Pouco mais de um ano para as eleições municipais de 2024, está formado o desenho da principal frente de batalha. O embate entre o PP, em busca da reeleição de Adriane Lopes, e o PSDB, com Beto Pereira, tentando consolidar o sonho tucano de ter o comando de Mato Grosso do Sul e Campo Grande simultaneamente.
Nos bastidores, o duelo ocorre entre a senadora Tereza Cristina, líder regional do Progressistas, e o ex-governador Reinaldo Azambuja, chefe do tucanato em MS. Nesta semana, a ex-ministra de Jair Bolsonaro deu um passo fundamental, com a filiação de Adriane ao seu partido. Com isso, o PP controla a máquina dos dois maiores colégios eleitorais do Estado, a Capital e Dourados.
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Conforme o Tribunal Regional Eleitoral, as duas cidades juntas têm 810.644 eleitores, 40,41% dos 2.005.922 total. O PP ainda tem o comando de outras 20 cidades sul-mato-grossenses e da Assembleia Legislativa, com o deputado Gerson Claro.
Para mostrar força e grandeza, o PP apostou em uma grande festa no ato de filiação de Adriane Lopes. Tereza Cristina e o presidente nacional do Progressistas, Ciro Nogueira, marcaram presença no evento que, segundo o partido, reuniu cinco mil pessoas.
O PSDB, além de ter o governador Eduardo Riedel, possui 40 prefeitos em suas fileiras, com projeções de chegar a 47 ainda neste mês de junho, ou seja, bem mais que a metade dos 79 municípios de MS.
O ninho tucano, naturalmente, busca consolidar sua hegemonia com o controle administrativo de Campo Grande, em 2024, e ter um representante no Senado em 2026, quando duas vagas estarão em disputa. Desta forma, fecharia o ciclo com mando no Estado, na Capital e bancada nas duas casas do Congresso Nacional.
“Muito impressionante”, avalia o doutor em ciência política e social Daniel Miranda. Para ele, o predomínio de prefeitos filiados ao PSDB se deve ao controle do Parque dos Poderes, porém, aponta que o mais “incrível” é o partido ter conseguido o feito inédito de vencer três eleições seguidas ao governo de MS.
“É algo que nenhum partido alcançou anteriormente. PMDB (82 e 86; 2006; 2010) e PT (1998 e 2002) foram os únicos que conseguiram duas seguidas. Mas três, nenhum até então. Além disso, fora Pedrossian (1991-1995), o estado sempre foi governado por PMDB e PT. O PSDB não apenas saiu vitorioso, como aqueles dois partidos desidrataram”, avalia Daniel.
Para o cientista político, MDB e PT atualmente são incapazes de fazer frente aos tucanos, o que coube ao bolsonarismo em 2022, com o ex-deputado estadual Capitão Contar (PRTB). Este, porém, acabou sendo neutralizado no segundo turno por Tereza Cristina, fundamental aliada de Eduardo Riedel.
A aliança entre PSDB e PP do ano passado, entretanto, não deve se repetir em 2024, tendo em vista as articulações promovidas por Tereza e Reinaldo. Daniel Miranda considera crucial o quanto a senadora agrega à candidatura de Adriane Lopes.
“A questão é o quanto o PP agrega em termos de força à Adriane. É um partido que cresceu muito no governo bolsonaro, mas não o conheço por dentro o suficiente para afirmar que o partido, em si, será decisivo. Lembrando que o mesmo PP já ocupou a prefeitura com [Alcides] Bernal, mas as relações não eram lá muito boas”, explica Daniel.
“O decisivo aí, então, é o que a Tereza Cristina agrega à candidatura da prefeita. Em termos de apoios e recursos. E, em troca, é claro, o que ela tem a ganhar se Adriane for reconduzida à prefeitura”, indaga.
Já o PSDB, lembra Daniel Miranda, apesar de seu predomínio, o passado recente mostra que os outrora poderosos ex-governador André Puccinelli e seu MDB tiveram o início de suas derrocadas na eleição da 2012 na Capital, quando insistiram no ex-secretário de Obras e ex-deputado Edson Giroto e saíram derrotados.