Albertino Ribeiro
A economia, assim como o futebol, embora sejam discutidos em mesas de bares e reuniões de amigos, não é algo tão fácil e intuitivo de entender. Outro dia, uma grande amiga me perguntou por que o aumento na remuneração dos juros do FGTS irá prejudicar o financiamento habitacional para famílias de baixa renda. “Não entendi, Albert. Por que uma coisa que é boa para o trabalhador, iria prejudicar as famílias de baixa renda?”
Pois é, leitor, a princípio não deveria. Contudo, alguém já disse que “Economia é como um cobertor curto; se você quiser cobrir os pés, vai descobrir a cabeça e vice-versa.” Destarte, chegamos à conclusão que as variáveis econômicas estão todas imbricadas como em um jogo de palhetas, lembram? Você tem que mover uma com todo o cuidado para não derrubar as demais.
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Sobre o aumento de remuneração do FGTS, em um primeiro momento, seria ótimo para os trabalhadores, porque teriam uma remuneração melhor; esta passaria de 5,25% para 7,60% ao ano – a mesma remuneração da poupança. Sendo assim, quando ele for sacar o dinheiro, terá um quinhão maior para se manter, enquanto procura outro emprego, se for o caso.
Entretanto, aqui entra a história do cobertor curto. O dinheiro depositado, que irá ser melhor remunerado, é o mesmo que financiará o programa habitacional do governo para a família desses trabalhadores. Sendo assim, aumentando a remuneração do fundo para uma taxa de juros de 7,60%, o financiamento habitacional também subiria para o mesmo valor.
Segundo estudo encomendado pelo governo federal, caso isto aconteça, 48% das famílias de baixa renda não conseguirão financiar sua casa própria.
Outro exemplo que vai ajudar o leitor a entender que a ciência econômica – assim como o Brasil, não é para amadores -, na sexta-feira, o Departamento do Trabalho Americano divulgou o número de empregos que foram gerados no mês de setembro. O valor de 336 mil empregos veio muito acima do esperado pelo mercado, que previu apenas 170 mil. Um número preocupante para os EUA e até mesmo para o Brasil.
Aí, então você me pergunta: “Por que uma notícia boa – geração de empregos -, é recebida de forma negativa?” Calma. Não é falta de lógica. Ocorre que a economia americana está muito aquecida e enfrenta uma inflação de 3,7% a ano, taxa muito elevado para os padrões americanos.
Destarte, um aumento do emprego vai pressionar ainda mais os preços, o que obrigará o FED (Banco Central Americano) a aumentar a taxa de juros e mantê-la nas alturas até que a inflação de demanda dê sinais de arrefecimento.
Para termos uma ideia, segundo a teoria econômica vigente, um país está numa situação de pleno emprego quando a taxa de desemprego está na casa dos 5%. A taxa atual dos EUA é de 3,8%. É um milagre econômico! Não é preciso ser muito esperto para perceber que a demanda está maior que a oferta, o que abre caminho para um processo inflacionário.
E o Brasil, de que forma será afetado? Um aumento dos juros do lado de lá provocará uma fuga de dólares do lado de cá; estes migrarão para os títulos americanos, que são os mais seguros do mundo. Dessa forma, a taxa de câmbio aumentará por aqui, pressionando os preços básicos da economia.
Então, assim como no futebol, nós brasileiros gostamos e somos relativamente entendidos nas duas artes; achamos sempre que estamos certos: “Deveriam fazer assim e não assado, etc…” No entanto, dentro das quatro linhas, é necessário ser profissional em ambas.
Às vezes é melhor nem querer entender.