Após 10 anos, os responsáveis pela cassação do ex-prefeito de Campo Grande Alcides Bernal se dividem entre aqueles que fracassaram nas urnas, os que tiveram sucesso nas eleições seguintes e os que conquistaram cargos na prefeitura e até no Governo do Estado.
Entre os 23 vereadores que, na madrugada de 13 de março de 2014, votaram para destituir o então prefeito do cargo, alguns acabaram ganhando destaque no ano seguinte, quando foi deflagrada a Operação Coffee Break, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
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As investigações do Ministério Público Estadual revelaram que Bernal havia sido vítima de um golpe, que não ficou restrito aos parlamentares que votaram na sua cassação. Um esquema de compra de votos, segundo o MPE, envolveu figurões da política sul-mato-grossense e influentes empresários, denunciados à Justiça.
A lista de réus tem o ex-governador André Puccinelli (MDB) e o ex-prefeito de Campo Grande Nelson Trad Filho (PSD). Aqui já aparece a disparidade entre sucesso e fracasso entre os acusados. Após deixar o comando do Governo do Estado, o cacique emedebista foi alvo da Polícia Federal na Operação Lama Asfáltica e fracassou nas tentativas de voltar à Governadoria.
Na disputa mais recente, Puccinelli não conseguiu chegar ao segundo turno na eleição ao governo de 2022. Atualmente, o ex-chefe do Parque dos Poderes vê seu MDB perder cada vez mais a influência que tinha outrora.
Nelsinho Trad, por sua vez, conseguiu um mandato de oito anos ao ser eleito senador da República, em 2018, e deve ser colocado à prova novamente ao tentar a reeleição em 2026.
Outra figura que foi promovida, nesta década que passou, é o vereador Carlos Augusto Borges (PSB), que hoje preside a Câmara Municipal de Campo Grande e busca um lugar para ser vice em candidatura à prefeitura. Carlão sucedeu, no comando do Legislativo, o colega João Rocha (PP), que até este mês era secretário de Governo da prefeita Adriane Lopes (PP), mas voltou à Casa para disputar a reeleição.
Na primeira eleição pós-cassação de Alcides Bernal, em 2016, entre os vereadores que tentaram a reeleição, apenas 11 tiveram sucesso. Alguns parlamentares avaliaram que as denúncias da Coffee Break tiveram papel fundamental para este resultado, mesmo os que acabaram livre de denúncias.
Presidente da Câmara na época em que a operação foi deflagrada, quando foi afastado, Mario Cesar não voltou a disputar eleições e passou a se dedicar ao cargo de auditor fiscal da Capital, tendo recentemente atuado por poucos meses como secretário de Governo de Adriane.
Outro ex-presidente do Legislativo, Flávio César Mendes de Oliveira (PSDB), hoje é secretário de Fazenda na gestão Eduardo Riedel (PSDB) e nunca mais se testou nas urnas após fracasso em 2016. Ambos respondem a ação na Coffee Break.
Outros réus da operação do Gaeco que caíram no ostracismo são os ex-vereadores Airton Saraiva e Valdecy Batista, o Chocolate. Esse último foi eleito como um dos mais fieis a Bernal, mas acabou votando pela cassação na noite do dia 12 para 13 de março de 2014.
Presidente e relator da CPI do Calote, respectivamente, Paulo Siufi (MDB) e Elizeu Dionízio (PSDB), conseguiram se livrar da denúncia na área criminal, mas não foram muito longe na política. Então deputado estadual, Siufi foi julgado e absolvido pelo Tribunal de Justiça, mas acabou caindo no ostracismo político, mesmo inocentado.
Elizeu Dionísio ficou livre de denúncia por decisão da Procuradoria-Geral da República, quando exercia mandato na Câmara Federal. Ele teve a denúncia arquivada pelo Supremo Tribunal Federal. No entanto, não conseguiu se reeleger como deputado federal nem voltar à Câmara em 2020. No MDB, ele foi derrotado ao conquistar apenas 1.410 votos.
Presidente da Comissão Processante, Edil Albuquerque perdeu a eleição seguinte, em 2016. Ele acabou indo para o ostracismo após uma carreira vitoriosa como presidente da Câmara Municipal, vice-prefeito e secretário municipal de Desenvolvimento Econômico. Na última eleição, ele obteve apenas 1.977 votos.
O ex-vereador Eduardo Romero (Rede) conseguiu seguir adiante na Câmara ao se reeleger em 2016, mas não teve a mesma sorte em 2020. No entanto, conseguiu se realocar na gestão Reinaldo Azambuja (PSDB), onde chegou a ser secretário de Cidadania e Cultura.
Além de João Rocha e Carlão, outros remanescentes da legislatura de 2013-2016 que atualmente exercem mandato na Câmara Municipal são os vereadores Jamal Mohamed Salem (MDB), Gilmar da Cruz (Republicanos) e Otávio Trad (PSD).
Fim trágico teve o ex-vereador Alceu Bueno, brutalmente assassinado, em setembro de 2016, vítima de latrocínio aos 55 anos. Também investigado pela Operação Coffee Break, Edson Kiyoshi Shimabukuro morreu em junho de 2023, aos 71 anos, de causas naturais.
Réu em diversos processos e com algumas condenações, o ex-prefeito Gilmar Antunes Olarte (sem partido) está com a carreira política praticamente sepultada. O sucessor de Bernal na prefeitura passou alguns meses na cadeia e agora cumpre pena de oito anos e quatro meses por corrupção e lavagem de dinheiro no regime aberto.
Na área cível, os promotores Adriano Lobo Viana de Resende e Humberto Lapa Ferri pediram a condenação de 22 pessoas e quatro empresas por improbidade administrativa. Além da perda dos bens e ficar inelegíveis por até 14 anos, eles podem ser condenados a pagar indenização por danos morais de R$ 25 milhões.
Também são réus os poderosíssimos empresários João Amorim e João Roberto Baird; o dono do jornal Midiamax, Carlos Eduardo Naegele; o advogado Luiz Pedro Guimarães; o pecuarista Raimundo Nonato de Carvalho; o procurador da Câmara e ex-secretário municipal de Planejamento, André Luiz Scaff; e as empresas CG Solurb, LD Construções, Proteco Construções e Mil Tec Tecnologia da Informação.
Na área criminal, o julgamento foi suspenso por determinação do Superior Tribunal de Justiça na véspera do início na 6ª Vara Criminal de Campo Grande.