No depoimento mais aguardado do segundo dia do júri, Eliane Benites Batalha dos Santos, ex-esposa do ex-guarda civil Marcelo Rios, afirmou que sofreu pressão de policiais e foi manipulada em seu depoimento. Ela ainda acusou os agentes de fazer terror psicológico contra seus filhos no período em que ficaram hospedados na sede do Garras, em Campo Grande.
Eliane foi testemunha-chave para desvendar os crimes investigados na operação Omertà, mas mudou de lado e iria se pronunciar em defesa do empresário Jamil Name Filho. No entanto, o acusado dispensou a testemunha e ela depôs como informante sobre a execução do universitário Matheus Coutinho Xavier, em 9 de abril de 2019.
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Marcelo Rios foi o pivô da ofensiva do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros) e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) ao ser flagrado com arsenal em imóvel da família Name.
No início de seu depoimento, Eliane se apresentou como ex-esposa de Marcelo. Ela informou que não se lembra se falou sobre a morte de Matheus em seu primeiro depoimento no Garras, após a prisão do marido. A informante relatou que os policiais foram até a casa dela e informaram que ela tinha que ter ido para o Garras. Eliane disse que a polícia informou que ela estava sendo presa.
Eliane disse que as perguntas no primeiro dia foram sobre a vida de Marcelo, como e onde ele trabalhava e, no início, estava sem advogado, mas acabou sendo auxiliada pelo mesmo defensor do marido.
No dia seguinte, a informante afirmou que os policiais do Garras foram até a casa dela e alegou ter sido levada e mantida contra sua vontade na delegacia. A justificativa, segunda ela, é de que estaria sendo ameaçada.
Eliane diz que um de seus depoimentos não foi feito por ela e que não pôde ler o próprio relato. O advogado de defesa disse que houve dois depoimentos, o primeiro teria sido manipulado e o outro é o que ela disse que deu.
Eliane contou que os filhos foram juntos para o Garras e sofriam terror psicológico. Ela e Marcelo Rios se emocionaram no momento em que a informante começou a falar sobre as crianças a terem ficado na delegacia.
Durante os cinco dias em que ficou no Garras, Eliane afirma ter ido a uma farmácia para comprar fraldas para os filhos. Os policiais a acompanharam armados. A mulher disse que as crianças perguntaram: “Mamãe, nós somos bandidos? Eles (policiais) sempre andam com a arma apontada para nós”.
Eliane faz novas acusações contra policiais e diz que os filhos, de 5 e 7 anos na época, escutaram que teriam as cabeças arrancadas, caso os pais não colaborassem. Ela relata que os filhos eram ameaçados com armas pelos policiais. Para ela, foi um inferno viver o período no Garras.
A mulher disse que uma das crianças teria escutado que “se a mamãe não colaborasse e conversasse com o papai, cada um ia para uma família e eles iriam para um abrigo”.
Eliane teria dito na entrevista aos policiais que Jamilzinho mandou Rios contratar matadores. Entretanto, no júri, afirmou que nunca disse isso.
“Eu sou mãe, se qualquer coisa que eu tivesse fazer por meus filhos, faria”, declarou. “Eu, no meu lugar de mãe, faria de tudo para os meus filhos. Eu falei tudo que os policiais falaram para eu falar. Falei para defender meus filhos”.
*Com informações do Primeira Página