Albertino Ribeiro
Estamos no meio de uma crise de crédito na economia brasileira; um fenômeno real que já está afetando as empresas como as montadoras, por exemplo. Por falta de demanda, principalmente em razão das altas taxas de juros, a indústria de carros está paralisando a produção e dando férias coletivas aos funcionários.
Para qualquer economista que tenha os pés no chão, o crédito tem um papel importante na economia; é como se fosse um óleo lubrificante que permite o funcionamento das engrenagens de uma máquina. Contudo, existem aqueles que são fanáticos religiosos, que levam muito a sério determinadas doutrinas econômicas que não funcionam no mundo real.
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Semana passada, li um excelente artigo do economista Gabriel Galípolo, escrito com o professor Paulo Gala, da FGV. O texto, muito bem escrito, desconstrói a falácia do economista da Escola Austríaca, Friederich Hayek. Para Hayek, “o crédito é pecado e a crise, a salvação.”
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, é um discípulo que reza a cartilha da escola austríaca e, como bom seguidor, deve também pensar que a liquidez gerada pelo crédito seria um fenômeno antinatural, uma profanação que faz a economia crescer artificialmente, gerando inflação.
Quanto a crise, ela seria uma resposta às decisões erradas, principalmente do Estado. Dito de outro modo, a onda de recessão e desemprego seria como um fogo purificador, que corrigiria distorções e levaria a atividade econômica de volta ao equilíbrio. Espero que o leitor não tenha dito amém.
Na atual conjuntura brasileira, o país está refém de um presidente do Banco Central que age como um avatar das ideias fantasmagóricas do finado Hayek; um idealista beato que sequestrou o comando da economia, que fora dado ao presidente Lula pela maioria dos eleitores brasileiros.
Na última ata do Copom, por exemplo, o Banco Central não descartou continuar aumentando os juros. E pasmem! Também considerou positivas as expectativas de redução da atividade econômica e do nível de emprego, pois esses indicadores ajudarão a manter a inflação sob controle.
Sendo assim, enquanto Roberto Campos for o maestro da política econômica, acredito que o desemprego, a miséria e a fome serão as palavras mais ouvidas ao som do trítono tocado pelo Banco Central.
“Entre o idealista dedicado e o fanático, muitas vezes há apenas um passo.” – Hayek