As investigações da Operação Sanctus, da Polícia Federal, apontam relações “fortemente documentadas” entre o Comando Vermelho e os irmãos Ronaldo Mendes Nunes, 40 anos, e Hermógenes Aparecido Mendes Filho, 49, no tráfico internacional de drogas entre Brasil e o Paraguai. A facção criminosa utilizava galpão dos acusados para armazenar entorpecentes e endereços da dupla.
Considerado uma das principais lideranças do Comando Vermelho, Jorge Teófilo Samudio Gonzalez, o Samura, mantém registrado na Secretaria Nacional de Trânsito o mesmo endereço domiciliar de Aparecido Mendes e sua família. O líder do CV foi preso em 2021 após a descoberta de participação no plano de assassinato de um policial rodoviário federal em Dourados.
Veja mais:
Deputado paraguaio “resgatou” e teria ajudado traficante de Dourados a fugir da Polícia Federal
Justiça revoga prisão domiciliar de advogada filha de promotor acusada de tráfico
Decretada prisão preventiva de irmãos chefes de esquema ligado ao tráfico em Dourados
À época, Samura era um dos criminosos mais procurados do Paraguai e foi detido em Sinop, no norte de Mato Grosso. Apesar de residirem no interior de Mato Grosso do Sul, os irmãos Mendes são de Capitán Bado, cidade paraguaia vizinha de Coronel Sapucaia, assim como Jorge Teófilo Samudio.
Decisão da 3ª Vara Federal de Campo Grande, publicada na segunda-feira (29), relata a relação íntima entre a dupla de Dourados e a facção criminosa do Rio de Janeiro, em parceria que remonta ao ano de 2014.
“A representação da autoridade policial e a decisão proferida trazem uma análise cronológica e enredada acerca dos veementes indícios de associação criminosa, que advêm desde meados de 2014 até a presente data”, diz o despacho
“Um desses elementos, claramente identificado, é o endereço da Rua Jaime Cândido Lobo, 3060, em Dourados/MS, o qual, em conjunto com os demais, sugere vinculação entre pessoas ligadas aos delitos de tráfico de drogas”, prossegue.
“Ocorre que não apenas o núcleo familiar de APARECIDO MENDES mantinha esse endereço como domicílio em seus cadastros. Diversas pessoas investigadas e/ou envolvidas em atividades criminosas também declinaram publicamente o mesmo imóvel como seu domicílio em muitas ocasiões”, completa.
“Inclusive, possuem ligação fortemente documentada com a facção criminosa CV (“Comando Vermelho”), que, aparentemente, utilizava da estrutura de galpão, qual mencionado, para exportar a droga recebida dos irmãos MENDES”, relata a decisão.
Através de quase uma década, diversas apreensões de drogas e dinheiro contribuíram para traçar a linha que une a organização criminosa liderada pelos irmãos a facções criminosas.
Os acusados foram flagrados transportando R$ 1,2 milhão em dinheiro do Paraguai ao Brasil escondidos em pneus de um caminhão. O mesmo método foi usado há dez anos para traficar 110 kg de cocaína que acabaram apreendidos.
Em 2019, na Operação Kratos, um motorista foi flagrado com 468 kg de cocaína. Os anos se passaram e as apreensões se acumularam, sendo que a última, antes da desarticulação da organização criminosa ocorrer, foram confiscados 140 kg de entorpecentes. O tráfico rendeu uma renda milionária aos enviados, cujo valor total não foi calculado, uma vez que as investigações seguem em andamento.
Além da utilização do poderio de uma das facções mais influentes do Brasil, os irmãos Mendes ainda contam com a proteção de um político paraguaio que teria ajudado Ronaldo Mendes Nunes a fugir da Polícia Federal, quando foi deflagrada a Operação Sanctus.
“Como exemplo, pode-se constatar que o seu irmão, RONALDO MENDES NUNES, encontra-se foragido, tendo sido “resgatado” por autoridade legislativa paraguaia”, informa a 3ª Vara Federal de Campo Grande.
Segundo a Polícia Federal, Ronaldo segue foragido, sem notícia de que tenha voltado ao Brasil, evitando o cumprimento do mandado de prisão temporária expedido pela Justiça brasileira.
Operação Sanctus
De acordo com a Polícia Federal, as investigações começaram em outubro e identificaram os dois irmãos de Dourados com histórico de ligação em apreensões de drogas e lideranças de facções criminosas.
O grupo comandado pela dupla escondia drogas em pneus de caminhões de carga para despachar de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, para o interior do Paraná. Na sequência, a carga tinha o Rio de Janeiro como destino. Este método de operação estaria em utilização desde meados de 2014.
Os investigados utilizavam uma rede de pessoas e empresas para lavar o dinheiro do tráfico e faziam os depósitos em dinheiro vivo em terminais de autoatendimento. O esquema contava ainda com a ocultação patrimonial de empresas e imóveis com propriedade em nome de “laranjas” e “testas de ferro”.
Entre os envolvidos está a advogada Cristiane Maran Milgarefe da Costa, presa no dia da operação. Ela é apontada como amante de Hermógenes Aparecido e teria participado tanto das tratativas de transportes de drogas e pagamentos, além de ser ter seu nome utilizado na ocultação de bens e lavagem de dinheiro.
Cristiane teve revogada sua prisão domiciliar, mas com utilização de tornozeleira eletrônica, em decisão da 3ª Vara Federal de Campo Grande, publicada em 11 de janeiro. Os irmãos Aparecido e Ronaldo tiveram a prisão preventiva decretada no último dia 5 de janeiro.
A Justiça também autorizou a prorrogação por mais 30 dias das investigações da Operação Sanctus, para análise de documentos e eventuais diligências ainda em curso.
“Anote-se que a autoridade policial deverá dar prioridade às diligências ainda pendentes, dada a prioridade de tramitação do presente feito (RÉU PRESO)”, diz a decisão.