Com renda mensal declarada de R$ 7,8 mil, o advogado Vânio César Bonadiman Maran, filho mais velho do desembargador Divoncir Schreiner Maran, movimentou R$ 1 milhão em apenas nove meses. Os valores constam da quebra de sigilo bancário pela Polícia Federal na investigação aberta contra o magistrado após revogar a prisão do narcotraficante Gerson Palermo, condenado a 126 anos de cadeia.
Os detalhes constam do despacho da ministra Maria Isabel Gallotti, do Superior Tribunal de Justiça, que autorizou os mandados de busca e apreensão contra o ex-presidente do Tribunal de Justiça, a esposa e seus quatro filhos.
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Vânio é apontado como o principal operador financeiro do pai. De acordo com a investigação, ele declarou ter renda de R$ 7.887,50 por mês. Contudo, a quebra do sigilo bancário mostrou que o advogado movimentou R$ 1,074 milhão entre o dia 1º de junho de 2021 e março de 2022.
A análise feita pela Receita Federal mostrou que o primogênito foi o principal beneficiário dos recursos provenientes dos clientes das atividades rurais de Divoncir Maran, a agropecuária. Foram encontradas movimentações com despesas que não possuem vinculação direta com o desembargador.
A PF encontrou duas escrituras de imóveis em nome dos quatro filhos de Divoncir – Vânio, Divoncir Schreiner Maran Júnior, Rafael Fernando Ghelem Maran e Maria Fernanda Gehlen Maran. Uma das propriedades teria custado R$ 2 milhões e os policiais não encontraram rastros do suposto pagamento.
Outra suspeita é sobre a realização de depósitos fracionados por Vânio Maran, de valores sempre inferiores a R$ 50 mil para evitar a malha fina da Receita Federal. Ele teria feito R$ 175.560 em depósitos na sua conta bancária. Outros 243 depósitos fracionados foram realizados por terceiros.
O filho Rafael Fernando é dono do Rancho Jatobá, que teria feito movimentações financeiras sob investigação. A PF apontou, conforme Isabel Gallotti, que não encontrou rastros de movimentações financeiras da propriedade em 2020.
As revelações começaram a ser feitas a partir da quebra dos sigilos bancários do desembargador Divoncir Schreinar Maran, do advogado Rodney do Nascimento e do integrante do PCC, Gerson Palermo.
Após a primeira análise, a PF pediu a ampliação da quebra do sigilo bancário para a esposa do magistrado, Viviane Alves Gomes de Paula, dos quatro filhos, da assessora Gabriela Soares Moraes e de Cristian Araújo.
A Polícia Federal pediu a realização de busca e apreensão com o objetivo de encontrar documentos, contratos de gaveta, entre outros indícios de que o magistrado praticou os crimes de corrupção passiva e ocultação de patrimônio.
Além dos mandados de busca e apreensão, a ministra do STJ determinou o afastamento de Divoncir Shcreiner Maran do cargo até o dia 6 de abril deste ano, quando ele se aposenta compulsoriamente. No entanto, ele continuará proibido de frequentar a corte e manter contato com os demais investigados.
Para advogado, só há suspeitas infundadas
Advogado do desembargador Divoncir Maran, André Borges afirmou que ainda não teve acesso ao inquérito policial. No entanto, ele destacou que não há nada de concreto envolvendo o habeas corpus concedido a Gerson Palermo no dia 21 de abril de 2020.
“Surpreende muito que nada de concreto e vinculado à decisão no habeas corpus foi apurado na investigação em curso. Apenas suspeitas infundadas e fatos antigos, que poderiam e serão esclarecidos”, destacou.
“Medida drástica como a adotada exigiria muito mais, nos termos da lei. Mais adiante surgirá o único resultado para isso tudo: arquivamento ou absolvição. Divoncir Maran, um homem agradável e de enorme coração, jamais merecia isso que estão fazendo com ele”, lamentou.