A extrema-direita voltou à carga contra o padre Júlio Lancelotti neste fim de semana. Uma denúncia requentada de 2020 foi o pretexto usado para atacar o religioso conhecido por ajudar usuários de drogas em situação de rua. De Mato Grosso do Sul, o deputado federal Rodolfo Nogueira (PL) e o vereador de Campo Grande Tiago Vargas (PSD) decidiram embarcar na nova ofensiva.
Os ataques foram motivados por uma matéria da Revista Oeste, conhecida por ser atrelada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que usou o laudo de uma perícia para “comprovar” a veracidade de uma denúncia de pedofilia contra o padre Júlio. Logo depois da publicação no sábado (20), foi revelado que os peritos, pai e filha, participaram de atos golpistas em frente a quartéis do Exército.
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O perito Reginaldo Tirotti, em suas redes sociais, compartilha fotos e vídeos em atos em apoio a Bolsonaro, publicações favoráveis à legalização do porte de armas e contra as urnas eletrônicas.
A perícia audiovisual contra Lancellotti, sem qualquer valor jurídico, foi contratada pelo vereador de São Paulo Rubinho Nunes (União Brasil) e divulgada pela Revista Oeste para comprovar a veracidade de um vídeo, supostamente gravado em 26 de fevereiro de 2019, por um menor de idade, que expõe cenas sexuais atreladas ao padre.
No relatório da perícia, com 81 páginas, Tirotti e sua filha Jacqueline Tirotti utilizaram “exames prosopográficos”, que identificam características faciais e do ambiente, para sustentar que o protagonista das imagens seria Lancellotti.
Suposto perito usado pela Revista Oeste para alegar que vídeo de Júlio Lancellotti com cenas sexuais e menor de idade é verdadeiro, alega nas redes sociais que é jornalista, mas usa registro de entidade não oficial. Ele também participou de atos bolsonaristas na frente de quartel pic.twitter.com/AfkQQQ5huq
— Renato Souza (@reporterenato) January 20, 2024
No entanto, quando a gravação veio à tona pela primeira vez, há quatro anos, logo foi apontado que o conteúdo do vídeo tinha adulterações e as investigações foram arquivadas.
Em julho de 2022, a revista piauí publicou uma reportagem (clique aqui para ver) em que dois ex-integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL) revelaram que o vídeo era uma armação para incriminar o pároco no crime de pedofilia.
Em 2020, um denunciante anônimo enviou à polícia um vídeo em que um suposto adolescente de 16 anos trocava mensagens de cunho sexual com um suposto perfil do padre. O golpe era parte da estratégia de impulsionar a candidatura do youtuber Arthur do Val à prefeitura de São Paulo.
Desde então, o vídeo volta à tona para tentar manchar a imagem do padre Júlio Lancelotti. A denúncia foi resgatada agora em meio a pressão de bolsonaristas para instaurar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs, que tem como um dos principais alvos o padre, apontado pelo grupo como “esquerdista”.
Repercussão
O histórico a respeito do vídeo foi ignorado pelo vereador Tiago Vargas, um dos primeiros a compartilhar a matéria da Revista Oeste. O parlamentar de Campo Grande tem nas costas uma condenação a um ano e três dias de detenção por difamação e calúnia por ter chamado o ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB) de “corrupto” e “canalha” em julho de 2021. Ele recorre da sentença.
“Só compra esse padre quem não o conhece; hoje em dia sinto vergonha de falar que por três anos fui seminarista”, publicou Vargas, no último sábado (20).
ISSO A GLOBO NÃO MOSTRARÁ, CNBB ABAFARÁ O CASO, VATICANO 🤐🤐🤐🤐
Só compra esse padre quem não o conhece; hoje em dia sinto vergonha de falar que por três anos fui seminarista. pic.twitter.com/BUzhbgwM3D
— Tiago Vargas MS 🙌🏻🇧🇷🙏🏻 (@tiagovargasms) January 20, 2024
“Quem ficou com dó é só levar o “santo padre” da esquerda para sua casa e deixar ele com seus filhos, netos, sobrinhos. Até agora nada da GLOBO, CNBB, VATICANO falarem sobre esse escândalo”, completou.
ESQUECEU DE FALAR DAS CRIANÇINHAS, CHATO ISSO!
Quem ficou com dó é só levar o “santo padre” da esquerda para sua casa e deixar ele com seus filhos, netos, sobrinhos. Até agora nada da GLOBO, CNBB, VATICANO falarem sobre esse escândalo 🤷🏻🤷🏻🤷🏻🤷🏻 pic.twitter.com/5X1JvgQH4B
— Tiago Vargas MS 🙌🏻🇧🇷🙏🏻 (@tiagovargasms) January 20, 2024
O jornal O Estado de S.Paulo, por sua vez, contratou uma análise do especialista Mario Alexandre Gazziro, professor adjunto de Engenharia da Informação da Universidade Federal do ABC (UFABC), que afirma que as imagens foram geradas por meio de inteligência artificial (clique aqui para ver).
O deputado federal Rodolfo Nogueira (PL) foi mais incisivo em seu comentário. Apesar de não haver denúncia formal ou inquérito contra Lancelotti, o Gordinho do Bolsonaro afirma que o padre cometeu crime.
“Asqueroso!!! O padre da teologia da libertação, queridinho da esquerda, se masturba em vídeo para menores de idade. Que a CPI avance em São Paulo e que nenhum ministro venha interferir. A CADEIA LHE ESPERA!”, declarou o parlamentar.
Asqueroso!!!
O padre da teologia da libertação, queridinho da esquerda, se masturba em vídeo para menores de idade.
Que a CPI avance em São Paulo e que nenhum ministro venha interferir.
A CADEIA LHE ESPERA! pic.twitter.com/LtMnFzw3ir— Rodolfo Nogueira (@rodolfoms) January 20, 2024
Segundo a reportagem da Revista Oeste, os materiais serão enviados para análise da Arquidiocese de São Paulo.
A igreja diz que não recebeu as informações sobre acusações feitas contra o padre Julio nos últimos dias. E afirma que esperará que isso seja feito para que “possa ser cumprido o que estabelece a norma”.
“A Arquidiocese lamenta não ter sido informada devidamente sobre tal assunto e que o mesmo seja instrumentalizado politicamente”, declarou a igreja ao site Poder 360.
Defensores do padre Júlio Lancelotti também compartilharam comentário do jornalista Alexandre Putti, que afirma ter recebido a denúncia contra o padre em 2019 e a avaliação foi de que o vídeo era falso.
