Mário Pinheiro, de Paris
Quando a disgraça chega, o vento muda de direção, a enchurrada encharca ruas, desce ladeiras, lava barrancos, leva barracos, arrebata pobres, derruba casebres, escancara a miséria de qualquer cidade, bairro ou país sem nenhum vínculo com a biodiversidade e o cemitério, feliz da vida, arreganha suas portas pra receber os defuntos os naufragados. Nos apartamentos suntusos, condomínios protegidos por guaritas cheias de câmeras e segurança privada se escondem os parlamentares com a boca cheia de dentes a saborear whiskey envelhecido, a rir entre os dentes que seguram um charuto de qualidade.
Eles possuem auxílio combustível, auxílio dentista, auxílio saúde, auxílio paletó, auxílio moradia, “verba de gabinete”, ajudas de custo, auxílio viagem de avião e quando recebem a subvenção gorda para seus Estados, desviam uma parte pra compra de fazenda, gado ou aplicar no imobiliário. Eles ainda encontram tempo pra formar os grupelhos da “bancada da bala” e o “gabinete do ódio”. A sedução política vem sempre abraçada de uma traição, pois os políticos trocam de partidos como uma criança troca de fraudas. Aliás, crianças são inocentes e sujam a frauda conforme pede o corpo, mas um parlamentar que suja por onde passa, esquece de usar a massa cinzenta ou apela para rachadinhas para compor um ganho robusto capaz de pagar uma mansão.
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Entre os 81 senadores e 513 deputados com um custo exorbitante há exceções, pessoas sérias e comprometidas na melhoria da nação, mas uma grande parte é parasita. O parasitismo não se resume aos que residem em Brasília, é geral. O salário do deputado federal é de 41.650,92 reais e vai aumentar em fevereiro a 44.008,52. Francamente, eles são muito bem pagos pra fazer tão pouco pela massa proletária. O paradoxo é que o povo precisa deles, mas ambos passam, se cruzam, mas não se olham. É um paradigma sem resposta nem reflexão. Eles falam de pobres, de classe desfavorecida, fazem de conta de ter abraçado o humanismo, mas é puro faz de conta.
Há parlamentares que jamais apresentaram um projeto, e, no entanto, se reelegem. O parlamentar que é palhaço, faz rir seu público, não domina a retórica, mas garante sua cadeira a cada eleição. O eleitor ri do palhaço e acaba por achar que a Câmara federal é uma latrina ou o circo. Ou o curral eleitoral é banhado de confetes por aquele que vive a prometer, ou são idiotas que não mudam de canal. Mas o Brasil tem um regime democrático e qualquer cidadão pode se candidatar.
A política seduz. Seduz pelo tempo que passam a fazer nada ou a votar contra o bem estar do povo. O governo passado não aumentou o salário mínimo, não segurou o rojão da inflação e foi passear de jet-ski enquanto a pobretada se debatia, bebia água suja e morria afogada. A sedução é algo refletido e estudado por Freud num modelo de desenvolvimento cujo objetivo era explicar a gênese do aparato, com base no relacionamento inter-humano na concepção tradicional entre o conflito da razão e a paixão.