No roteiro da operação Cascalhos de Areia, quatro empresas investigadas firmaram contratos de R$ 405.114.365,44 com a Prefeitura de Campo Grande entre os anos de 2017 e 2022. Mais da metade do valor ficou para a empresa JR Comércios e Serviços: R$ 224.767.711,66 em contratos de locação de maquinário.
Seguir o rastro do dinheiro, neste caso, leva a uma situação curiosa. A empresa é registrada em nome de Adir Paulino Fernandes, um vendedor de queijo, que informou ter renda mensal de R$ 2.500. No papel, sua empresa tem capital social de R$ 500 mil.
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No dia da operação, realizada na quinta-feira, ele acabou preso em flagrante pela posse de arma de fogo. O mandado foi cumprido na Chácara Santa Dirce, em Terenos. Adir pagou fiança de um salário-mínimo (R$ 1.320). Em depoimento, contou ser motorista autônomo e que sobrevive com a renda da comercialização de queijos.
Já consulta ao Portal da Transparência da Prefeitura mostra um cenário bem diferente. A empresa JR Comércios e Serviços é destinatária de milhões. Somente um contrato, que começou em 2017 e vai até agosto de 2023, tem valor de R$ 219 milhões. A cifra é paga pelos cofres públicos para locação de máquinas pesadas, caminhões, veículos leves e equipamentos, com custeio também de combustível, operador, motorista, alimentação, traslado e manutenção de todo o maquinário.
A empresa também foi contratada para locação de veículos de passeio sem motorista (R$ 862 mil), locação de caminhões para transporte de materiais (R$ 3,9 milhões) e locação de veículos para atender a Casa da Mulher Brasileira (R$ 179 mil).
No ranking dos contratos com maiores valores, a empresa MS Brasil Comércios e Serviços ocupa a segunda posição: R$ 117.377.874,29. O mais caro é locação de máquinas e veículos, tal qual o contrato com a JR Comércios. Neste caso, o montante é de R$ 108.079.795,25.
Os demais contratos são de locação de máquinas pesadas, caminhões e equipamentos. As duas contratações foram firmadas em 2022 e com o mesmo valor: R$ 4.649.039,52. A MS Brasil é de propriedade de Edcarlos Jesus Silva.
Já no segmento de manutenção de vias não pavimentadas, o maior desembolso da prefeitura é com a Engenex Construções e Serviços: R$ 37.173.332,46. São dois contratos firmados em 2018 e com validade até 2024. Até 2021, o representante da empresa era Mamed Dib Rahim. Depois, o contrato foi assinado por Edcarlos Jesus Silva, que aparece na Receita Federal como dono da empresa, numa sociedade com Paulo Henrique Silva Maciel.
Mais conhecida na cidade por ter contratos com o poder público, a empresa André L dos Santos Ltda, AL dos Santos, teve dois contratos para manutenção de vias não pavimentadas entre 2017 e 2022. O valor total é de R$ 25.795.447,03.
A operação Cascalhos de Areia teve início com denúncia anônima de que o empresário André Luiz dos Santos, o André Patrola, seria laranja de Marquinhos Trad (PSD) para compra de imóveis. O ex-prefeito ressaltou que é amigo do empreiteiro, mas negou ter feito qualquer negociação.
Os promotores apuram os crimes de peculato, corrupção passiva e ativa e fraude à licitação.
O juiz Waldir Peixoto Barbosa, da 5ª Vara Criminal de Campo Grande, negou o pedido do MPE para investigar os empresários. Os promotores Adriano Lobo Viana de Resende, do GECOC (Grupo Especial de Combate à Corrupção), e Humberto Lapa Ferri, da 31ª Promotoria do Patrimônio Público, recorreram e conseguiram o aval do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) para deflagrar a operação.