O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) está sendo acusado de racismo por declarações dadas durante a gravação de um podcast e deve ser alvo de pedido de cassação no Conselho de Ética da Câmara. O parlamentar bolsonarista esteve em Mato Grosso do Sul, no início deste mês, para participar de um seminário na Assembleia Legislativa.
O ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, afirmou que enviou o vídeo em que Gayer fez “ofensas discriminatórias a brasileiros e africanos, bem como a autoridades da República,” ao Ministério da Justiça, à Polícia Federal, à Câmara dos Deputados e à Procuradoria-Geral da República.
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Almeida afirmou que “a imunidade parlamentar não é escudo para quem pratica crimes”.
Durante a participação no podcast “3 Irmãos”, o parlamentar goiano criticou a “falta de capacidade cognitiva” dos africanos, o que, na visão dele, os impediria de desenvolver regimes democráticos. Além disso, afirmou que “o Brasil está emburrecido”.
“Não tem como [a democracia dar certo no Brasil]. Você pega e dá título de eleitor para um monte de gente emburrecida”, declarou Gayer.
Em seguida, o apresentador do programa fez a seguinte observação: “Você sabia que tem macaco com o QI de 90?”
O deputado disse “eu vi isso aí também”. “72 na África, o QI. Não dá para a gente esperar alguma coisa da nossa população”, respondeu o apresentador Rodrigo Barbosa Arantes.
Gayer então argumenta que, no continente africano, “quase todos os países são ditaduras”. “Democracia não prospera na África porque, para você ter uma democracia, você precisa ter um mínimo de capacidade cognitiva de entender entre o bom e o ruim, o certo e o errado”, disse.
Após a gravação viralizar nas redes sociais, a deputada Duda Salabert (PDT-MG) afirmou, nesta quarta-feira (28), que vai pedir a cassação do deputado goiano.
“A Câmara não pode ser espaço para racista. [Gayer] Deveria ser preso, além de perder o mandato”, disparou a deputada.
Debate na Assembleia Legislativa de MS
Gustavo Gayer participou, em 1° de junho, do Seminário sobre Doutrinação Ideológica no Ensino, organizado pelo deputado estadual Rafael Tavares (PRTB), e que também contou com a participação do deputado federal Marcos Pollon (PL-MS), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
Parlamentares, estudantes, professores, entidades de classes, instituições de ensino e a sociedade civil participaram do debate. “Família e a importância de fortalecer esses laços entre pais e filhos” foi um dos encaminhamentos do evento.
Em sua participação, Gayer falou sobre doutrinação nas escolas e atacou o educador, reconhecido internacionalmente, Paulo Freire.
“A doutrinação nada mais é que retirar daquele indivíduo a capacidade de ser um ser pensante, ser reduzido a uma peça ideológica, que só repete o que a ideologia determina. E acontece de uma maneira muito sórdida, quase imperceptível, e isso está no livro do patrono da Educação, tão defendido pela Esquerda, Paulo Freire”, discursou.
Durante a sessão da última terça-feira (27), Rafael Tavares foi alvo de protestos de professores, que acusam o parlamentar de perseguição, e defenderam a liberdade de cátedra, de ensino e pensamento nas salas de aula.