Mário Pinheiro, de Paris
Vladimir Soloviev é jornalista e propagandista russo. Ele defende que seu presidente envie bomba atômica para Berlim, Paris e Londres. Para Soloviev, é preciso se mostrar superior, soberano e utilizar as armas capazes de exterminar qualquer potência que provoque sua pátria.
Embora em tenra idade, ele tem saudades de quando não existia internet e seu país era a potente União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. No tempo da URSS, o culto da personalidade era a arma, a propaganda usada por Stalin, centralizada nele, no sucesso das ordens que enviavam os inimigos ao Gulag ou ao cemitério. Esta propaganda veste o mal e o bem. Joseph Goebbels era um homem frustrado que adorava outro frustrado Hitler, mas atuava na propaganda.
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As imagens de horrores, de montanha de corpos enviados em vala comum, mortos em câmaras de gás, de fome, frio ou executados com bala na nuca, pelo abuso da propaganda antissemita não basta aos que hoje a usam para venda de armas ou reafirmar seu poder político.
O chefe do grupo mercenário, Evgueni Prigojine, defende também que seu país não pode demonstrar clemência ao povo ucraniano e que as bombas devem cair em prédios civis, pois a vitória é que importa. Mas Prigojine também ressalta que os russos estão desertando o front de combate, que o material bélico está em falta e os ocidentais podem até ganhar a guerra.
Por outro lado, a televisão russa não publica nada que possa ir contra o discurso de Vladimir Putin. Nas escolas, em geral, se fala da grandeza russa, e, sobretudo da maldade do povo vizinho.
Sua propaganda exclui milhares de mortes de soldados russos, que a coragem de seus súditos é bem maior que a vontade de abandonar as armas. A propaganda, dizem, é a alma do negócio. É a partir dela que o mercado enriquece.
Há anos, a propaganda era “Brasil, ame ou deixe-o”, uma frase que exprime o asco militar nacionalista apostando no extermínio e nos métodos desumanos executados nos porões. Durante os quatro anos do último governo brasileiro os yanomami sofreram, outros tantos morreram, enquanto a propaganda mostrava o presidente liderando o cercadinho e voando nas motociatas.
Esta propaganda fez o estilo matador contra a democracia, favorável às milícias e aos policiais que executavam em nome da lei. Mas não é somente culpa do clã dominante, é também o peso da aposta de jornais conservadores e de um grupelho de empresários aliados de lambe-botas do Ministério Público.
A propaganda fez um rombo enorme ao usar o power point ao vivo pela imprensa em rede nacional. O Brasil acredita na propaganda, sobretudo se ela se diz religiosa, mesmo cega, contra certos tópicos da hipocrisia moral. Ela veste o lobo de cordeiro, cria seu discurso sobre a maldade do outro.
É a mesma medida usada por Putin para obter apoio de que se tratava apenas de uma “operação militar”. Esta propaganda falhou na falsificação dos cartões de vacina, na busca das joias, no atentado contra o aeroporto de Brasília, na sede de tomar o poder com as camisas da seleção brasileira, quebrando tudo no Planalto e cagando nos locais que defendem a ordem democrática.
A propaganda deles é nacionalista, contra a democracia e contra a esperança das vozes pisadas pelo estupro e violência. Se Soloviev defende o uso da bomba atômica e sustenta o discurso de Putin, no Brasil se defendia a continuação do desequilíbrio político, exterminação dos índios com a propaganda de uma arma nas mãos de cada cidadão.
Felizmente, as vozes do atraso diminuíram, a estrela brilha novamente e a esperança venceu o medo.