Albertino Ribeiro
Na cidade de Buenos Aires, na Rua Calle Chile, 371, é possível visitar a estátua da Mafalda, personagem do cartunista Quino, falecido em 30 de setembro de 2020. O local se tornou lugar de peregrinação de vários fãs da menina progressista e sonhadora.
Mafalda sempre protestou contra a injustiças social, fruto de um capitalismo fora de controle, cuja tendência é acumular e promover desigualdades. “Você é contra o capitalismo? Vai para a Coreia do Norte, então!” Não se trata disso. Não há necessidade de radicalizar o discurso. Penso que o capitalismo pode ser regulado e domado de forma semelhante à que acontece em países da Europa, principalmente nos Estados nórdicos.
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Entretanto, o candidato da extrema-direita, Javier Milei, quer justamente o contrário. O “neoliberaloide” deseja banir o Estado da economia. Inclusive, existe uma certa ironia nessa trama, pois Javier – cujo nome significa “nova casa” -, se apresenta à sociedade argentina como alternativa nova, mas tem ideias antigas; e foram justamente estas que lançaram o país no buraco em que se encontra.
Além das propostas “anarcocapitalistas” de retirar o Estado da atividade econômica, Milei quer dolarizar novamente a economia argentina, como fez o ex-ministro Domingos Cavalo em 2001. As ideias de Cavalo mergulharam nossos hermanos em um precipício, cujos efeitos deletérios reverberam até hoje.
O corralito, plano econômico argentino que tornou o dólar a moeda oficial, trouxe sérias consequências para a terra natal de Lionel Messi, pois o país perdeu o controle no campo da política monetária.
Ademais, a situação piorou, quando a falta de dólares invadiu o corralito, levando o país vizinho há uma grande restrição externa, deixando-o sem condições de financiar suas importações. Destarte, a taxa de câmbio disparou, pressionando a inflação.
Hoje, um dólar americano vale 352 pesos, o que alimenta mais ainda o dragão argentino. Então, para combate-lo e conter a sangria de dólares, o Banco Central aumentou a taxa de juros. Pois é, a Selic argentina está em 118% ao ano; e além de provocar desemprego e queda na renda da população, não consegue arrefecer o processo inflacionário.
“É possível – com um cenário desses -, as coisas piorarem?” Sim. O caos será bem pior se a cadeira da presidência for ocupada por alguém que odeia a justiça social, algo tão caro à Mafalda, que sempre sonhou com uma Argentina mais justa e solidária.