Mário Pinheiro, de Paris
O poder da imprensa é muito grande, ela pode tanto informar corretamente quanto tentar colocar a opinião pública contra os mais fracos e mesmo destruir valores. É incrível como a imprensa conservadora abana o rabo quando se fala de Israel contra o grupo Hamas, mas não expõe a raiz do problema. Correspondentes brasileiros falam a partir de Londres, Nova York ou mesmo Tel Aviv, mas não garimpam a matéria em Jerusalém.
O terrorismo fatal está na destruição total da faixa de Gaza, incluindo escolas, hospitais, mesquitas, casas e prédios residenciais. Israel pretende acabar com uma etnia ao exterminar e provocar o êxodo dos habitantes rumo ao Egito.
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Enquanto o mundo implora por um cessar-fogo, os abutres de Israel preferem a carcaça da carniça dos árabes. Que mundo é esse? Ela, a imprensa, não age como se fosse Hermes no Olimpo, modelo mítico do jornalismo.
O chefe do correio de Apolon permite aos habitantes do Parnasso de ser informados das notícias de todo lado, tanto literárias quanto políticas e militares. O mensageiro dos deuses se torna guia dos viajantes e agente de ligação entre o mundo dos homens e o inferno.
Mas a imprensa atual fala daquele que destrói e prolifera a dor, matança impiedosa de famílias e realça a fome de guerra de quem mais rouba território em nome do ódio, Israel, como se a batalha fosse justa.
A realidade da guerra no Oriente Médio é catastrófica com destruição em massa do território palestino, expulsão de civis e ataques simultâneos de locais onde estão os refugiados. As vítimas, entre crianças e mulheres civis, além de milhares de homens, não entram na conta para Israel e são ignoradas.
Na cabeça tanto do primeiro ministro quanto dos generais israelenses é preciso limpar a área de Gaza. Ora, limpar significa matar e expulsar os resistentes, ocupar ainda mais o que resta da terra aos palestinos. O genocídio já foi citado por membros da ONU, mas tanto Israel quanto Estados Unidos ignoram os fatos.
Mas a imprensa não ajuda em nada quando emite opiniões e omite a verdade. Esta semana, uma emissora de rádio popular de notícias começou a noticiar que duas crianças francesas foram mortas em Gaza e a mãe gravemente ferida. Sentia-se que o jornalista tinha coceira na língua pra condenar o grupo Hamas, mas as crianças foram mortas por ações do exército israelense.
Segundo enviados especiais que cobrem a atualidade do conflito, as autoridades de Israel reconhecem a destruição do campo de refugiados. Uma enorme cratera se abriu, deixou em ruinas vários prédios em Jabaliya, até então a maior concentração de civis da Banda de Gaza que buscavam refúgio.
Para o comandante da tropa israelense, mais de cento e cinquenta pessoas morreram com o lançamento das bombas aéreas, mas eles teriam conseguido matar um representante do grupo Hamas. O campo de Jabaliya concentra e abriga 116 mil pessoas registradas pelas Nações unidas. O ataque aéreo teria de fato eliminado um militante do Hamas, mas exterminado um monte de civis.
Entre opressor e oprimido, a imprensa brasileira, assim como a francesa, toma partido pelo país, cujo povo sempre consideraram coitados, mas que conta com arma nuclear, exército poderoso e ainda ajudado pelos Estados Unidos.
Por detrás da “ajuda” maquiavélica dos americanos está a ânsia pela venda de armamento bélico. A imprensa brasileira lambe-botas de Israel, não leva em conta que o poder de fogo israelense massacra e expõe tanto a carnificina quanto a miséria dos palestinos. Se não morrem pelas bombas, morrem de fome, sede e desespero.