O fim de ano é marcado por um processo psicológico que induz indivíduos, famílias e, até, instituições a encampar atos de solidariedade, com a oferta de alimentos, vestuário e, não raro, brinquedos. Há pessoas, contudo, que compreendem haver na distribuição irregular de renda um processo contínuo, real e cru durante o ano inteiro. Entre essas estão as integrantes da Pastoral Social, projeto administrado pela CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil).
As pastorais são encontradas na maioria das igrejas católicas do Brasil, e entre elas, está a célula montada no Conjunto União, unidade responsável pelo atendimento de três comunidades campo-grandenses, das imediações do bairro.
Maria Margarete Vieira Faquin, 62 anos, relata que o trabalho foi iniciado em março de 2021, motivado pela necessidade de dar resposta às carências básicas das famílias, como alimentação, produtos de higiene, vestuário e capacitação para o mercado de trabalho.
“Fizemos visitas às famílias e fomos compreendendo as necessidades enfrentadas por muitas. Iniciamos um cadastro que conta, atualmente, com 68 famílias. Nossa assistência dura três meses para que os integrantes das famílias encontrem alternativas que garantam a alimentação. Caso a família não consiga reagir, seguimos com a ajuda, embora o tempo prioritário seja de três meses”.
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Além da professora aposentada Margarete, outras 23 pessoas estão à frente das atividades, centradas na organização de cestas básicas, enxovais com roupas adequadas aos indivíduos e oferta de cursos de capacitação. Nas cestas, além de alimentos secos não perecíveis, estão presentes frutas e leite.
“Nosso grupo é dividido em equipes de visita e cadastramento, de assistidos, montagem de cestas básicas e enxovais, já que atendemos mulheres grávidas. Até o ano passado, conseguíamos entregar também doces nas cestas. As crianças ganham brinquedos conforme a idade. Ninguém fica sem. É muito gratificante”, acentua Margareth.
Ajuda é personalizada conforme a necessidade dos assistidos pela Pastoral Social
De acordo com a voluntária, o conteúdo das cestas varia conforme o recurso em caixa gerado pelas próprias doações. “No início dos nossos trabalhos, havia quem doasse muita roupa. Esse excedente vai para um bazar em que o caixa é direcionado à compra de cestas básicas. Há proprietários de brechós que compram conosco. Temos, assim, margem para dar respostas rápidas, quando elas são necessárias. Por exemplo, pode aparecer uma grávida sem enxoval, a equipe responsável o monta inteiro. Ou, ainda, há alguma família que perdeu tudo em um incêndio. Precisamos responder não só à falta de alimentos, mas de estrutura”.
Entre as necessidades emergenciais está o fornecimento de medicamentos, modificado pela conduta de uma das famílias assistidas. “Levamos um calote uma vez. Havia aqui uma família cadastrada cuja filha, uma menina, enfrentava um difícil diagnóstico de epilepsia. Eles foram visitar parentes em Minas Gerais e, chegando no outro estado, afirmaram não ter recursos para retornar a Mato Grosso do Sul. Essa família apelou para o envio do dinheiro necessário para a compra do medicamento, o que fizemos sob a condição de termos a receita para controle de nosso caixa. Isso não aconteceu. Por esse motivo, criamos um departamento financeiro para evitar novos problemas dessa natureza”.
A professora ressalta não haver motivos para desânimo diante dos percalços do trabalho voluntário. Ao contrário, face à limitação das famílias, é preciso recorrer à capilaridade da Pastoral Social. “Atendemos as pessoas sem limite, sem cobrar quem é católico, evangélico ou outra religião. Queremos estar perto de quem necessita de nós. Muitas vezes, contudo, as pessoas não estão na área geográfica de nossa atuação. Já houve pedidos de carenciados dos bairros Moreninhas e, até, de Dourados. A pessoa entra na fila, não pode ser cadastrada na nossa área geográfica, mas não fica sem atendimento, entramos em contato com a paróquia mais próxima e habilitada para oferecer o auxílio necessário”.
Toda a distribuição de cestas é feita às sextas-feiras, mas nos intervalos da semana, o grupo da Pastoral Social encaminha os assistidos para capacitações, em geral, ministradas por parceiros, como o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial).
“Já tivemos curso de culinária, manicure, manipulação de alimentos e confecção de salgados. Para o próximo ano, estamos programando novas capacitações”. Por meio dos cursos, os assistidos iniciam o processo de transição para o mercado de trabalho. Também são oferecidas oficinas de cidadania e, até, religião, mas respeitando a orientação de cada assistido. “Temos satisfação em fazer. Nosso padre percorreu o comércio e conseguiu o engajamento dos comerciantes. Fizemos o convite para a participação e não faltou nada durante todo o ano. Esse é um trabalho que, para nós, significa satisfação”.