O aguardado depoimento do capitão da reserva da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul Paulo Roberto Teixeira Xavier foi marcado pela emoção do relato sobre os últimos momentos do filho após o atentado. Ele conseguiu a solidariedade até do advogado Nefi Cordeiro, ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça e integrante da equipe de defesa de Jamil Name Filho, acusado de ser o mandante do crime.
Próximo do fim do depoimento de PX, Cordeiro mostrou empatia pelo relato do pai sobre a perda do filho de forma brutal.
“Como ser humano, como pai, ainda mais a perda de um filho que estava fazendo Direito e tinha toda a vida pela frente”, afirmou o defensor.
“Uma coisa é quando você perde o filho em um acidente. Outra bem diferente é se esses três, auxiliado pelos outros assassinos, me matassem. Não fizessem aquela covardia com o meu filho. Quando teu filho morre no seu lugar é completamente diferente”, rebateu Paulo Roberto.
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O PM deu detalhes sobre seu envolvimento com o empresário Jamil Name Filho, acusado de ser o mandante do crime. A dor de Paulo Xavier, o PX, acabou contagiando a mãe do estudante Matheus Coutinho Xavier, assassinado aos 20 anos, em abril de 2019. A advogada Cristiane de Almeida Coutinho atua como assistente de acusação do Ministério Público Estadual e não conseguiu segurar as lágrimas ao ouvir o relato do pai do jovem, que prestou depoimento como informante.
O policial contou que, no dia do crime, estava estudando ouvindo música com fone de ouvido e pediu para o filho buscar os irmãos na escola. Quando o jovem foi dirigir a caminhonete, foram ouvidos disparos, segundo alerta de uma mulher que trabalhava na casa. PX foi ver o que tinha ocorrido e viu o filho ensanguentado.
Paulo Xavier, então, tomou a direção e dirigiu até a Santa Casa de Campo Grande. “Dirigia com uma mão e com outra segurava o corpo do meu filho. Com uma mão segurava ele, conversava com ele, ele ainda respirava, gemia”, contou em meio às lágrimas.
“Meu amado filho ainda respirava com dificuldade e eu dizia para ele, eu dizia ‘resista, resista’”, narrou, conforme registro do Midiamax, o jovem sangrava pela boca, nariz e ouvidos. Quando chegou ao hospital, Matheus já não respirava.
“Eu falava ‘salva o meu filho, salva o meu filho’. Eu vi que um balançou a cabeça negativa, mas disse ‘vamos levar’. Eu fiquei esperando porque não podia entrar, logo veio uma psicóloga falando que ele tinha falecido”. Matheus completaria 25 anos em um mês, 17 de agosto.
“Matheus tinha namorada, era pra estar formado. Se estivesse aqui seria um bom homem, escrevia livros, já estava no segundo livro”, contou PX.
Durante o depoimento, o juiz Aluízio Pereira dos Santos perguntou se PX gostaria que os réus fossem retirados da sala. “Podem ficar, não tenho medo. O que eles poderiam fazer comigo, doutor, fizeram pior”, respondeu.
O policial militar narrou que, em 2008, comandou o policiamento da área central de Campo Grande e apreendeu máquinas caça-níqueis do jogo do bicho, segundo ele, de propriedade dos Name. Em 2009, foi preso por causa de uma denúncia de corrupção.
“Depois disso, o Vlad [Vladenilson Olmedo] me procurou e disse que os Name queriam falar comigo”, contou. Jamil Name teria perguntado: “Aprendeu a lição?”. “Eu já estava todo enrolado na PM, cheio de processo, respondi: ‘entendi’”, conforme registro do Campo Grande News.
Xavier contou que foi segurança de Jamilzinho e depois com Antônio Augusto, a quem passou a prestar serviço e a disputa pelas fazendas Invernadinha e Figueira, entre advogado e os Name. “Um imputava ao outro dívida de algumas dezenas de milhões”.
O promotor Gerson Eduardo Araújo perguntou sobre como foi após a morte de Matheus. PX disse que Vladenilson chegou no outro dia da morte afirmando que Jamilzinho queria falar com Jamil. PX foi até a casa dos Name.
O informante relatou que Jamilzinho conversou com ele separado do pai, Jamil Name. No mesmo dia estavam Vlade e Marcelo Rios no local. Jamilzinho disse que ia dar um dinheiro para PX sair de Campo Grande, cerca de R$ 10 mil.
PX disse que foi pedido por Jamil para não conversar com ninguém. “Enterra seu filho e vai embora”.
Prisão de Name levou ao fim das execuções na Capital, diz delegado
Os delegados Carlos Delano Gering Leandro de Souza e Tiago Macedo dos Santos, integrantes da Força-Tarefa criada para investigar a milícia, foram outros destaques do primeiro dia do júri popular nesta segunda.
Delano destacou, ao responder questionamento do promotor Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, de que os crimes de pistolagem terminaram na Capital com a prisão de Jamil Name e de Jamil Name Filho em setembro de 2019. Eles ficaram isolados na Penitenciária Federal de Mossoró. O pai morreu em junho de 2021 em decorrências das complicações da covid-19.
“Depois da prisão dos acusados, Campo Grande voltou a ver crime semelhante, praticado com fuzil, em plena luz do dia? Carros queimados logo depois e etc?”, questionou Douglas. O delegado foi seco e sucinto na resposta: “não”.
Outro ponto destacado foi que os acusados de executar o universitário, José Moreira Freires, o Zezinho, e Juanil Miranda Lima, sumiram após a polícia começar a encontrar indícios dos crimes de pistolagem.
Condenado pela execução do delegado aposentado Paulo Magalhães em junho de 2013, Zezinho foi morto em confronto com policiais no Rio Grande do Norte. Juanil segue foragido até hoje.
Polícia teve dificuldade para desvendar quebra-cabeças e apontar os culpados pela execução, conta Macedo
Macedo foi objetivo ao mostrar que organização criminosa não deixa provas nem determina as execuções por meio de bilhetes. O delegado explicou como a Força-Tarefa conseguiu montar o quebra-cabeças para ligar a morte do universitário à milícia armada.
“Essas ordens (de determinar a execução) não vêm por escrito. Não deixam registro”, contou, explicando que a polícia foi obrigada a ligar as peças e sempre terá dificuldade em encontrar provas cabais do crime.
Um dos pontos foi a tornozeleira eletrônica de Zezinho, que passou na frente da casa de Paulo Roberto Teixeira Xavier, o verdadeiro alvo da execução. Os dados do celular do pai de Matheus, Paulo Xavier, que entre 2008 e 2013 trabalhou para a família de Jamilzinho; e depoimentos de envolvidos e testemunhas.
“A filha do Juanil (Yasmin) relatou que o pai nutria fortes vínculos com Zezinho há duas décadas. Zezinho, já condenado, era monitorado por tornozeleira. Dados da tornozeleira mostraram ele perto da casa de Paulo Xavier dias antes. Essa informação corrobora que não se trata de crime de homicídio comum, mas um crime de encomenda. Zezinho era uma pessoa especial para a organização, seria pistoleiro dos Name”, relatou o delegado, conforme registro do Campo Grande News.
O primeiro dia do júri teve o depoimento de cinco testemunhas. Amanhã, o julgamento recomeça com as testemunhas de defesa.