Albertino Ribeiro
Na última quinta-feira (4), a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de Lei 1085/23, o PL da igualdade salarial entre homens e mulheres. A proposta cria mecanismos para garantir que homens e mulheres ganhem o mesmo salário, se ocuparem o mesmo cargo. Pela lógica, uma lei como esta deveria receber o voto de todas as mulheres do nosso parlamento. Contudo, não foi isso que aconteceu, pois dentre os 36 votos contrários, 10 foram de mulheres.
A maioria das mulheres que votou contra o PL é justamente do PL (Partido Liberal). Estranho, não é mesmo? O pensamento liberal traz na sua essência a emancipação da mulher e o reconhecimento de que ela tem os mesmos direitos que os homens. Sendo assim, que tipo de liberalismo praticam as deputadas Carla Zambelli e Bia Kicis, por exemplo?
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Vida, liberdade e propriedade são os direitos mais caros ao liberalismo desde o seu nascedouro. Estes serviram como ponto de partida para o surgimento de outros direitos. Segundo o filósofo Michael Freeden, o liberalismo nem sempre foi o mesmo como o conhecemos. No século XVII, com Locke, o objetivo foi a conquista da liberdade religiosa, mas agora o seu arcabouço é bem maior.
As digníssimas deputadas precisam entender que o pensamento liberal – com o passar do tempo -, fez um movimento dialético, criando outras camadas de liberdade. O Estado, nesse novo contexto, tem papel importante, pois passou a ser promotor da liberdade humana. Destarte, a sociedade não pode esperar que o ambiente machista das organizações tome a inciativa de acabar com a diferença salarial. Isso nunca vai acontecer.
No século XIX, o economista e filósofo John Stuart Mill – um dos pais do liberalismo -, não demonizou a presença do Estado na sociedade, mas atribuiu a este um papel importante. Para ele, a liberdade não pode estar acima do bem-estar geral, como defendem os extremistas de direita. Muitos destes, inclusive, encontraram eco em Bolsonaro, quando ele dizia que a liberdade é mais importante que a vida. “Mentira! Ele disse isso mesmo?”
O PL vai agora ser votado no Senado, onde a possibilidade de aprovação é muito grande. Obviamente, as mulheres não poderão contar com o voto da Damares Alves, pois a senadora, por diversas vezes, já demonstrou que é seguidora da pauta de extrema direita; e também, mesmo se concordasse com algum projeto encaminhando pelo presidente Lula, votaria contra, simplesmente, por birra.