A Arquidiocese de São Paulo arquivou a denúncia requentada de 2020 contra o padre Júlio Lancellotti baseada em vídeo com conteúdo sexual envolvendo um adolescente. A falsa acusação voltou a circular nas redes sociais no último fim de semana e foi compartilhada pelo deputado federal Rodolfo Nogueira (PL) e pelo vereador de Campo Grande Tiago Vargas (PSD).
Apesar de não haver denúncia formal à Justiça ou inquérito policial contra Lancelotti, Rodolfo, também conhecido como Gordinho do Bolsonaro, foi categórico ao afirmar que o padre cometeu crime. No entanto, a igreja considerou não haver “materialidade” na acusação e cita parecer do Ministério Público, que também arquivou a denúncia há quase quatro anos.
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Em nota divulgada na tarde de terça-feira (23), a liderança da Igreja Católica em São Paulo afirma que manteve a decisão tomada em 2020, quando o mesmo vídeo foi analisado.
“Distante de interesses ideológicos e políticos, com serenidade e objetividade, a Cúria Metropolitana de São Paulo permanece atenta a ulteriores elementos de verdade sobre os fatos denunciados”, diz a nota.
A decisão foi informada ao Vaticano, segundo a Arquidiocese.
A apuração da Arquidiocese se baseava em um vídeo enviado na segunda-feira (22) pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, o vereador Milton Leite (União Brasil). A gravação, sem autenticidade comprovada, retrata um homem se masturbando.
Na ocasião, a denúncia foi feita pelo então candidato à prefeitura Arthur do Val, conhecido como Mamãe Falei, mas a Arquidiocese não encontrou indícios de crime.
Os atuais ataques foram motivados por uma matéria da Revista Oeste, conhecida por ser atrelada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que usou o laudo de uma perícia para “comprovar” a veracidade de uma denúncia de pedofilia contra o padre Júlio. Logo depois da publicação no sábado (20), foi revelado que os peritos, pai e filha, participaram de atos golpistas em frente a quartéis do Exército.
A denúncia foi resgatada agora em meio a pressão de bolsonaristas para instaurar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, que tem como um dos principais alvos o padre, apontado pelo grupo como “esquerdista”.
Leia a íntegra da nota da Arquidiocese de SP:
“A Arquidiocese de São Paulo, mediante ofício enviado por e-mail ao vereador Milton Leite, presidente da Câmara Municipal de São Paulo, no dia 6 de janeiro, protocolado na Câmara Municipal no dia 8 sucessivo, solicitou-lhe que fosse enviado o material referente à suposta denúncia contra o Padre Júlio Renato Lancellotti.
Finalmente, na tarde do dia 22 de janeiro, o material foi entregue na Cúria Metropolitana de São Paulo. Tomado conhecimento do material recebido, constatou-se que se trata do mesmo conteúdo divulgado em 2020. Naquela ocasião, a Cúria Metropolitana de São Paulo, conforme prescreve as normas da Igreja para esses casos, realizou um procedimento investigativo para apurar a denúncia recebida.
Concomitantemente, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) passou a investigar a dita denúncia, conforme inquérito aberto junto ao Setor de Atendimento de Crimes da Violência contra Infante, Idoso, Pessoa com deficiência e Vítima de tráfico interno de pessoas.
O MPSP, considerando ausência de materialidade, a seu tempo, emitiu parecer contrário à instauração de uma ação penal, acompanhado pelo D. Juiz que decidiu pelo arquivamento do inquérito.
A Arquidiocese de São Paulo, não chegando à convicção suficiente sobre a materialidade da denúncia e considerando as conclusões do MPSP, bem como da Justiça Paulista, também decidiu pelo arquivamento e informou a Santa Sé.
Distante de interesses ideológicos e políticos, com serenidade e objetividade, a Cúria Metropolitana de São Paulo permanece atenta a ulteriores elementos de verdade sobre os fatos denunciados.”