A Operação Tiradentes, da Polícia Federal, teve como alvo, além do desembargador Divoncir Schreiner Maran, seus três filhos advogados, sua esposa, um ex-funcionário e sua assessora no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul. A investigação apura a suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por parte do ex-presidente do TJMS.
Os três filhos que receberam a visita dos policiais federais na quinta-feira (9) são Vânio Cezar Bonadiman Maran, Divoncir Schreiner Maran Junior, e Rafael Fernando Gehlen Maran. Sua esposa, Viviane Alves Gomes de Paula, que é servidora do Tribunal Regional Eleitoral, também é um dos sete alvos dos mandados de busca e apreensão.
Veja mais:
Com renda de R$ 7,8 mil, filho de desembargador movimentou R$ 1 milhão nove meses, diz PF
Afastados em menos de 6 anos, Divoncir e Tânia foram parceiros no TRE e têm mesmo juiz algoz
Ex-presidente do TJ é afastado do cargo e CNJ ouve testemunhas de processo disciplinar em abril
Além deles, o ex-funcionário do escritório de advocacia em que Divoncir e Vânio são sócios, Cristian Araújo, e a assessora do desembargador Gabriela Soares Moraes, completam a lista dos que estão na mira da PF. Os mandados foram autorizados pela ministra Maria Isabel Gallotti, do Superior Tribunal de Justiça, em 2 de fevereiro.
Divoncir Schreiner Maran teve três endereços vasculhados: seu gabinete no TJMS, um endereço no centro de Campo Grande e uma fazenda na zona rural do município de Bonito.
Para autorizar os mandados, a ministra do STJ considerou haver indícios suficientes de que os envolvidos estariam a participar da ocultação do patrimônio supostamente ilegal do ex-presidente do TJMS.
“Foram várias as movimentações financeiras atípicas identificadas. Possivelmente, o investigado valeu-se de seus familiares para ocultar ou dissimular ganhos ilícitos”, justificou a ministra Maria Isabel Gallotti.
A magistrada também autorizou o afastamento de Divoncir Maran de suas funções no Judiciário até o dia 6 de abril de 2024, data em que o desembargador completa 75 anos e se aposenta compulsoriamente. Ele também está proibido de frequentar a corte e manter contato com os demais investigados.
A Polícia Federal pediu a realização de busca e apreensão com o objetivo de encontrar documentos, contratos de gaveta, entre outros indícios de que o magistrado praticou os crimes de corrupção passiva e ocultação de patrimônio.
As revelações começaram a ser feitas a partir da quebra dos sigilos bancários do desembargador Divoncir Schreinar Maran, do advogado Rodney do Nascimento e do integrante do PCC, Gerson Palermo.
O ex-presidente do TJMS concedeu habeas corpus para o narcotraficante Gerson Palermo no dia 21 de abril de 2020. No feriadão de Tiradentes, o bandido rompeu a tornozeleira e fugiu. Até hoje a PF não tem pistas do narcotraficante.
Palermo é apontado como um dos maiores traficantes de cocaína por meio aéreo no Brasil, multireincidente e com condenações que somam 126 anos de reclusão. A domiciliar foi concedida levando em consideração o fato de o preso ser idoso e inserido no grupo de risco da Covid-19.
Divoncir é acusado de ter ignorado uma série de exigências legais para liberar Palermo, como não exigiu exames médicos, não esperou o pedido ser analisado pelo juiz de primeira instância e não considerou a periculosidade do narcotraficante.
No despacho da ministra Maria Isabel Gallotti, do Superior Tribunal de Justiça, é informado que uma das suspeitas para a corrupção passiva de Divoncir Maran é a proximidade de sua aposentadoria e o objetivo de “juntar dinheiro” para após pendurar a toga definitivamente.
Para advogado, só há suspeitas infundadas
Advogado do desembargador Divoncir Maran, André Borges afirmou que ainda não teve acesso ao inquérito policial. No entanto, ele destacou que não há nada de concreto envolvendo o habeas corpus concedido a Gerson Palermo no dia 21 de abril de 2020.
“Surpreende muito que nada de concreto e vinculado à decisão no habeas corpus foi apurado na investigação em curso. Apenas suspeitas infundadas e fatos antigos, que poderiam e serão esclarecidos”, destacou.
“Medida drástica como a adotada exigiria muito mais, nos termos da lei. Mais adiante surgirá o único resultado para isso tudo: arquivamento ou absolvição. Divoncir Maran, um homem agradável e de enorme coração, jamais merecia isso que estão fazendo com ele”, lamentou.