Líder do prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (PSDB), na Câmara Municipal, o vereador Allex Dellas (Republicanos), 31 anos, não declarou nenhum bem nas eleições de 2020, quando foi eleito para seu primeiro mandato. No entanto, o Ministério Público Federal afirma que o parlamentar movimentou R$ 1 milhão em um período de apenas seis meses.
Allex Prado Della (que usa no nome político o sobrenome no plural) está entre a dezena de acusados de fazerem parte de uma organização criminosa que utilizava estabelecimentos comerciais de pequeno porte para lavar uma fortuna proveniente do tráfico internacional de drogas. Em sua Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física do ano calendário 2021, o vereador movimentou R$ 940.709,62, conforme anexado à denúncia.
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De acordo com os dados obtidos pela Polícia Federal nas quebras de sigilo bancário e fiscal dos principais investigados, a organização criminosa apresentou “grande evolução patrimonial” a partir do ano de 2017, com abrangência até junho de 2022.
Levantamento dos bens adquiridos pelo grupo familiar Della relata inúmeros veículos luxuosos, além de um imóvel de alto padrão, avaliado em cerca de R$ 1,8 milhão, onde a família reside atualmente. As pesquisas feitas em redes sociais permitiram concluir que a casa passou à família no final do ano de 2019, momento em que começaram a postar fotos suas no local.
“Todo esse alto padrão de vida da família DELLA não encontra fonte de renda lícita conhecida compatível”, diz a denúncia do Ministério Público Federal.
As atividades do grupo teriam se estendido por anos, somente sendo interrompidas, temporariamente, após a deflagração da Operação Mamon, da Polícia Federal, em 29 de abril de 2021.
Segundo as investigações, alguns dos veículos foram registrados no nome de Allex Dellas, que seria um dos principais operadores financeiros do grupo após a operação da PF.
“Ressalte-se que a quantia movimentada por ALLEX DELLA – R$ 1 milhão em período de apenas 06 meses – é totalmente incompatível com seus rendimentos declarados oriundos inicialmente, de assistente administrativo de órgão público estadual”, relata a denúncia.
“Ora, os réus não nasceram ricos, não herdaram grandes fortunas ou bens valiosos, não ganharam em sorteio de loteria nem nunca desenvolveram atividades empresariais relevantes. Mesmo assim conseguiram movimentar milhões”, aponta o MPF.
Até o término das investigações, Allex Dellas ocupou o cargo comissionado de assistente administrativo da Fundação de Meio Ambiente do Pantanal, vinculado ao município de Corumbá, no qual recebia uma remuneração mensal bruta de R$ 6.360,007.
“Trata-se da mais alta renda lícita conhecida na família DELLA, embora bastante aquém das movimentações financeiras identificadas após a quebra de sigilo bancário”, pontua o MPF.
Após eleito em 2020, de acordo com sua Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física, Allex Dellas movimentou em suas finanças, em 2021, R$ 940.709,62, conforme anexado à denúncia.
Este cenário contrasta com o registro de sua candidatura na Justiça Eleitoral, que não consta nenhum bem.
Segundo o Ministério Público Federal, entre junho de 2019 e abril de 2021, o vereador fez parte de um grupo criminoso que dissimulou a origem e movimentação financeira de valores oriundos do tráfico internacional de drogas e de outros crimes, mediante a utilização da sociedade empresária.
As investigações apontaram que a organização criminosa era composta por acusados pertencentes a duas famílias. A família Della é capitaneada por Ale Tahir Della, que empreendia seus dois filhos, Matheus Prado Della e o vereador Allex Prado Della, no esquema que movimentou R$ 80 milhões.
Lavagem de dinheiro
O esquema criminoso foi desvendado na Operação Mamon, deflagrada pela Polícia Federal, e denunciado pelo Ministério Público Federal. O negócio familiar movimentou R$ 80 milhões em quatro anos, entre 2017 e 2021, na fronteira com a Bolívia, e uma das principais rotas do tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul.
Conforme a denúncia do MPF, em um dos estabelecimentos investigados, cerca de 90% do faturamento decorreu de transações de apenas três cartões de crédito, sendo que dois deles pertencem a Allex Dellas, e o outro a Moisés Della, tio do vereador.
“Consta, inclusive, do Relatório de Análise de Polícia Judiciária […] , que analisou os dados telemáticos em nuvem de ALE DELLA e IONEIDE NOGUEIRA, que alguns atos ilícitos só foram praticados por ALE DELLA após a anuência de ALLEX DELLA, o qual possui formação em Direito”, diz trecho da denúncia obtida por O Jacaré, o processo corre em sigilo.
O Ministério Público Federal denunciou os 10 acusados por fazerem parte de organização criminosa, com os agravantes de manter conexão com outros grupos criminosos independentes e ter operações internacionais, e lavagem de dinheiro.
Allex Dellas disse à reportagem de O Jacaré que vai comprovar sua inocência.
“A gente vai ter todos os encaminhamentos dentro do processo para a gente se manifestar e com certeza provar a minha inocência. Recebo absolutamente tranquilo. Respeitando sempre as decisões judiciais e acompanhando todo o procedimento jurídico, esperando e com a certeza absoluta que virá a comprovação da minha inocência. Estou à disposição sempre, como costumo dizer, ninguém está acima da lei. Sempre à disposição da lei”, declarou Allex Dellas a O Jacaré, no dia 18 de dezembro.
O advogado de defesa da família Della, André Borges, reforça que os acusados provarão que não estão envolvidos com os crimes. “Todos sempre estiveram à disposição da justiça; aguardam as citações para se defenderem regularmente; confiam muito que no final tudo será esclarecido, com a absolvição”, disse.