Albertino Ribeiro
Existem articulistas que informam e outros que apenas desinformam. Quando o autor da desinformação é um jornalista inexperiente, a gente perdoa, pois entende que ainda falta ao profissional mais leitura e mais experiência.
Contudo, quando o responsável pela desinformação é um jornalista experiente e consagrado, alguma coisa deve estar muito errada, pois o sujeito, na verdade, é uma fraude ou trata-se de um desonesto intelectual.
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Em se tratando de Elio Gaspari, acredito que a segunda opção seria a mais correta, pois sabemos de sua capacidade intelectual e argumentativa. Sendo assim, não é difícil entender que o Gaspari está a serviço daqueles que possuem uma visão míope sobre a economia e acham que a chamada austeridade fiscal é o único caminho a ser percorrido pelo país.
Semana passada, o consagrado jornalista da Folha de São Paulo e do Jornal O Globo defendeu que o governo deveria controlar suas receitas e despesas da mesma forma que uma dona de casa: “Qualquer família sabe como lidar com déficit: se a arrecadação é insuficiente, deve-se cortar despesas. Lula e o comissariado petista não gostam dessa ideia”.
Ora, meu amigo, se é mesmo dessa forma; então como explicar a dívida pública dos países ricos? Os EUA, por exemplo, a meca da cantilena neoliberal e da austeridade fiscal, possuem uma dívida pública de 121% do PIB; o Japão, terra do sol nascente, não vê, há muito tempo, sua receita superar suas “obscuras” despesas. Atualmente a dívida pública japonesa, em relação ao PIB, é de 260%. “Não sabia; nenhuma grande mídia fala sobre isso.” Pois é…
No caso do Japão, por causa da cultura de sua população de poupar seus recursos e não ser muito consumista, o país vive sempre numa iminente recessão. Sendo assim, os gastos do Estado tem sido uma das poucas saídas para evitar uma crise econômica.
Segundo o jornalista Luís Nassif, comparar finanças públicas com finanças domésticas é um dos erros mais primários que existem. “Trata-se de uma das comparações mais primárias dentro do que se denomina de Falácia da Composição – um erro lógico que ocorre quando se assume que o que é verdadeiro para uma parte de um sistema é verdadeiro para o sistema como um todo.”
Infelizmente a sociedade brasileira é bombardeada diuturnamente por essa falsa premissa disparada pela mídia coorporativa. Dessa forma, leva-nos a acreditar que toda e qualquer dívida contraída pelo Estado brasileiro é deletéria para a economia, porém não é assim.
Mais honesto seria – mas ainda não suficiente -, comparar as finanças públicas com as finanças de uma empresa que precisa investir no longo prazo em áreas cujos retornos demoram a se concretizar. Em investimentos assim, não existem empresas que possuam recursos próprios para tomarem risco. Logo, será necessário tomar empréstimos para que seu objetivo se torne realidade.
Destarte, um país de dimensões continentais como o nosso, que possui ainda um grande déficit habitacional, infraestrutura precária e pobreza não pode esperar o mercado se autorregular, acreditando que este transformará tudo num paraíso.
Sobre isso, Keynes, um dos maiores economistas de todos os tempos, disse: “no longo prazo estaremos todos mortos”.