Albertino Ribeiro
O arcabouço fiscal agradou o mercado. Depois de sua divulgação, a bolsa subiu 1,45%. Entretanto, para isso a equipe econômica desenvolvimentista teve que acenar para o monetarismo, ao garantir economia de recursos para o pagamento de juros e controle da trajetória da dívida pública em relação ao PIB.
Setores da esquerda, incluindo jornalistas como Luís Nassif, sindicalistas e até personalidades do PT , não receberam com bons olhos a proposta. Nassif, por exemplo, apelidou a nova âncora de calabouço fiscal.
Veja mais:
Economia Fora Da Caixa – A religião do Banco Central e o apocalipse da economia brasileira
Economia Fora Da Caixa – Economia Comportamental: Se estiver ‘muito feliz’, não saia de casa
Economia Fora Da Caixa – A incompatibilidade de ser ultraliberal e cristão
A crítica do pessoal mais à esquerda é a de sempre: a submissão do Estado brasileiro ao mercado. “Por que existe limite aos gastos sociais e investimentos, por exemplo, mas não existe limitação para o pagamento de juros?”
É ponto pacífico entre economistas de esquerda que não existe uma relação científica entre dívida pública e PIB. Segundo eles, o importante é que o Estado gaste de forma inteligente. Esse pensamento também é corroborado pelo economista André Lara Resende, que pode ser acusado de várias coisas, menos de ser um esquerdista.
Concordo com eles. Essa relação dívida/PIB não passa de uma quimera. Qual seria o ideal? 50%, 70% do PIB? Então como se explica a dívida pública do Japão que é de 250% do PIB?
Contudo, na minha opinião, Haddad fez o que era possível, pois vivemos em um país cujo pensamento dominante coloca a austeridade fiscal como um dogma. Para reforça-lo, constroem- se metáforas esdrúxulas, que são verdadeiros sofismas, quando comparam as finanças do Estado brasileiro ao orçamento de uma família.
Destarte, dentro dessa Matrix criada pelo pensamento neoliberal – que já faz parte do imaginário da nossa sociedade – , não é aconselhável ir com muita sede ao pote, sob pena de enfrentar mais um golpe disfarçado, como ocorreu com a presidente Dilma, em 2016.
Meu desejo é que um dia o pensamento econômico heterodoxo domine o debate na política brasileira. Para isso, é necessário muito trabalho pela frente. Somente dessa forma, poderemos nos desenvolver de verdade e nos transformar em uma grande nação verdadeiramente soberana.