O Comando Vermelho apostou na cobrança de taxa dos integrantes e na prática de crimes de sequestro, roubos e sequestros para fazer caixa para montar a estrutura e crescer em Mato Grosso do Sul. A organização criminosa tem até 10 mandamentos próprios da facção e um setor rigoroso de disciplina, que prevê até pena de morte para quem trair ou enfrentar o grupo.
Os detalhes da implantação da facção, que surgiu em 1979 nos presídios do Rio de Janeiro, no Estado foram desvendados em uma investigação minuciosa realizada ao longo de 15 meses pelos promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
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O primeiro passo para desarticular o grupo foi dado no último dia 5 com a deflagração da Operação Bloodworm, que cumpriu 92 mandados de prisão preventiva em MS e nos estados do Mato Grosso, Goiás, Distrito Federal e Rio de Janeiro.
A maior parte dos integrantes do Comando Vermelho no Estado é do Mato Grosso e a principal célula está localizada no Presídio Fechado da Gameleira. O presidente do grupo, Luiz Élio Gonçalves Filho, o Cabeça de Porco, está detido no estabelecimento penal, de onde por meio do celular comanda a organização, que tem 43 integrantes e 11 companheiros.
O CV surgiu a partir da união dos adversários do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção que surgiu nos presídios de São Paulo, e que estavam espalhados pelos diversos presídios do Estado.
“Deste modo, antes mesmo que houvesse o alinhamento das lideranças do Comando Vermelho para que criassem o chamado ‘Conselho dos 13’ e organizassem de fato a facção em Mato Grosso do Sul, já havia integrantes esparsos pelos presídios estaduais, os quais já contavam com relevante poder bélico, tanto é que comandavam o Raio III na Penitenciária Estadual de Dourados (PED) e possuíam amoitadas em uma de suas celas várias armas de fogo e munições. 26 Hoje, ambos lideram o Comando Vermelho MS da Penitenciária da Gameleira II”, relataram os promotores do Gaeco.
Para fazer caixa para a organização, eles estabeleceram uma taxa de R$ 100 que seria cobrada dos “camisas”, como definem os integrantes, e das “lojinhas”. No início, Cabeça de Porco se queixa da falta de dinheiro e sugere cobrar apenas R$ 50 de cada integrante da facção criminosa.
A facção exige fidelidade dos membros. Há um setor específico, chamado de Disciplina, que é o encarregado de julgar os companheiros e os adversários. “Por fim, complementando aquilo que se mencionou alhures, a organização criminosa em questão possui seu setor ‘DISCIPLINAR’, voltado para julgar e punir os atos de seus integrantes que são considerados afrontosos às regras e ‘princípios’ de seu estatuto, bem como para atacar membros de facções rivais”, revelou o Gaeco.
O estatuto propagado nos grupos de aplicativos dos criminosos é importado do Boa Vista, capital de Roraima. Os criminosos se comprometem a respeitar uns aos outros, não trair a organização criminosa. A punição vai desde simples advertência até a morte.
O grupo chegou até a contar com os “10 mandamentos do Comando Vermelho”. O primeiro é “não negar a pátria”. O segundo diz que não se deve cobiçar a mulher do próximo. Também faz parte dizer a verdade, orientar os mais novos e eliminar os inimigos. “Não caguetar (dedurar alguém)” é o 9º mandamento. O 10º “é ser coletivo”.
A investigação chegou a encontrar demonstrativos acerca do tratamento vingativo que o Comando Vermelho dispensa ao principal desses rivais, que é o PCC. Em uma das conversas, os líderes buscam armas para executar um dos principais líderes da facção paulista em MS, José Antônio Melo Corrêa, o Zé Sitioca, que foi preso com drogas em Dourados.
“As lideranças, inclusive, indagam a ‘DIEGO/MAGRELO’ quem seriam os integrantes do Comando Vermelho que estariam incumbidos da responsabilidade de matar o rival, a quem chamam pela alcunha de ‘frango’, mesma expressão utilizada para todos os integrantes das facções rivais. O objetivo em questão era executar o integrante do PCC conhecido como ‘Zé da Sitioca’”, revelaram os investigadores.
Para encher o caixa, o grupo apostava em roubos de grande impacto, como assaltos a banco e caixas eletrônicos, assaltos e sequestros em Mato Grosso do Sul. Todos os crimes seriam praticados a partir da orientação dos líderes, que estão presos.