Albertino Ribeiro
Nestes últimos dias, os olhos do mundo estavam atentos ao submersível da empresa OceanGates, que perdeu o contato com a superfície após submergir, indo ao encontro dos destroços do Titanic. Segundo relato de especialistas e pessoas ligadas à segurança marítima, o CEO da empresa desprezou a ciência e as orientações das empresas de certificação, como a Lloyd’s Register, organização muito respeitada neste segmento.
Segundo Estockton Rush, a preocupação com segurança seria uma perda de tempo. Em suas palavras: “Quem se preocupa muito com segurança não deveria, nem mesmo, sair de casa ou entrar em um carro”. Ainda, em suas palavras, as regulações e preocupações com a segurança seriam um fator impeditivo da inovação das embarcações.
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Em um outro momento, o executivo se gabava por ter quebrado regras em relação ao material utilizado na construção do submersível, que misturava titânio e fibra de carbono. Segundo os especialistas, o titânio não deveria ser misturado à fibra de carbono, pois ambos possuíam reações diferentes à alta pressão no fundo do mar.
Interessante a relação entre esta expedição e a viagem do Titanic. Assim como o capitão da pomposa embarcação de 1912, o senhor Edward Smith, foi prepotente e não levou em consideração os alertas e recomendações de que não poderia navegar em alta velocidade em um oceano cheio de ice Berg, o executivo da OceanGates agiu da mesma maneira.
A conduta temerária e gananciosa do senhor Rush o enquadra como se fosse uma caricatura humana do fanatismo liberal, que é refratário a tudo que diz respeito a regulação e segurança operacional.
Destarte, esta é a essência de um liberaloide; ele não apenas recusa a intervenção do estado na vida da sociedade, mas também rechaça qualquer instrumento regulatório. Talvez pessoas assim tenham dificuldade – no campo psicanalítico – em lhe dar com a questão da autoridade. Acho que, em seu pensamento, toda e qualquer regulação seria uma espécie de superego que o impede de viver sua plena subjetividade.
Esse caso me fez pensar na questão da regulação da Inteligência Artificial. Tenho certeza que existem, nas big techs, pessoas com esse mesmo tipo de pensamento. Isso é extremamente perigoso! Será que esses liberaloides tecnológicos e megalomaníacos respeitarão os limites da segurança e do bom senso nesta área?
Temo que não. Se o Estado não tomar iniciativas, inclusive coercitivas, para conter a sanha de liberdade negativa dessas personagens ufanantes, o mundo estará em perigo semelhantes a muitos filmes de ficção científica, que mostra a humanidade sendo ameaçada ou, até mesmo, dominada pelas máquinas.