Pelo menos dez bebês que nasceram com múltiplas anomalias e características notáveis foram associados a uma nova síndrome de exposição pré-natal ao fentanil.
Um novo estudo publicado na revista Genetics in Medicine Open identificou uma nova síndrome associada a mães que utilizam fentanil durante a gravidez, expondo os seus filhos ao medicamento.
Leia também:
Ex-secretário de Saúde é acusado de favorecer empresa a vencer contrato de R$ 12 milhões
Mulheres passam a ter direito a acompanhante em atendimento de saúde
Onda de calor: governo lança guia com 22 dicas e cuidados com a saúde
De acordo com a USP (Universidade de São Paulo), cerca de 300 pessoas morrem por dia nos Estados Unidos, devido ao uso de fentanil, abordando um estudo divulgado por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles. O fentanil pertence à classe dos opióides sintéticos, substâncias utilizadas na terapêutica, principalmente para tratamento da dor moderada à intensa. Esse fármaco também é usado, juntamente com outros medicamentos, para induzir e manter os efeitos da anestesia em procedimentos operatórios, endoscópicos e dentários, além de em unidades de cuidados intensivos.
Fentanil tem elevado poder analgésico e é 100 vezes mais forte que a morfina
Esse opióide é 50 vezes mais potente que a heroína – substância derivada do ópio e causadora de alta dependência – e 100 vezes mais forte que a morfina – um fármaco de alto poder analgésico. Em 2023, os Estados Unidos já atingiram a marca de mais de 100 mil mortes por overdose, causadas principalmente pelo uso indevido de opióides. Esse cenário de abuso de substâncias ilícitas e alto índice de overdoses, entretanto, não é inédito no país e começou muito antes da circulação de fentanil.
No caso da pesquisa com os bebês, foram feitas descobertas sobre as características importantes reconhecíveis de que os pequenos podem ter a síndrome, como baixa estatura, cabeças pequenas, fenda palatina, pé torto e anomalias genitais.
Também foram identificadas membranas entre os dedos dos pés, polegares curtos e largos e uma única prega nas palmas das mãos.
A nova síndrome que afeta estes bebês faz parte de uma crise mais ampla do fentanil nos Estados Unidos.
Os principais serviços de saúde norte-americanos estimam declaram o abuso do fentanil de “a epidemia de narcóticos mais mortal da história dos EUA”.
Abuso do fentanil causa mortes e rastro de problemas genéticos
Cada vez mais pessoas consomem e morrem devido à droga todos os anos, e esta possível síndrome relacionada com o fentanil é a consequência mais recente desta crise.
A geneticista Erin Wadman, principal autora do estudo, disse que descobriu a possível nova síndrome quando estava avaliando um bebê em agosto de 2022 que tinha deficiências congênitas.
“Eu estava sentado lá na consulta e pensei, esse rosto parece tão familiar. Essa história parece tão familiar. E eu estava pensando em como esse paciente me lembrava tanto de um paciente que eu tinha visto antes no ano e depois outros pacientes que atendi. Foi quando pensamos que poderíamos ter tropeçado em algo realmente grande aqui.”
A pesquisa inicialmente se concentrou em seis bebês do Hospital Infantil Nemours de Delaware e, em seguida, quatro casos semelhantes foram identificados por outros médicos no relatório.
No início, os sintomas lembraram Wadman e seus colegas da síndrome de Smith-Lemli-Opitz, uma doença genética que impede o corpo de produzir colesterol, que é essencial para o funcionamento normal das células e para a formação do cérebro.
No entanto, não houve causas genéticas comuns, como a síndrome de Smith-Lemli-Opitz, encontradas entre os bebês do estudo; em vez disso, os pesquisadores levantaram a hipótese de que as mães estavam usando fentanil recreativo durante a gravidez.
Eles escreveram no estudo que é plausível que o fentanil possa ter perturbado a produção de colesterol nos bebês enquanto eles estavam no útero.
Todos os bebês no estudo testaram positivo para exposição ao fentanil, mas os investigadores dizem que não podem ter a certeza da ligação entre a nova síndrome e o medicamento, uma vez que muitos outros medicamentos foram utilizados durante a gravidez das mães.