O arcebispo metropolitano, Dom Dimas Lara Barbosa, determinou o “confisco” de 31,45% do dinheiro disponível no caixa de todas as paroquias para quitar o empréstimo de R$ 3,5 milhões. A medida extrema, adotada após a Arquidiocese de Campo Grande cair em uma espécie de golpe da empresa ANL Energia Limpa, causou uma crise na Igreja Católica, uma das maiores na história.
A igreja contratou a ANL para construir uma usina com capacidade para produzir energia suficiente para as 328 comunidades, instituições e entidades católicas. Para viabilizar o projeto, o arcebispo realizou empréstimo de R$ 3,5 milhões no Sicredi e repassou o dinheiro para a empresa de Santa Catarina.
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O grupo não construiu a usina e a Arquidiocese de Campo Grande acionou a Justiça em setembro do ano passado. Um acordo pôs fim ao imbróglio judicial. Na ocasião, a ANL assumiu as parcelas o financiamento e se comprometeu a doar a usina para a igreja. Só que a obra não começou e ainda houve atraso no pagamento das parcelas do empréstimo. Sem falar no prejuízo das paróquias e instituições continuarem pagando a conta de luz de R$ 109 a R$ 139 mil por mês.
Na semana passada, o arcebispo enviou uma carta aos padres comunicando o rateio da conta do golpe entre todas as instituições. “Infelizmente, o fornecedor escolhido não cumpriu sua parte no contrato, o que gerou para nós uma dívida expressiva junto ao sistema bancário. Vimos discutindo possíveis soluções em seguidas reuniões com os Párocos”, pontou o arcebispo.
O Conselho Presbiteral decidiu quitar o empréstimo e livrar a igreja da dívida milionária.
“Após sérias reflexões, deliberamos por unanimidade que o melhor seria quitar de vez a dívida, enquanto prosseguimos com nossa batalha judicial para tentar reverter o prejuízo. Essa quitação vai exigir um rateio entre todas as Paróquias, e o valor calculado é de cerca de 31,45% do que cada uma tem no seu caixa. Esse valor deverá ser transferido para a conta administrativa da Cúria até o dia 29 deste mês”, determinou Dom Dimas.
O rateio foi concluído na segunda-feira. O Jacaré apurou que a medida causou indignação e revolta entre as lideranças católicas, padres e leigos. A maioria das paróquias repassou o dinheiro. No entanto, alguns repasses teriam sido feitos mediante ligações do arcebispo, discussões e até ameaças.
O valor repassado oscilou entre R$ 306 e R$ 291 mil por igreja. No total, a Arquidiocese de Campo Grande teria arrecadado em torno de R$ 3,3 milhões e deverá quitar o empréstimo até o dia 4 deste mês, quando vence a próxima parcela.
O caso gerou uma crise entre o arcebispo e alguns padres e lideranças comunitárias da Capital. O maior questionamento é como o dirigente católico firmou um contrato milionário sem pesquisar o mercado e a história da ANL Energia Limpa.
Além do repasse de um terço do dinheiro disponível em caixa, as paróquias não ficaram livres do pagamento mensal feito à cúria. “Note que esse rateio não vai dispensar as Paróquias da sua contribuição mensal (cota) para as despesas comuns da Arquidiocese”, lembrou Dom Dimas.
Uma das medidas para compensar o “rateio” será o sorteio de um apartamento no Bairro Monte Castelo, avaliado em R$ 160 mil. Cada paróquia vai ficar com o dinheiro arrecadado com a venda das cartelas do show de prêmios.
“Na reunião do Conselho Presbiteral, decidimos também que vamos disponibilizar um dos apartamentos do empreendimento iniciado no Bairro Monte Castelo, avaliado em cerca de R$ 160.000,00 para um Show de Prêmios. O valor do bilhete está sendo estimado em R$ 25,00, de modo a favorecer a participação mesmo das pessoas com menor poder aquisitivo. O que sua Paróquia arrecadar com essa iniciativa ficará para a própria Paróquia”, destacou o arcebispo.
“Com a graça de Deus, todas as Paróquias formam um único corpo, que é a Arquidiocese, de modo que se uma sofre, todas as outras também sofrem. Nesses momentos difíceis, só a união de todos tornará possível nossa saída da crise que ora se instalou”, apelou Dom Dimas.
O Jacaré procurou o arcebispo metropolitano, mas ele não retornou até o momento.