Alvo em 3 de fevereiro do ano passado de operação da PF (Polícia Federal), a advogada Eliane Medeiros de Lima, que foi presa em Campo Grande, surge no relatório final da CPI das Pirâmides Financeiras (Comissão Parlamentar de Inquérito) como “peça fundamental” no esquema de criptomoedas de Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins.
A CPI recomendou o indiciamento de Eliane por estelionato, crime contra a economia popular, lavagens de bens e capitais, gestão fraudulenta, operação de instituição financeira sem autorização e de pertinência à organização criminosa.
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Na operação Valeta, que corresponde à terceira fase da Kryptos (ação contra o Faraó dos Bitcoins), a PF cumpriu mandados de busca e apreensão em Mato Grosso do Sul e São Paulo. Em Campo Grande, o alvo foi Eliane.
“Segundo investigações da PF, uma advogada era responsável pela administração de duas empresas sediadas em Campo Grande e desenvolvia papel de intermediar a movimentação financeira entre principal empresa investigada na Operação Kriptos, e empresas estabelecidas no exterior”.
Antes da operação, Eliane já era processada em MS por suspeita de golpe com a empresa Cointrade, também do ramo de moedas virtuais e que captava clientes em festas regadas a uísque importado, champanhe francesa e vinhos caríssimos.
No esquema do Faraó dos Bitcoins, a advogada é apontada como essencial na liquidação de criptoativos após a primeira ofensiva da PF contra Glaidson.
“ELIANE, investigada por esta CPI, em especial, se mostrou peça fundamental na liquidação de criptoativos que estavam em poder de MIRELIS. A liquidação foi feita a partir da madrugada do dia 26/08/2021, menos de um dia após a deflagração da Operação Kryptos. ELIANE utilizou empresas que controlava para intermediar negócio que transformou/liquidou milhares de BITCOINS em milhões de reais. Tal liquidação foi viabilizada em última instância pela BINANCE”.
Foragida desde 2021, Mirelis Zerpa é esposa de Glaidson e segue movimentando recursos bilionários.
“Após deflagração da operação Kryptos, verificou-se que MIRELIS, foragida, realizou saque de 4.330,737326 BITCOINS das carteiras de criptoativos em seu poder. Tal quantia em BITCOIN equivalia a R$ 1.063.070.463,56 à época dos saques. Parte relevante deste numerário foi alcançado pela organização criminosa através de empresas controladas por ELIANE MEDEIROS, pessoa investigada por esta CPI e apontada como pessoa que, em conjunto com seu marido LAURINEY, viabilizavam compra e venda de BITCOINS através das empresas controladas por eles, em especial a GLA SERVICOS DE TECNOLOGIA LTDA e EMELI CONSULTORIA E TECNOLOGIA DA INFORMACAO LTDA”.
A GLA Serviços fica no bairro Santa Fé, em Campo Grande. Conforme relatório da PF, a movimentação da advogada saltou de R$ 793 mil em 2017 para R$ 1,9 milhão no ano de 2020. A investigação também traz dados sobre a GLA. A empresa saiu de créditos de R$ 10.281 em 2018 para R$ 444 milhões em 2020.
A CPI reforça que Eliane e Lauriney Leite dos Santos participaram de forma relevante no esquema e, dentre outras responsabilidades, intermediaram compra e venda de criptomoedas pelo Faraó dos Bitcoins e a esposa.
“La Casa de Papel”
A CPI das Pirâmides Financeiras também recomendou o indiciamento de alvos da operação “La Casa de Papel”, deflagrada pela Polícia Federal de Mato Grosso do Sul.
Segundo a investigação, o empresário Patrick Abrahão, marido da cantora Perlla, era o “number one” (número um) da Trust Investing. Nas redes sociais, exibia o estilo ostentação, com muitas fotos de viagens e carros de luxo.
Na CPI, ele negou encabeçar o grupo. Declarando-se atualmente um dos mais de 1 milhão de investidores lesados pela Trust, Abrahão, que esteve preso de 19 outubro de 2022 até o último dia 7 agosto, afirmou que aguarda a sentença da Justiça para decidir se processa ou não a Trust pelo prejuízo causado a ele.
A Trust Investing, com sede na Estônia, foi fundada por brasileiros e acabou alvo de investigação da Polícia Federal, a qual culminou com a prisão dos seus principais representantes em outubro de 2022, o pastor Ivonélio Abrahão – pai de Patrick –, Diego Chaves (CEO), Fabiano Lorite (diretor de marketing) e Diorge Ribeiro Chaves. Todos têm pedido de indiciamento pela CPI. Eles já são réus e aguardam julgamento da Justiça Federal de MS.
“Imperioso reconhecer que Patrick mentiu para esta CPI. Isso porque segundo investigações da Polícia Federal, enviadas a esta Comissão, há vídeos demonstrando que o investigado representava a TRUST. Ele, ao lado do investigado Diego Ribeiro Chaves e outros membros da organização criminosa, tais como Fabiano Lorite, também investigado por esta Comissão, entregou U$ 50.000,00 (cinquenta mil dólares) em esmeraldas a um investidor”, aponta o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito.