Na ação em que cobra R$ 4,7 milhões de ressarcimento por corrupção no Hospital Regional Rosa Pedrossian, em Campo Grande, o MPE (Ministério Público Estadual) detalha que Rehder Batista dos Santos (então coordenador de Logística e Suprimentos e diretor Administrativo e Financeiro do HR) ganhou carro e teve até multa de trânsito paga sem precisa pôr a mão no bolso.
Conforme a denúncia, a fonte de tantos mimos era o empresário Emerson Ludwig, da Mega Comércio de Produtos Hospitalares. A relação era ganha-ganha: o diretor ganhava vantagens, o empresário levava milhões em compras fictícias, enquanto os cofres públicos eram lesados.
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O esquema mostrado pelo MPE é ainda mais revoltante por se tratar do combalido sistema de saúde pública. Afinal, quem não tem um conhecido penando à espera de exame ou cirurgia? Ao passo que milhões escorriam pelo ralo.
Nas palavras dos promotores Adriano Lobo e Humberto Lapa Ferri, ambos atuantes contra a improbidade administrativa, a corrupção era temática habitual entre o servidor e o empresário.
“As evidências indicam, portanto, a habitual corrupção do servidor junto ao empresário, envolvendo encontros escusos, entregas cifradas, diversas contas do agente público pagas pelo empresário, até que as provas revelam, indene de dúvida, que, no dia 1º de agosto de 2017, Emerson promete e dá vantagem indevida a Rehder no valor original de R$ 626,72”.
Antes, pelo WhatsApp, o diretor envia para Emerson foto de um boleto de multa de trânsito de um HB20, de propriedade de Rehder. Depois, o empresário envia imagem com comprovante de pagamento do débito.
A partir de outubro de 2017, começam tratativas sobre a vantagem indevida consistente na entrega de um carro de Emerson para Rehder. Inicialmente, Emerson diz: “Pedi para ver ou a estrada ou um corola”. Em referência a picape Fiat Strada e um Corola.
Pouco depois, já no dia 3 de novembro de 2017, Emerson ofertou ao servidor público um automóvel modelo Tucson 2015 (não aceito por Rehder devido ao “baixo” valor). Na sequência, em 13 de dezembro de 2017, Emerson ofereceu a Strada, recusada pelo servidor. Ele relata que conversou com a esposa e o casal não tinha mais interesse em “carro de carroceria”.
Finalmente, em 18 de dezembro de 2017, o empresário Emerson ofertou, prometeu e deu um automóvel Prisma para Rehder, cujo valor atualizado é de R$ 156.929. O carro foi registrado em nome da esposa do servidor.
Apesar do presente, Rehder é enfático ao solicitar uma “diferença” em relação ao automóvel recebido. Portanto, mais uma vantagem indevida.
De acordo com o MPE, Emerson Ludwig agiu dessa forma para que a propina determinasse as ações do diretor. Incluindo abertura de processos de compras, notadamente de quantitativos em excesso, incompatíveis com o consumo do hospital público.
Influindo na suspensão de licitação cujo andamento seria prejudicial aos interesses do empresário, além da omissão em fiscalizar.
Numa das compras fictícias mais rumorosas, somente em maio de 2018, a Mega Comércio emitiu três notas ficais falsas, que totalizaram R$ 2.550.600,00. A venda simulada foi de 18 mil frascos de contraste radiológico.
“Assim agindo, mediante simulação, constou como se somente naquele mês houvesse a compra e o consumo imediato de 18.000 contrastes, situação absurda diante da realidade daquele hospital público”.
Durante o ano de 2016, foram 7.299 unidades. No ano de 2017, o consumo foi de 9.978 unidades. A compra fictícia e milionária dos 18 mil frascos foi bastante comemorada.
“Em um desejo incontrolável, o denunciado Emerson ainda exige do servidor: “Passa a cópia sem assinar mesmo”, “Se não não vou conseguir dormir”, “Uma foto qualquer coisa”, ao que o coordenador/diretor encaminha a cópia da nota de empenho, daquela data, no valor de R$ 2.550.600,00”.
Na sequência, o diretor enaltece e se vangloria por ter atendido ao desejo do empresário. “Vc não confia mesmo né”, “Quando vc vai entender q sou seu brother?”.