Apesar da longa lista de irregularidades ambientais na fazenda onde foi rodado “Terra e Paixão”, a família Rocha, dona de um império de terras que inclui a propriedade rural que aparece na novela da TV Globo, ficou conhecida em Mato Grosso do Sul por denúncia de sonegação fiscal: o caso Campina Verde.
Conforme reportagem do site “De Olho nos Ruralistas – Observatório do Agronegócio no Brasil”, Aurélio Rocha, seu pai Nilton Rocha Filho e seu irmão Nilton Fernando Rocha foram presos em 2006 por sonegação fiscal de pelo menos R$ 79 milhões, durante a administração de Zeca do PT. Depois de doze anos de processo, somente um deles foi condenado: Aurélio.
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Na época, o grupo familiar se chamava Campina Verde. Em fevereiro de 2020, no início da pandemia, a empresa passou a se chamar Valor Commodities e os acusados pelas fraudes deixaram de ser sócios para a entrada de Lelinho e de seu primo, Nilton Fernando Rocha Filho. O comando, no entanto, continuou nas mãos de Aurélio e Nilton Fernando. Lelinho é Aurélio Rolim Rocha, em nome de quem está registrada a Fazenda Anallu, localizada em Deodápolis e onde foi gravado “Terra e Paixão”.
Segundo a reportagem, o grupo controla 50 mil hectares em Mato Grosso do Sul, onde são cultivados soja e milho. O império de terras se espalha por Deodápolis, Nioaque, Porto Murtinho, Caracol, Corumbá e Douradina.
Nesta parte, o texto compara ficção e realidade, com menção a Antonio La Selva, o vilão que traz as iniciais ALS gravada nas roupas e que gosta de se gabar de ter latifúndio. “Isso tudo que vocês estão vendo é meu”, esclarece o personagem sobre a extensão do seu patrimônio.
Na primeira reportagem da série, “De Olho nos Ruralistas” mostrou o histórico de desmatamento em Reserva Legal e degradação de Área de Preservação Permanente (APP) na Fazenda Annalu, constatado em 2019 por uma vistoria realizada pelo Ministério Público do Mato Grosso do Sul (MPMS).
O segundo capítulo cita que também há irregularidades ambientais em outras fazendas, além de explicitar relações políticas da família Rocha e relembrar o caso Campina Verde.
“A violação mais antiga data de 2000, quando Nilton Rocha Filho, avô de Lelinho, o atual proprietário da Fazenda Annalu, recebeu três autuações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatar 194 hectares de uma reserva florestal no município de Dourados (MS). Dos R$ 364 mil em multas aplicados pelo órgão, o fazendeiro quitou R$ 160 mil. A principal autuação, de R$ 200 mil, foi baixada após deferimento da defesa. A infração menor, de R$ 4 mil, foi cancelada após análise jurídica”.
“As irregularidades ambientais se multiplicam. Em Dourados (MS), um inquérito civil foi instaurado pelo MPMS para apurar o desmatamento de “todas as áreas de preservação permanente e de Reserva Legal” da Fazenda Miya. Segundo a denúncia, o proprietário do imóvel seria Nilton Rocha Filho, mas foram citados como possíveis beneficiários do desmate o ex-governador Zeca do PT e o deputado estadual Zé Teixeira (PSDB)”.
“Em 2015, Nilton Rocha Filho recebeu nova autuação do Ibama. Desta vez, o patriarca havia deixado de cumprir determinação do órgão ambiental que exigia medidas de controle para cessar a degradação ambiental na Fazenda Vaca Mocha, localizada no município de Caracol (MS), a 360 quilômetros de distância de Deodápolis, na região da Bodoquena, uma importante zona de transição ecológica entre o Cerrado e a Mata Atlântica”.