A Justiça de Mato Grosso do Sul aceitou o pedido de recuperação judicial solicitado pelas empresas do Grupo JChagas, que tem entre seus donos José Chagas dos Santos, suplente do senador Nelsinho Trad (PSD). O grupo de supermercados informou que tem dívidas de R$ 152,4 milhões.
A origem do grupo remonta ao ano de 1972, em Naviraí, sendo que José Chagas, um dos funcionários, Atualmente, no setor supermercadista o Grupo Chagas possui 10 unidades, sendo três atacarejos e sete supermercados, cerca de 800 colaboradores diretos, atendendo uma população de aproximadamente 160 mil clientes.
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As empresas controlam os supermercados Chama e atacarejos Fogo nas cidades de Naviraí, Iguatemi, Caarapó, Corumbá, Ladário, Maracaju, e “até mesmo internacionalmente, devido à proximidade da loja de Corumbá com a Bolívia”.
“Na atividade rural agropecuária, os Produtores Rurais contam hoje com 2 fazendas onde estão divididas cerca de 700 cabeças de gado”, informam os advogados no processo. Os donos das propriedades são José Chagas e seu filho mais velho, Fábio Chagas.
Na justificativa para a recuperação judicial, as empresas informam que sua crise econômico-financeira teve início em 2020, com a pandemia de covid-19. Os supermercados foram afetados pela queda nas importações e exportações de produtos, matérias primas e mercadorias caíram com o fechamento de fronteiras internacionais e a logística ficou paralisada até dentro do País.
“Diminuindo a produção nas fábricas, o que fez os preços das mercadorias explodirem junto aos fornecedores, além do alto custo do crédito, sendo que, todos esses fatores não foram repassados no preço do produto ao consumidor final”, justificam. Também apontam a retração econômica mundial, alta da inflação e juros.
O Grupo JChagas garante que “voltará a crescer e o endividamento se transformará em algo pequeno” com a aprovação da recuperação judicial. Caso contrário, grupo, sociedade, fornecedores, credores, clientes, trabalhadores (diretos e indiretos) serão afetados.
Nesta semana, o juiz José Henrique Neiva de Carvalho e Silva, da Vara de Recuperações Judiciais, Falências e Insolvências de Campo Grande, aceitou o pedido de recuperação do grupo e determinou que os bancos Sofisa, BS2, Daycoval e BMG “se abstenham de efetuar qualquer bloqueio ou retenção de valores das contas bancárias das Recuperandas, bem como procedam a liberação dos recursos eventualmente retidos a partir da data da propositura da presente ação (29/03/2023)”.
O magistrado também suspendeu por 180 dias as ações e execuções contra as empresas devedoras do grupo. O plano de recuperação judicial deverá ser apresentado no prazo de 60 dias, contados da publicação da decisão no Diário da Justiça, o que ocorreu no dia 26 de abril.
O processo também vai correr em sigilo para “impedir a prática de atos por terceiros que possam prejudicar a preservação da empresa”. Ainda no sentido de preservar a atuação do grupo e o “sucesso da recuperação judicial”, José Henrique Neiva proibiu a penhora dos bens móveis e imóveis considerados essenciais às atividades do grupo e que foram dados como garantia de empréstimos financeiros aos bancos.
Os credores terão 15 dias para encaminhar os documentos para o administrador judicial.
Com seus 50 anos de atividade comercial, o Grupo JChagas entra para o time de empresas tradicionais de Mato Grosso do Sul que pediram recuperação judicial, como as farmácias São Bento, a Bigolin, e o Sperafico.
Depois de 74 anos da fundação da primeira unidade, o grupo São Bento fechou a última das 91 farmácias em setembro de 2022, em Campo Grande. No entanto, os sócios planejam reconstruir o império a partir de uma pequena sala localizada na região central. O investimento é esperado com a venda de 15 imóveis que devem restar do pagamento aos credores.
As farmácias acabaram indo a bancarrota em virtude da concorrência acirrada causada pela chegada de grandes grupos nacionais e da alta carga tributária.
O grupo paranaense Bigolin também virou apenas lembrança do passado, após recuperação judicial. Após três décadas, o grupo foi a bancarrota deixando uma dívida superior a R$ 96 milhões e precisou vender seus imóveis. A decretação da falência ocorreu em agosto de 2021.
A valorização da commodities teria sido a principal causa da bancarrota do Grupo Sperafico, um gigante do agronegócio. Em junho de 2022, a Justiça aceitou o pedido de recuperação das empresas do ex-deputado federal Dilso Sperafico, que alegam possuir dívida de R$ 1,076 bilhão, sem considerar os tributos em atraso.
Com 62 anos de atuação, o grupo alegou que um dos motivos da bancarrota foi a crise mundial de 2008. O outro motivo foi a soja, que vinha fazendo a festa dos produtores rurais ao bater recorde no mercado mundial.