“Naquele dia, eles me mataram duas vezes”, afirma o capitão da reserva da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, Paulo Roberto Teixeira Xavier, sobre o brutal assassinato do filho, o estudante Matheus Coutinho Xavier, aos 20 anos, no dia 9 de abril de 2019. “Espero a condenação”, diz, sobre o júri popular dos acusados pelo crime, que começa nesta segunda-feira (17) em Campo Grande.
O julgamento do empresário Jamil Name Filho, 46 anos, acusado de ser o mandante da execução, do guarda municipal Marcelo Rios e do policial civil Vladenilson Daniel Olmedo, por terem agenciado os pistoleiros, é considerado o júri da década pelo simbolismo e pela estrutura envolvida.
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Os supostos pistoleiros seriam José Moreira Freires, o Zezinho, morto em confronto com a polícia do Rio Grande do Norte, e Juanil Lima Miranda, que está foragido desde o homicídio. Eles teriam sido contratados para matar Xavier, que passou a ser inimigo do empresário Jamil Name e do filho, por ter favorecido um advogado de São Paulo, Antônio Augusto de Souza Coelho, em negociação envolvendo a Fazenda Figueira, de 19,1 mil hectares em Jardim.
“Perder um filho é muito dolorido. Ele ter falecido em meu lugar… mais ainda”, ressalta o capitão da reserva da PM, sobre a execução de Matheus, com tiros de fuzil calibre 762, a arma usada nas execuções realizadas nos últimos anos em Campo Grande. “Se tivesse mil vidas… perderia todas em prol do meu amado filho”, pontua o pai.
“Naquele dia, eles me mataram duas vezes”, diz Xavier, o verdadeiro alvo dos criminosos, conforme a investigação feita pelo Garras e pelo Gaeco. Matheus era mais velho dos quatro filhos e que tinha uma grande proximidade com o pai.
No 3º semestre do curso de Direito na UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), ele era atuante na instituição e até já fazia parte do Centro Acadêmico da faculdade. “Um menino maravilhoso. Já estava escrevendo o 2º livro. Brilhante aluno de Direito. Amigo de todo mundo”, gaba-se o pai.
“Ele era o mais velho. Meu amigo”, relembra o capitão. Os dois tinham o hábito de disputar partidas de xadrez e lutas de judô. “Tínhamos um tatame em casa para brincarmos”, conta Paulo Roberto Teixeira Xavier.
“A dor é infinitamente maior e permanente”, diz, sobre a perda precoce do primogênito e melhor amigo. O policial vai ser um dos primeiros a depor no júri nesta segunda-feira (17) e vai reforçar a equipe de acusação. O juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, deixou claro que ele vai participar na condição de informante.
A luta é por Justiça e pela condenação dos acusados pelo crime. Para Paulo Roberto, a condenação de Jamilzinho poderá desvendar outros crimes. “E que depois desta condenação, outras pessoas, acreditando mais na Justiça do nosso Estado, venham fazer denúncias de crimes até então não esclarecidos”, acredita.
O júri começa amanhã e começará com o depoimento das testemunhas de acusação. O juiz prevê que o julgamento deverá ser encerrado apenas na sexta-feira com o veredicto do júri.