O governador Eduardo Riedel (PSDB) determinou a retirada dos exemplares do livro “O avesso da pele”, do escritor Jeferson Tenório, das escolas da rede estadual de Mato Grosso do Sul. A medida foi tomada anteriormente no estado do Paraná e, mais recentemente, em Goiás. A obra foi incluída no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação, em 2022.
Em MS, o deputado estadual Professor Rinaldo Modesto (Podemos) encabeçou a manifestação contra o livro durante a sessão da Assembleia Legislativa na terça-feira (5). O parlamentar discursou sobre o “conteúdo inapropriado” e “pornográfico” da publicação e que recebeu “centenas de mensagens de pessoas indignadas com a distribuição nas bibliotecas”.
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A Secretaria Estadual de Educação divulgou, nesta quinta-feira (7), que por “determinação do governador Eduardo Riedel, e após avaliação da SED da obra “O Avesso da Pele”, distribuída pelo Ministério da Educação, haverá recolhimento imediato dos exemplares, enviados para 75 das 349 unidades escolares da Rede Estadual de Ensino de MS”.
“A medida se dá em função da linguagem utilizada em trechos do referido material, contendo expressões consideradas impróprias para a faixa etária da maioria dos estudantes atendidos pela REE (menores de 18 anos), com o uso de termos e jargões que inviabilizam a utilização pedagógica no ambiente escolar. Após o recolhimento, os livros serão encaminhados para o acervo da Secretaria de Estado de Educação”, justifica a Secretaria, em nota.
Na segunda-feira (4), um ofício do Núcleo Regional da Educação de Curitiba, da Secretaria de Educação do Paraná, determinou a entrega de todos os exemplares à sede do núcleo, até sexta-feira (8). Segundo o documento, a obra passará por análise pedagógica e posterior encaminhamento.
O autor
Em sua rede social, o autor do livro vencedor do Prêmio Jabuti 2021 na categoria Romance, divulgou a cópia do ofício paranaense e escreveu que nenhuma autoridade tem o poder de mandar recolher materiais pedagógicos de uma escola: “é uma atitude inconstitucional. É um ato que fere um dos pilares da democracia que é o direito à cultura e à educação. Não se pode decidir o que os alunos devem ou não ler com uma canetada.”
“São atos violentos e que remontam dias sombrios do regime militar. Inaceitável uma atitude antidemocrática como essa em pleno 2024. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura”, repudiou.
Em entrevista ao telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil, na terça-feira (5), Jeferson Tenório comentou outro episódio de censura ocorrido no final da semana passada.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, a diretora da Escola Estadual de Ensino Médio Ernesto Alves de Oliveira, de Santa Cruz do Sul (RS), Janaina Venzon, leu trechos do livro e classificou como lamentável o envio do material com “vocabulários de tão baixo nível” pelo governo federal.
Para Tenório, ambos os casos de cerceamento podem estar relacionados aos temas abordados na obra literária, como a violência policial, o racismo estrutural e críticas à precariedade da educação.
“Ele traz algumas cenas e algumas frases que são justamente utilizadas para agredir pessoas negras e periféricas. Essas frases e cenas que a [diretora Janaina] elencou são, na verdade, como as pessoas negras são vistas, como elas são sexualizadas, como elas são violentadas na sociedade.”
O escritor explicou que a descrição de cenas de agressão ou os palavrões citados não estão ali gratuitamente. “Eles estão acompanhados de uma reflexão sobre aquilo. E fazer esse tipo de crítica é subestimar a inteligência dos alunos. Porque os alunos também veem dentro de casa, eles também têm saberes, conhecimentos. Eles têm acesso à internet com conteúdos terríveis, sem nenhum tipo de reflexão. E a literatura e a arte fornecem, justamente, essa reflexão.”