Como as defesas desistiram de ouvir testemunhas, esta terça-feira (18) foi marcada pelo depoimento dos acusados de participar do assassinato do Matheus Coutinho Xavier. O empresário Jamil Name Filho, o ex-guarda municipal Marcelo Rios e o policial aposentado Vladenilson Daniel Olmedo deram suas versões sobre as revelações da operação Omertà.
Acusado de ser o mandante do crime, Jamil Name Filho negou a acusação. “Eu não fui o mandante nem da morte do Paulo Xavier, nem de ninguém. Graças a Deus, eu não tenho essa índole, como que eu vou dizer para o senhor, essa maneira de lidar com as coisas”, declarou.
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Jamilzinho afirmou, durante o júri, que nunca ouviu falar no nome de Juanil Miranda de Lima, suposto matador contratado para assassinar PX. Segundo ele, o pistoleiro seria integrante de uma facção criminosa, o PCC (Primeiro Comando da Capital). Aproveitou, ainda, para citar a ligação entre Paulo Xavier com Major Carvalho, ex-major da PM do Estado, considerado um dos maiores narcotraficantes do mundo, a ponto de ser apelidado de “ Pablo Escobar Brasileiro”.
Jamilzinho comentou que conheceu PX três meses após o ex-capitão ter saído da prisão, após ser detido por suspeita de contravenção. Name Filho também negou envolvimento com o jogo do bicho.
“Eu não atuo no jogo do bicho. Eu atuei em empresa de promoção de loteria em Mato Grosso do Sul”, disparou.
Conforme a denúncia do Ministério Público Estadual e depoimentos de delegados, o alvo da execução era o capitão da reserva da Polícia Militar Paulo Roberto Teixeira Xavier, o PX, mas seu filho Matheus acabou sendo morto em seu lugar.
No início de seu depoimento, o empresário comentou que sempre viveu em Campo Grande. Ao falar da morte do pai, Jamil Name, que também estava preso na penitenciária em Mossoró, no Rio Grande do Norte, ele se emocionou e deu várias pausas no seu relato. Disse que está “feliz” por voltar à Capital, após quatro anos preso no nordeste.
Sobre as relações com os outros réus, Name Filho disse que Marcelo Rios era “guardinha” municipal e trabalhava para sua família como “bico”, em serviços como motorista. A respeito de Vladenilson Olmedo, relatou que este seria responsável por vários serviços, e tinha mais relação com seu pai, Jamil Name.
O arsenal encontrado com Marcelo Rios, em uma casa de propriedade dos Name, também negou relação.
“Eu nunca fui nessa casa. Segundo, eu não tenho grupo armado de assalto a banco, nem de facção criminosa, nem de tráfico de drogas para ter ou para qualquer tipo de vínculo de relação com aquilo que foi apreendido. Se caso fosse, pertence meu, como eles dizem que é uma organização muito bem, eu vou deixar dentro de uma propriedade minha, no centro da cidade?”, disse.
A Promotoria não fez nenhuma pergunta a Jamil Name Filho, mas a assistente de acusação, Cristiane Coutinho, mãe de Matheus Xavier, fez questionamentos. Ela perguntou sobre a dinâmica de contratações dos policiais e guardas civis que trabalhavam para Name.
Em determinado momento, o réu perguntou o nome dela novamente, e também pediu “calma”. Ela rebateu, afirmando que “está calma”.
No fim, afirmou que não houve traição entre PX e a família Name. Para ele, a situação é “ilógica”. E revelou uma conversa com o pai durante um banho de sol na penitenciária, pouco antes da morte do patriarca por complicações da covid-19.
“O meu nome, Jamil Name, e o que eu fiz e construí a vida inteira. Prometa para mim que você vai limpar tudo isso que foi feito”, teria dito Jamil Name.
Marcelo Rios
O ex-guarda civil municipal Marcelo Rios, 46 anos, negou envolvimento no homicídio de Matheus, mas admitiu ser o responsável pelo arsenal apreendido na casa do Bairro Monte Líbano, o estopim para a Operação Omertà. Ainda desvinculou os Name de qualquer crime atribuído a ele.
Rios afirmou que foi Juanil Miranda, apontado no processo como um dos pistoleiros contratados para a execução por engano, quem o procurou e o contratou para guardar as armas.
