A Lava Jato completou dez anos da deflagração de sua primeira fase no último dia 17 de março. Um dos personagens principais da operação, o ex-senador Delcídio do Amaral (PRD) chegou a fazer acordo de delação premiada em que implicou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Hoje o ex-petista é crítico da investigação que mirou a Petrobras.
Em 2015, Delcídio foi o primeiro senador preso no exercício do mandato desde a redemocratização do país. A prisão do então líder do governo Dilma Rousseff (PT) foi na sequência ratificada pelo Senado. Em 2016, seu mandato também foi cassado e ele se desfiliou do Partido dos Trabalhadores.
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Os infortúnios do senador cassado continuou anos depois, em 2022, quando foi condenado pela Justiça de São Paulo a pagar uma multa de R$ 10 mil a Lula por danos morais. Em sua delação, Delcídio acusou Lula de obstruir as investigações da Lava Jato.
Delcídio reclama da multa atrelada à delação e lembra que foi absolvido da acusação de obstrução de Justiça envolvendo o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e que os outros processos em trâmite migraram para a Justiça Eleitoral.
“Como é que eu vou pagar uma multa se eu tenho uma inocência julgada, daquela aberração jurídica? Que me julguem agora no Eleitoral, mas eu não tenho nada que ressarcir o erário”, disse Delcídio ao jornal Folha de S.Paulo, em reportagem publicada nesta quinta-feira (28).
Em fevereiro deste ano, o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal, chamou Delcídio de “um grande mentiroso”, devido ao conteúdo da delação que não foi comprovado. O ex-senador nega que tenha mentido.
“Já ouvi algumas pessoas falando que [a minha delação] foi mentira. Mentira não foi. Mas, se as instituições não conseguiram chegar documentalmente a isso, isso não é problema meu”, afirmou Delcídio à Folha.
Delcídio depôs no processo mais importante da Lava Jato, o do tríplex de Guarujá (SP), como testemunhas da acusação contra Lula. Trechos do relato foram usados na sentença do caso, expedida pelo então juiz Sergio Moro em 2017 e que levou o hoje presidente à prisão por 580 dias entre 2018 e 2019.
O ex-senador menciona o caso mensalão e defende a tese do domínio do fato (teoria utilizada no meio jurídico para punir o líder de uma organização pelo conhecimento de crimes).
“Como líder do governo, eu tinha conhecimento de como funcionava a máquina. Até as pedras do Palácio do Planalto sabiam das influências e as ações que ocorreram dentro de um projeto de alianças que foi construído”, diz ele, que presidiu a CPMI dos Correios, instaurada em 2005.
O ex-petista hoje diz que a Lava Jato criminalizou a política, com consequências para a democracia, quebrou empresas e destruiu empregos.
“Eu conhecia todas essas empresas da Lava Jato porque elas eram protagonistas nestes grandes projetos nacionais. Foram empresas que investiram em alta tecnologia, em formação de pessoal, e que não tinham projeto só no Brasil. Não eram empresas que assumiram obras por influência política, propina ou qualquer coisa. Eram empresas sólidas, com uma experiência gigantesca, copiadas internacionalmente”, afirma Delcídio.
Ele lembra que, no caso do mensalão, em 2005, o país viveu uma crise política, “mas não tivemos uma crise econômica, o que acabou acontecendo lamentavelmente com a Lava Jato”.
O ex-senador entende que a lei de 2013 que trata da delação premiada virou uma “jabuticaba” no Brasil e que, nos EUA, quando alguém comete alguma irregularidade, é o chefe ou dono da empresa que responde.
Após ser cassado pelo Senado, Delcídio não conseguiu vencer mais nenhuma eleição, mas pretende tentar mais uma vez este ano, como candidato a prefeito em Corumbá pelo PRD, partido do qual assumiu o comando neste ano.