O narcotraficante Gerson Palermo, condenado a 126 anos de cadeia, foi o responsável pela morte cinematográfica de Jorge Rafaat em junho de 2016 na fronteira do Paraguai com Mato Grosso do Sul. A informação consta de áudio inédito captado no Presídio Federal de Porto Velho (RO) no mesmo ano, mas só divulgado agora, entre os narcotraficantes Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar e Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP.
A informação contraria as investigações policiais na época, que apontou o PCC (Primeiro Comando da Capital), como responsável pela execução de Rafaat com uma metralhadora .50 e mostra o poderio de Palermo, que fugiu após o ex-presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, desembargador Divoncir Schreinar Maran, conceder habeas corpus em abril de 2020.
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Em decorrência da soltura do bandido, o magistrado vai ser alvo de procedimento administrativo disciplinar do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Ele teria liberado o narcotraficante sem exigir exames médicos e ouvir o Ministério Público. Também teria suprimido instância.
O áudio foi revelado nesta segunda-feira pelo jornalista Herculano Barreto Filho, do Uol. Os detalhes teriam sido contados a Marcinho VP por Jorge Teófilo Samúdio Gonzalez, o Samura. “Falou que o bagulho foi cinematográfico. Tomaram essa atitude (Palermo e comparsas), mas quem levou a fama foi o pessoal do 15 (alusão ao PCC)”, relatou.
“O Rafaat, quando eu cheguei lá (Ponta Porã), nem era bandido. Ele trabalhava com negócio de pneu. Mas ele sempre teve sede de poder. E, depois que puxou uma cadeia lá, ele saiu querendo dominar. Ele entrava no caminho dos outros, querendo cobrar pedágio. Eu não tinha inimizade com ele, não. Mas a postura dele era postura de alemão (inimigo)”, comentou Marcinho VP.
“Tem muita gente lá. Brasileiro lá tá igual mato. Tá, tipo assim, tem muito amigo nosso que tá (…). (O Siciliano está) morando lá muito mesmo e, fora nós (Comando Vermelho), deles tem muito lá. Mas é muito grande. Então, dá pra todo mundo viver lá. Cada um na sua lá, tá ligado?”, analisou Beira-Mar.
“Eu não tenho nada contra ele (Rafaat). Ele me respeita e tal, quando eu estava lá. Mas é o seguinte: ele é comerciante, ele trabalha com quem compra dele. Seja 15 (em referência à facção paulista), seja lá quem for. Ele trabalha, mas a informação que eu tive é que ele estava junto com o Siciliano e mais um S (que seria Sérgio Lima dos Santos, condenado a 35 anos de prisão pelo assassinato do Rafaat). Eles estavam junto na caminhada e se uniram lá, entendeu?”, contou.
Marcinho VP revela que a facção paulista levou a fama. “O que chegou pra gente é que ele se uniu com o S [Sérgio Lima dos Santos] e o Siciliano tomaram essa atitude. Mas quem levou a fama foi o pessoal do 15, entendeu? Quem ganhou a fama de ter feito foi o pessoal do 15”, relatou.
A gravação, informa a reportagem do portal Uol, foi registrara pelo Depen (Departamento Penitenciário Nacional) em julho de 2016, pouco tempo depois de Jorge Raffat ser fuzilado com uma arma de guerra, no meio da rua em Pedro Juan Caballero, apesar de estar em um veículo blindado.