, formação de memória e regulação comportamental) em resposta a imagens de alimentos doces em comparação com os homens.
Apesar desta diferença na atividade cerebral, os homens tendem a comer mais do que as mulheres em resposta à perda de sono. Outro estudo descobriu que um sono mais fragmentado, demorar mais para dormir e passar mais tempo na cama tentando dormir estavam associados apenas a mais fome nos homens.
Tanto as mulheres como os homens que trabalham no turno da noite têm maior probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2, mas este risco é maior nos homens. Sessenta e seis por cento das mulheres que trabalham no turno noturno experimentaram alimentação emocional e outro estudo sugere que elas têm cerca de 1,5 vezes mais probabilidade de ter excesso de peso ou obesidade em comparação com as mulheres que trabalham no turno diurno.
Os investigadores também encontraram evidências emergentes sobre como as mulheres e os homens respondem de forma diferente aos tratamentos para distúrbios do sono e circadianos. Por exemplo, a perda de peso teve mais sucesso no tratamento de mulheres com apneia obstrutiva do sono do que de homens, enquanto as mulheres que receberam zolpidem (um medicamento para insônia) podem exigir uma dosagem mais baixa do que os homens para evitar sonolência prolongada na manhã seguinte.
Chellappa acrescenta: “A maioria das intervenções circadianas e do sono são um campo emergente com pesquisas limitadas sobre diferenças sexuais. À medida que compreendemos mais sobre como as mulheres e os homens dormem, as diferenças nos seus ritmos circadianos e como estes afetam o seu metabolismo, podemos avançar para cuidados de saúde mais precisos e personalizados, o que aumenta a probabilidade de resultados positivos.”