Mário Pinheiro, de Paris
O sofrimento está selado na figura de cada pessoa, que, com a coragem e a esperança de chegar vivo na Europa, enfrenta o perigo constante do naufrágio, da pane seca e a perseguição da guarda costeira no mar Mediterrâneo. O objetivo é fugir dos sinais de morte, entre eles: fome, guerras civis, juntas militares, perseguição, tortura e estupro para ter uma gota de paz e suspiro no outro lado da margem.
Quem parte num barco inflável mantido por coiotes, paga caro pela aventura que pode, muitas vezes, custar a vida e acabar numa catástrofe humanitária. O total de 8.500 pessoas em diversos barcos na semana passada causou indignação na classe política. Eles estavam desidratados, famintos, outros apresentavam cuidados médicos mais sérios.
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A miséria absoluta dos imigrantes causa repulsa e ânsia de vômito na classe política de extrema direita. Na França, por exemplo, o partido de Marine Le Pen, Reunião Nacional, e o Reconquista, do jornalista Eric Zemmour, usam politicamente este caso ao solicitar que a Itália coloque os migrantes num avião e os obrigue a voltar.
Mas na Itália governada pela primeira ministra de extrema direita Giogia Meloni, a acolhida na Ilha de Lampedusa teve outro aspecto, o de humanismo. Meloni também reclama de um possível abandono da Europa, deixando que ela se vire com o problema migratório.
Um ministro francês, Gérard Darmanin, principal responsável na deslocalização de imigrantes, afirmou que a França pode receber um contingente de africanos no sentido de estender a mão ao governo italiano. A Alemanha já deixou claro que deseja receber imigrantes somente para suprir certas exigências e demandas do mercado de trabalho.
No entanto, a riqueza e matéria prima da África interessam aos europeus como mostra a colonização durante séculos e a investida em suas riquezas como ouro, petróleo, diamante, madeira, cacau, café e tantas outros subsídios usados na tecnologia atual dos smartphones.
Quando eles são acolhidos, há um processo de inculturação, aprendizagem da língua, dos costumes, direitos e deveres, mas isso nem sempre vem da vontade geral e da opinião pública. As pessoas mal informadas acabam por validar o discurso racista e xenofóbico da extrema direita.
Atualmente, na política francesa, o presidente Emmanuel Macron tem uma péssima popularidade enquanto Marine Le Pen domina as pesquisas de intenções de voto para as próximas eleições presidenciais. Ainda é cedo. Ironia ou não, os partidos de extrema direita vivem da banalização da miséria daqueles que, no passado, foram usados como escravos e enriqueceram partes da Europa.