Celso Bejarano
Trama mandada pelo vereador em Campo Grande, Cláudio Serra, do PSDB, encarcerado desde a quarta-feira (3), por ele ter sido denunciado pelo Ministério Público Estadual “por prática de crimes contra a administração pública, a exemplo de corrupção, fraude à licitação e organização criminosa” era imposta como se os implicados nas violações fossem inimputáveis.
aOu seja, os envolvidos estariam livres para roubar dinheiro público e teriam a certeza de que nunca seriam punidos. Divagaram.
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Dois exemplos: uma servidora que tinha cargo de chefia na prefeitura de Sidrolândia, cidade 70 km distante de Campo Grande e onde foi aplicado todo o esquema de corrupção, montou, às pressas, a documentação de uma empresa, que nunca existiu com o intuito de vencer uma licitação promovida pelo município em questão no valor de meio milhão de reais.
Detalhe: o endereço do tal empreendimento era a casa onde a investigada morava com um filho menor de idade e os pais. E, nos papéis, indicava que a mãe dela seria a dona da empresa.
Numa outra ponta da investigação do MPE, é dito que o grupo chefiado pelo vereador seduziu ou corrompeu um estagiário que atuava no prédio da Promotoria de Justiça, justo onde ocorria a apuração acerca dos crimes praticados pelo vereador e seus comparsas.
Envolvidos no esquema ficavam sabendo como seguiam os passos das investigações.
Mãe “empresária”
Era 1º de dezembro do ano passado, data que a prefeita de Sidrolândia, Vanda Cristina Camilo, do PP, anunciou que, por meio de licitação contrataria uma empresa que negociasse material de pintura. A vencedora atenderia duas secretarias do município por período de um ano. Outro detalhe: em dezembro do ano passado, o MPE já investigava o vereador e sua turma.
Inclusive já havia deflagrado duas operações Tromper com a ideia de apreender documentos suspeitos e prender culpados por envolvimento no esquema de corrupção. Derradeiro detalhe: Vanda Camila, a prefeita, é sogra do vereador que foi preso.
Venceu o certame a empresa Carmo Comércio Varejista e Serviço de Manutenção Ltda. Daí o MPE comenta na denúncia: “Não bastasse tudo já demonstrado, novas investigações demonstram ser esta uma típica “empresa de fachada”, encenação criada para desviar dinheiro público, operada pela mesma organização criminosa aqui desbaratada”.
Segue a acusação:
“A natureza jurídica da empresa é Sociedade Empresarial Limitada e está registrada em nome de MARIA DO CARMO DE SOUZA, genitora da investigada ROBERTA DE SOUZA [que trabalhava como chefe na secretaria de Fazenda da prefeitura de Sidrolândia]. (…) A sede declarada da empresa é no endereço Rua Prudente Moraes, Bairro São Bento, em Sidrolândia.
No local não existe qualquer tipo de prédio comercial, ou escritório que caracterize funcionamento da empresa DO CARMO COMERCIO E SERVIÇO, e sim uma casa utilizada como residência por Maria do Carmo e sua filha ROBERTA DE SOUZA”. O MPE apurou, ainda, que Roberta de Souza é servidora pública da prefeitura municipal de Sidrolândia, detentora do cargo de chefe de setor, lotada na Secretaria de Fazenda, Tributação, Gestão Estratégica. Antes de eleger-se vereador em Campo Grande, Cláudio Serra, o detido, era o secretário de Fazenda, isto é, ex-chefe de Roberta, a filha da “empresária”.
“Ou seja, os investigados Cláudio Serra Filho [vereador] e Ricardo Rocamora Alves [empresário também implicado no esquema e preso], mesmo o primeiro tendo deixado o cargo de Secretário, e o segundo possuindo mandado de prisão em aberto, continuam atuando fraudulentamente no âmbito de licitações públicas da Prefeitura de Sidrolândia por meio de laranjas e de seus comparsas, alçando licitações que somadas alcançam valores milionários”, pontuou o GECOC (Grupo Especial de Combate à Corrupção).
À época que a empresa da mãe de Roberta venceu a licitação, Rocamora Alves era tido como foragido justamente por suspeitas de agir com o grupo do vereador, nas fraudes em licitações da prefeitura de Sidrolândia.
Para o MPE, Roberta, a ex-colega de trabalho do Cláudio Serra, na Secretaria de Fazenda, usou o nome da mãe para “montar” a empresa com a certeza de que venceria a licitação a mando do vereador.
Publicação da prefeitura, edição do Diário Oficial de 17 de janeiro deste ano, informou que a empresa da mãe da servidora, por vencer a licitação, estava apta a receber o valor de R$ 539.893,16.
Na quarta-feira (3) o vereador foi preso junto com outros sete comparsas. Roberta e a mãe empresária não foram detidas. Os investigadores do caso cumpriram mandado de busca na casa delas, que também servia como endereço da empresa de fachada.