Muitos bordões podem iniciar um texto como este, nenhum deles resume a dor da existência de um acrônimo para designar as crianças órfãs pela guerra de Israel contra o povo da Palestina, acentuada no último mês, mas existente há quase oito décadas. Médicos em atividade na Faixa de Gaza denominam como “WCNSF” (Criança Ferida Sem Família Sobrevivente em tradução livre) os órfãos de mais esse capítulo da guerra.
A situação tornou-se tão comum na Faixa de Gaza, que integrantes do MSF (Médicos Sem Fronteiras) cunharam a sigla, mais um fator imposto a crianças cujo sofrimento nem deveria ser descrito. Quando sobrevivem – Até a entrega desta coluna, na manhã de sábado, 11 de novembro,4.008 crianças foram mortas na Faixa de Gaza e outras 1.270 estão desaparecidas – os pequenos naquela têm a saúde mental extenuada ao limite.
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Enquanto bombas caem no espaço civil, como hospitais, escolas e mesquitas, as crianças são submetidas a violência, ao medo, à dor e à incerteza. De acordo com a organização Save the Children, o estresse pós-traumático experimentando pelas crianças em Gaza resulta em ansiedade, medo, preocupação com a sua segurança e a dos seus entes queridos, pesadelos e memórias perturbadoras, insónia, repressão de emoções e afastamento dos entes queridos.
A organização aponta, ainda, que desde que o bloqueio terrestre, aéreo e marítimo foi imposto à Faixa de Gaza em 2007, a vida das crianças em Gaza é o retrato de graves privações e violência. Na região, 80% dos pequenos manifestam tristeza e apresentam comportamentos como o mutismo reativo e uniram-se por medo.
Enquanto os palestinos são obrigados a sair do próprio território sem a nítida indicação se poderão voltar ou sobreviver, há quem pense nas crianças. Muitas, além dos pais, irmãos, tios, tias, primos, primas, avós, amigos, das casas e das escolas, perderam membros, deixando sob escombros braços agora inservíveis para abraços e pernas imprestáveis para correr.
Há quem pense na criança deixada para trás, na própria criança, como o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) nesta sexta-feira, 11 de novembro, ao relatar ter crescido durante a guerra na Etiópia, e acreditando compreender o que ocorre em Gaza.
“O som de tiros e projéteis assobiando no ar, o cheiro de fumaça depois de atingirem, as balas traçantes no céu noturno, o medo, a dor, a perda – essas coisas permaneceram comigo por toda a minha vida”.