Mário Pinheiro, de Paris
Não podemos colocar os evangélicos todos no mesmo saco porque existe diferenças e opções que não concernem certos braços históricos como, por exemplo, um pequeno grupo de batistas, luteranos e congregações que jamais ignoraram manter o diálogo inter-religioso com católicos e religiões de raiz africana.
O pior no mundo dos evangélicos veio com Edir Macedo, em 1977, com a invenção da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Em seu bojo veio também o neopentacostalismo. A compra de horários em emissoras de rádio, jornais impresso e televisão fez o bolo da corrupção crescer sem fermento, mas com influências que marcaram o populismo do mundo evangélico.
Há estudiosos da sociologia da religião como André Corten, Marion Aubrée, Ricardo Mariano e Jean-Pierre Bastian que discernem a música que soa entre pastores dominantes de um número incalculável de fiéis que hoje podem até eleger a cargos políticos pessoas sem nenhum compromisso com o social de fato.
Corten chega a dizer que a IURD é um tumor no meio dos crentes, uma infecção generalizada no meio dos evangélicos e que a identidade evangélica desta igreja é mesmo questionada. É como se fosse uma moda que envolve tanto a classe abastada, burguesa, quanto os pobres que se enchem de orgulho por doar o que pode e por poder bater no peito, como um fariseu, “sou da universal”.
O presidente da fraternidade teológica latino-americana afirma que a IURD não é nem evangélica, nem protestante, mas apenas uma nova religião cujo slogan deu certo e enriqueceu seu inventor.
No absurdo deste notável pseudosentimento evangélico está a intolerância contra minorias e homossexuais, num protótipo neopentecostal que julga pelo estereótipo a começar pelos eleitores de esquerda, frequentemente taxados de comunistas. Por falar de comunista, a teologia da prosperidade dos evangélicos é a forma de enganar os fiéis a doarem para se tornarem donos do capital.
As proibições do álcool, do tabaco e a moral sexual caem na hipocrisia. As outras igrejas que se denominam evangélicas e carregam a verdadeira identidade de fidelidade ao Evangelho acabam por subsistir às transformações e aberrações.
Uma grande parte de evangélicos quis protestar e manifestar na frente dos quartéis. Mas o tempo do absurdo, das sombras, de caduquice juvenil e senilidade adiantada passou, quebrou suas asas no canto do hino nacional ao pneu, na quebradeira dos três poderes e num ensaio de golpe mal seguido, mal ensaiado, sem pé nem cabeça, mas encaixado numa fantasia religiosa.
O perigo está na má formação de quem se alinha ao maniqueísmo claramente de extrema direita e se nega a enxergar a realidade. Existe aí uma mistura de ignorância e teimosia em dose dupla. Podemos também chamar isso de pura alienação e fanatismo. Fanatismo pelo tosco, brusco, iletrado e bocudo.
O absurdo pousa na tentativa de populismo religioso aliado ao nacionalismo evangélico. De maneira equivocada, ou errônea, finca-se o pé e a cabeça numa ideologia que atende o que Max Weber chamou de alienação da fé.