“Cometi um crime em 2019, no comecinho de maio, 5 ou 6 de maio, o Juanil me ofereceu para guardar essas armas para ele, assumi que fiz isso. Guardei essas armas por 2 mil reais. Foram os R$ 2 mil mais caros da minha vida”, declarou.
Acusado de planejar a morte do policial militar Paulo Roberto Teixeira Xavier, mas que acabou vitimando seu filho Matheus, e contratar os pistoleiros, Rios comentou sobre a relação com a família Name.
“Eu comecei a trabalhar em 2016. Fazia de tudo. Depois, eu era a pessoa que trazia gente pra trabalhar na casa, trouxe o Antunes, Erolnaldo e o Robert [todos foram alvos da Omertà]. Depois de um tempo, virei um funcionário de confiança do seu Jamil [Name, o pai]”, relatou.
“O Juanil pode ser que ele fosse vigia, mas eu não tinha contato direto com ele. Ele me mostrou algumas armas e perguntou se eu queria comprar, só isso”, prosseguiu.
Marcelo Rios disse que Juanil o convenceu a guardar as armas em uma casa de Jamil Name, pois precisava de alguém para cuidar delas por 20 dias, mas negou ter envolvimento no assassinato.
“Essa coisa de homicídio desse garoto eu não sei, eu assumo meus erros, mas disso aí tenho nada ver. Ontem, quando o pai da vítima estava aqui chorando, me segurei para não chorar, porque sou pai de família e deve ser horrível perder o filho como ele perdeu”, declarou.
Rios ainda afirmou que foi torturado quando estava preso no Garras. “Me amarraram pelos braços no alto. Peró me arrebentou, me levando a arrebentar o meu braço”, relatou, citando o delegado Fabio Peró. Alegou também que foi vítima de armação.
Vladenilson Olmedo
O policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, 64 anos, foi o primeiro entre os réus a prestar depoimento. Ele negou qualquer participação no crime. O Ministério Público Estadual o acusa de ser o gerente da família Name, sendo responsável por intermediar as ordens de Jamil Name e Jamil Name Filho e os integrantes do grupo.
“Não é verdade, eu sou inocente dessa acusação”, declarou Vladenilson, após pergunta do juiz Aluizio Pereira dos Santos. “Eu não pratiquei, não tive conhecimento, não ajudei em nada e nem tomei conhecimento de nada dos fatos ocorridos”.
Olmedo informou que tem seis filhos, foi policial durante 20 anos e se aposentou em 2008. Em 2014, trabalhou na Pantanal Cap, empresa que atribuiu sendo de propriedade de Jamil Name, onde ficou por três anos e meio. Anos depois, voltou a exercer função para a família, desta vez, na casa dos Name. “O principal era serviço bancário”.
O policial disse que não conhecia Juanil Miranda de Lima, pistoleiro acusado de executar Matheus Xavier. Já sobre José Moreira Freixes, o “Zezinho”, suposto comparsa de Juanil no assassinato, disse que o conheceu em um hospital.
Sobre o pai da vítima, Paulo Roberto Teixeira Xavier, o PX, diz que o conheceu por ter trabalhado para os Name.
Olmedo negou ter conhecimento de uma carta em que um detento delata plano da milícia de matar autoridades, como promotores e o delegado Fábio Peró, como foi revelado pela Operação Omertà. “Ouvi falar, mas não conheço o teor, nem o conheço [Kauê Vitor Santos da Silva]”.
“Não, não participei, desconheço”, voltou a dizer Olmedo, sobre a participação na morte do estudante.
“Declaro que sou inocente senhor, eu sou inocente! Nós sofremos aí, sofrimento de passar no presídio federal, sofrimento de ver um amigo nosso morrer lá, minguando, foi morrendo devagarzinho, nós vimos que ele tava morrendo, ele acabou morrendo mesmo no presídio, sem ter oportunidade de se justificar”, concluiu Vladenilson, fazendo referência a Jamil Name, que morreu aos 82 anos, vítima de complicações da covid-19, quando estava detido no Presídio Federal de Mossoró (RN).
*Com informações do Primeira Página e Campo Grande News