Albertino Ribeiro
Os restaurantes americanos estão enfrentando uma queda nas vendas devido a inflação. Fazer as refeições em casa tem saído mais barato que comer fora. Como se não bastasse perder clientes por causa do dragão, que anda insaciável, redes de fast-food nos EUA, como Mcdonalds e KFC, estão enfrentando um outro inimigo. Refiro-me aos remédios para emagrecer. Estes tem sido uma febre e um de seus principais efeitos é diminuir a fome de seus usuários.
O fenômeno tem preocupado os investidores de Wall Street. O subíndice restaurante do S&P 500, por exemplo, subiu magros 0,4%, contra os polpudos ganhos de 10% do índice como um todo nesse ano. Realmente algo fora do cardápio está acontecendo com a demanda por estes tipos de alimentos, e a inflação sozinha não justifica este fenômeno.
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O Walmart, fazendo cruzamentos de dados, percebeu que os clientes que fazem compras dos remédios Ozempic e Wegovy em suas farmácias estão comprando menos alimentos, pelo menos dentro de seus estabelecimentos. Entretanto, a grande rede de supermercado não tem muito o que reclamar, pois recentemente reportou que estes remédios tem alavancado suas vendas.
Pensando do lado positivo da coisa, embora algumas empresas de alimentos estejam perdendo receita, a economia americana tem muito a ganhar com a redução da obesidade e da diabetes tipo 2 em sua população. De acordo com estudo publicado pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças, a obesidade nos Estados Unidos pode gerar um gasto extra de 1,1 trilhão de dólares, sem contar com a perda de vidas. Sendo assim, os efeitos colaterais financeiros do Ozempic são bem-vindos
Por aqui, em nosso Brasil, não conheço ainda nenhum estudo que faça uma associação entre o uso do remédio para emagrecer e a variação da demanda por alimentos, principalmente os ultraprocessados. Contudo, no momento, sabe-se que está havendo falsificação; recentemente, a farmacêutica Nordisk notificou a AVISA sobre um lote falsificado da droga, que estaria sendo vendido no mercado brasileiro.
Se houver algum impacto na demanda por estes alimentos aqui no Brasil, certamente será numa proporção bem menor, pois o remédio é muito caro. Enquanto escrevia este artigo, verifiquei o preço em uma famosa drogaria brasileira, que oferecia o medicamento por R$774,00, com desconto. Sendo assim, com uma renda média muito inferior a do americano, não será a falta de fome provocada pelo Ozempic que impactarão as vendas de um Macdonald ou de um Burg King, por exemplo.