A primeira visita a Campo Grande em uma década faz parte da estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reverter a queda na popularidade, apontada por todos os institutos de pesquisa. Na JBS, o petista exaltou o “boom econômico”, como a queda da inflação, do desemprego e da volta do ganho real dos trabalhadores.
No discurso, o petista também mirou o principal adversário, Jair Bolsonaro (PL), a quem acusou de espalhar mentiras, mas não citou nominalmente o ex-presidente. “Não é possível governar o País com mentiras”, afirmou. “É preciso publicar um decreto que é proibido mentir. Quem mentir vai ser preso, a gente não pode viver subordinado à mentira”, bradou Lula.
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A visita a Campo Grande faz parte da mudança na estratégia do presidente para reverter a queda na popularidade. Na última pesquisa do Instituto Ranking Brasil Inteligência, realizada no início deste mês, 34% dos campo-grandenses avaliam a gestão do petista como ruim ou péssimo, contra uma aprovação de 30%.
Lula já teve dias melhores em Campo Grande após a posse como presidente da República. De acordo com o levantamento, apenas 18% dos eleitores acreditam na influência do petista na eleição municipal deste ano, enquanto 40% acham que Bolsonaro pode definir o voto no futuro prefeito.
Para reconquistar o eleitor, o presidente destacou os feitos durante a visita à unidade da JBS, que conseguiu ser habilitado para exportar para a China após uma luta de seis anos. O pedido foi feito em 2018, mas o gigante asiático só aprovou novas plantas neste ano. O presidente atribuiu a demora ao isolamento imposto ao País pelo antecessor.
Graças a habilitação, a JBS anunciou investimento de R$ 150 milhões para dobrar a produção, que passará de 2,2 mil para 4,4 mil bovinos abatidos diariamente, e duplicar o número de empregos, de 2,3 mil para 4,6 mil trabalhadores. Em Mato Grosso do Sul, a China habilitou seis novos frigoríficos para comprar carne bovina, suína e de aves.
O presidente destacou a queda na inflação e a volta do reajuste no salário mínimo acima da inflação. “A economia voltou a crescer, a inflação voltou a cair e a massa salarial voltou a crescer. Há três anos, 80% dos acordos salariais eram abaixo da inflação. Hoje, 87% dos acordos são acima da inflação”, destacou a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.
“O salário mínimo voltou a subir acima da inflação”, destacou. Simone também exaltou a queda da pobreza no Brasil. Ela disse que em um ano, 13 milhões de brasileiros deixaram a pobreza extrema.
O presidente disse que a indústria brasileira vendeu 3,8 milhões de carros em 2010, ano do seu último mandato. Em 2022, foram vendidos 1,9 milhão de veículos. “Já recuperamos um pouco no ano passado, com a venda de 2,3 milhões de carros, mas vamos chegar aos 3,8 milhões de novo”, profetizou Lula.
“Está acontecendo um milagre, a indústria automobilística voltou a anunciar investimentos”, afirmou. Lula disse que as grandes montadoras vão investir R$ 111 bilhões no Brasil até 2028. Ele rebateu os adversários que atribuem o crescimento a sorte do petista.
“Com sorte, um pouco de inteligência e assessoria competente, as coisas dão certo”, gabou-se o petista. De acordo com Simone, Lula deverá voltar ao Estado no segundo semestre de 2025 para inaugurar a ponte e o acesso, que terão investimentos de R$ 700 milhões.
Mentiras
Durante o discurso, Lula atacou a utilização dos grupos de aplicativos e as redes sociais. “A sociedade brasileira anda raivosa, parte de nós está virando algoritmo”, lamentou o petista. Na sua versão, a primeira coisa que o cidadão faz ao acordar não é olhar para a mulher ou o filho. “A primeira coisa é pegar o celular e ficar vendo bobagem para ele assistir, isso é o dia inteiro. Não existe mais a palavra bença. Eu sou da época em que a gente pedia benção para a mãe, o pai, para o tio”, disse.
“Todo mundo está conectado 24 horas por dia, as pessoas deixam de conversar”, criticou. Lula defendeu que as pessoas voltem a dialogar mais e dediquem menos tempo às redes sociais. O PT e o Governo perdem feio nas redes sociais para os grupos bolsonaristas. No entanto, ao fazer a crítica, Lula não citou o ex-presidente.
Indígenas
Lula ainda fez uma proposta ao governador Eduardo Riedel (PSDB) para solucionar o problema antigo dos guaranis kaiowá acampados às margens de uma rodovia em Dourados. Ele disse que o Governo federal topa pagar uma área definida pelo Governo estadual para acabar com a miséria dos indígenas.
“É preciso para que se recupere a dignidade daquele povo”, defendeu. “Riedel, você pode me telefonar a hora que encontrar a fazenda, que vamos comprar”, prometeu. “Vamos dar a dignidade que eles perderam por falta de trato e respeito com eles”, disse Lula.
Riedel aprovou a iniciativa e aplaudiu o presidente ao ouvir a proposta. Nas redes sociais, o governador afirmou que sempre defendeu essa proposta para acabar com o problema de falta de terra para os índios.
Lula já implementou projeto semelhante para solucionar dois problemas em Mato Grosso do Sul. Em Mato Grosso do Sul, o Governo federal comprou uma fazenda para realocar os produtores rurais e garantir a demarcação da reserva indígena Potrero Guaçu aos indígenas de Paranhos. A outra propriedade foi comprada em Dourados.
Polarização
Agora, com a polêmica envolvendo o bilionário Erlon Musk, dono da rede social X, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, a polarização entre a esquerda e o bolsonarismo voltou a ganhar vida no Brasil. O desafio de Lula será unir o País e conquistar os eleitores mais céticos que ainda não viram melhorias em seu Governo.