A denúncia do Ministério Público Federal contra o vereador Allex Dellas (Republicanos) e mais nove acusados de fazerem parte de uma organização criminosa por lavagem de dinheiro do tráfico cita outras investigações para demonstrar que os integrantes do grupo possuem “histórico criminal de envolvimento” com outros delitos.
Contra o líder do prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (PSDB), na Câmara Municipal, é citada a Operação Mercês, realizada pela Polícia Federal em outubro de 2021, e que esquadrinha o submundo das eleições de 2020 no município da fronteira.
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“Já ALLEX DELLA, filho mais velho de ALE DELLA, é investigado na Operação Mercês, que apura a compra de votos nas eleições municipais de 2020 (art. 299 do Código Eleitoral). Há, inclusive, fortes indícios de que sua campanha política foi financiada por IONEIDE NOGUEIRA”, relata a denúncia do MPF à Justiça Federal.
Ioneide Nogueira Martins, conhecido como ‘Paraná’, também foi denunciado pela Operação Mamon como um dos líderes da organização criminosa acusada de utilizar estabelecimentos comerciais de pequeno porte para lavar uma fortuna proveniente do tráfico internacional de drogas.
O negócio familiar movimentou R$ 80 milhões em quatro anos, entre 2017 e 2021, segundo a Polícia Federal, na fronteira com a Bolívia, e uma das principais rotas do tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul.
Já a Operação Mercês investiga servidores públicos municipais e membros do Poder Legislativo, que supostamente teriam praticado crimes eleitorais e contra a administração pública nas eleições municipais do ano de 2020, em Corumbá.
Conforme material apreendido durante a operação, funcionários públicos ofereciam vantagens, desde consultas médicas e exames até pagamento em dinheiro em troca de votos.
Os investigados são os vereadores Yussef Mohamad El Salla (PDT), Manoel Rodrigues Pereira Neto e Alex Dellas, ambos do Republicanos. O secretário municipal de Governo, Luiz Antônio da Silva, e a secretária-adjunta de Saúde, Mariluce Gomes Alves Leão, também estão entre os investigados por integrar o esquema.
A investigação começou com a apreensão do veículo de Marconi de Souza Júnior, então assessor do prefeito, saindo do Diretório Municipal do PSDB. Ele estava com cópias de documentos e uma lista de nomes, inclusive o número do título de eleitor, e dinheiro em espécie.
Conforme a lista em poder do assessor, o prefeito Marcelo Iunes contratou 326 cabos eleitorais e pagava R$ 250 por quinzena para cada um. Por mês, conforme os policiais, ele teria gasto R$ 163 mil com cabos eleitorais. Oficialmente, o prefeito não é investigado, porque possui foro privilegiado e só poderá ser alvo da investigação com aval do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.
Áudio interceptado pela PF, revela que o então candidato a vereador Allex Dellas teria comprado voto por duas marmitex. A conversa foi entre Marconi e Estácio Muniz da Silva Santos, conhecido como Batatinha e chefe da campanha de Allex.
Marconi conta que está no conjunto habitacional Padre Ernesto Sassida. “Eu já arrumei até um eleitor aqui para Allex Della aqui viu, por dois marmitex! Barato hein?”.
Operação Mamon
A Operação Mamon denunciou 10 acusados de fazerem parte de organização criminosa, com os agravantes de manter conexão com outros grupos criminosos independentes e ter operações internacionais, e lavagem de dinheiro.
Conforme a denúncia do Ministério Público Federal, em um dos estabelecimentos investigados, cerca de 90% do faturamento decorreu de transações de apenas três cartões de crédito, sendo que dois deles pertencem a Allex Dellas, e o outro a Moisés Della, tio do vereador.
“Consta, inclusive, do Relatório de Análise de Polícia Judiciária […] , que analisou os dados telemáticos em nuvem de ALE DELLA e IONEIDE NOGUEIRA, que alguns atos ilícitos só foram praticados por ALE DELLA após a anuência de ALLEX DELLA, o qual possui formação em Direito”, diz trecho da denúncia obtida por O Jacaré, o processo corre em sigilo.
Allex Dellas disse à reportagem de O Jacaré que vai comprovar sua inocência.
“A gente vai ter todos os encaminhamentos dentro do processo para a gente se manifestar e com certeza provar a minha inocência. Recebo absolutamente tranquilo. Respeitando sempre as decisões judiciais e acompanhando todo o procedimento jurídico, esperando e com a certeza absoluta que virá a comprovação da minha inocência. Estou à disposição sempre, como costumo dizer, ninguém está acima da lei. Sempre à disposição da lei”, declarou Allex Dellas, no dia 18 de dezembro.
O advogado de defesa da família Della, André Borges, reforça que os acusados provarão que não estão envolvidos com os crimes. “Todos sempre estiveram à disposição da justiça; aguardam as citações para se defenderem regularmente; confiam muito que no final tudo será esclarecido, com a absolvição”, disse.