Líder do prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (PSDB), na Câmara Municipal, o vereador Allex Dellas (Republicanos), 31 anos, está entre a dezena de acusados de fazerem parte de uma organização criminosa que utilizava estabelecimentos comerciais de pequeno porte para lavar uma fortuna proveniente do tráfico internacional de drogas.
O esquema criminoso foi desvendado na Operação Mamon, deflagrada pela Polícia Federal, e denunciado pelo Ministério Público Federal. O negócio familiar movimentou R$ 80 milhões em quatro anos, entre 2017 e 2021, na fronteira com a Bolívia, e uma das principais rotas do tráfico de drogas em Mato Grosso do Sul.
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As investigações apontaram que a organização criminosa era composta por acusados pertencentes a duas famílias. A família Della é capitaneada por Ale Tahir Della, que empreendia seus dois filhos, Matheus Prado Della e o vereador Allex Prado Della (que usa no nome político o último sobrenome no plural), no esquema.
Conforme a denúncia do MPF, em um dos estabelecimentos investigados, cerca de 90% do faturamento decorreu de transações de apenas três cartões de crédito, sendo que dois deles pertencem a Allex Dellas, e o outro a Moisés Della, tio do vereador.
“Consta, inclusive, do Relatório de Análise de Polícia Judiciária […] , que analisou os dados telemáticos em nuvem de ALE DELLA e IONEIDE NOGUEIRA, que alguns atos ilícitos só foram praticados por ALE DELLA após a anuência de ALLEX DELLA, o qual possui formação em Direito”, diz trecho da denúncia obtido por O Jacaré.
Allex Dellas foi eleito em 2020 para seu primeiro mandato e, atualmente, é líder do prefeito Marcelo Iunes na Câmara Municipal. O parlamentar disse à reportagem que vai comprovar sua inocência.
“A gente vai ter todos os encaminhamentos dentro do processo para a gente se manifestar e com certeza provar a minha inocência. Recebo absolutamente tranquilo. Respeitando sempre as decisões judiciais e acompanhando todo o procedimento jurídico, esperando e com a certeza absoluta que virá a comprovação da minha inocência. Estou à disposição sempre, como costumo dizer, ninguém está acima da lei. Sempre à disposição da lei”, declarou Allex Dellas a O Jacaré, nesta segunda-feira (18).
O advogado de defesa da família Della, André Borges, reforça que os acusados provarão que não estão envolvidos com os crimes. “Todos sempre estiveram à disposição da justiça; aguardam as citações para se defenderem regularmente; confiam muito que no final tudo será esclarecido, com a absolvição”, disse.
O Ministério Público Federal denunciou os 10 acusados por fazerem parte de organização criminosa, com os agravantes de manter conexão com outros grupos criminosos independentes e ter operações internacionais, e lavagem de dinheiro.
Este não é o primeiro caso de envolvimento político com o tráfico em Mato Grosso do Sul.
Em 2020, o candidato a vereador pelo MDB, Rafael Santana de Souza, o Rafael Chupim, 35 anos, fez campanha com tornozeleira eletrônica em Aral Moreira, a 371 quilômetros da Capital. Ele é réu por integrar organização criminosa armada transnacional, o famoso PCC (Primeiro Comando da Capital), e acabou não conseguindo se eleger.
Naquele ano, o prefeito de Aral Moreira, Alexandrino Arévalo Garcia (PSDB), iniciou o cumprimento da pena por tráfico internacional de drogas no regime semiaberto, após benefício concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. O chefe do Executivo acabou reeleito.
*Matéria editada às 15h30, do dia 19 de dezembro, para acrescentar a declaração do advogado André Borges.