A obra milionária da revitalização não evitou a crise causada pelos novos tempos no comércio do Centro de Campo Grande. Cerca de 200 lojas fecharam as portas ao longo dos anos e substituíram as ruas lotadas como marca das compras de fim de ano. O desânimo tomou conta dos lojistas, que não realizam há sete anos a tradicional campanha de distribuição de prêmios.
A maior frustração do empresário foi a obra de Revitalização do Centro, com investimento de US$ 56 milhões (o equivalente a R$ 277 milhões). A revitalização deixou a Rua 14 de Julho mais agradável, mas sem estacionamento e encareceu os alugueis. Sem alternativa, muitos estabelecimentos fecharam as portas ou abandonaram a região central da Capital.
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Em outubro do ano passado, o Campo Grande News contou 181 lojas fechadas nas ruas 14 de Julho, 13 de Maio, Rui Barbosa, Barão do Rio Branco e Maracaju. O maior número de prédios vazios estava justamente na 14 de Julho, a vitrine da revitalização, com 47 lojas fechadas.
A Associação Comercial e Industrial de Campo Grande admite a crise. “O Centro de Campo Grande sofre com uma situação já observada em outras capitais, quando os bairros crescem e comportam comércios locais que trazem conveniência para o consumo da população no próprio bairro ou em bairros mais próximos a sua residência. Evitando ir para o centro da cidade para ter acesso a serviços e produtos”, contou a entidade, em nota sobre a agonia do comércio central.
A tradicional campanha de Natal foi realizada pela última vez em 2016. No final de 2023, apenas os shoppings sortearam carros de luxo para atrair o cliente. Além do ar condicionado, do estacionamento e do conforto, os centros comerciais ganharam mais um ponto para elevar as vendas de Natal.
A falta de estacionamento é um dos principais gargalos. A prefeitura acabou com o estacionamento ao longo da Avenida Afonso Pena. A revitalização eliminou a maior parte das vagas na Rua 14 de Julho. O corredor do transporte coletivo foi a última pá de cal ao fechar mais vagas na Rua Rui Barbosa.
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Adelaido Vila, confirma o diagnóstico. Ele acrescenta ainda o alto preço do estacionamento no Centro. As taxas absurdas levam ao cidadão a sensação de que está sendo extorquido na hora de estacionar o veículo no Centro. Sem o parquímetro, desativado desde o início de 2022, a situação ficou ainda pior.
Presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas, Adelaido Vila acompanha a crise há muito tempo. “Tudo inicia com o fim do transporte de pessoas através da ferroviária. Depois a desativação da rodoviária antiga”, começa, sobre a retirada do grande fluxo de passageiros do transporte intermunicipal e interestadual da região central.
Depois, conforme o secretário, apareceu a Lei da Cidade Limpa, uma das principais bandeiras da gestão de Nelsinho Trad (PSD), que se inspirou no projeto de Gilberto Kassab em São Paulo. A retirada das fachadas nas centrais, como a Rua 14 de Julho, foi ajudando a espantar a clientela.
Para Vila, o Reviva Centro teve dois anos de obras na Rua 14 de Julho e secundárias. “Trouxe beleza para o local, mas muitos empresários não aguentaram (esperar tanto tempo para colher os frutos)”, explicou.
“Após dois meses da inauguração a chegada da Pandemia”, enumerou. De acordo com o secretário, durante a covid-19, houve um avanço tecnológico no varejo, com o comércio eletrônico substituindo o físico. “O e-comerce ganha força. Hoje representa 16% do consumo”, avaliou.
A modernização tirou maior parte dos consumidores do Centro. “Mudança do sistema bancário. O cliente resolve tudo por aplicativo. Não precisa mais vir a agência bancária. Este é um importante público que o Centro perdeu”, lamentou o secretário.
“O cliente busca uma experiência de consumo com menor atrito possível, ou seja, o consumo tem que ser mais facilitado”, admitiu. Para Adelaido, falta de vagas de estacionamento e mais conforto para o consumidor. “A alta temperatura dos últimos anos”, citou, sobre as intensas ondas de calor. “O cliente busca locais climatizados”, disse.
Dentre as inúmeros mudanças provocadas pela pandemia um novo hábito de consumo foi desenvolvido que são as cidades mais compactas onde tufo é realizado 15mim. O home office acabou desenvolvendo nos consumidores hábitos de consumo locais e próximo da moradia . Com estes novos hábitos o comércio de bairro passa a ser protagonista de um novo movimento do varejo.
O Centro foi perdendo fôlego com a descentralização do comércio. Bairros passaram a contar com lojas, supermercados, bancos e lotéricas. O péssimo sistema de transporte coletivo faz com que o consumidor opte por ir a pé para realizar as compras do que enfrentar a precariedade dos veículos do Consórcio Guaicurus.