As discussões sobre a criação de um novo anel viário em Campo Grande ganhou força nas últimas semanas em meio a audiências a respeito da relicitação da BR-163. É consenso entre a prefeitura, vereadores, deputados e governo da necessidade de uma nova via voltada a veículos de carga que contorne a Capital.
Atualmente, a BR-163 entre as saídas de São Paulo e Cuiabá virou praticamente uma “avenida” dentro da cidade, com bicicletas, motos, carros tendo que dividir espaço com caminhões e carretas. Este cenário gera trânsito quilométrico nos horários de pico e centenas de acidentes, alguns deles fatais.
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O plano da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) de relicitação da BR-163 inclui a duplicação de 37 quilômetros deste trecho. Além disso, prevê a criação de 9 rotatórias alongadas, 1 passagem inferior, 3 passarelas, 100m de via marginal, 28 melhorias de acessos e 18 paradas de ônibus.
No entanto, o poder público estadual e municipal buscam incluir a construção de um novo anel viário no projeto de concessão. Conforme proposta da Prefeitura de Campo Grande, o trajeto deslocado teria início na rotatória da entrada da cidade na saída para São Paulo, atravessaria a MS-040, prosseguiria até a BR-262 (saída para Três Lagoas).
Na altura do condomínio Terras do Golfe, avançaria contornando o Jardim Noroeste e a Chácara dos Poderes até chegar ao extremo norte da Capital, se conectando à rotatória que está sendo implantada na saída para Cuiabá. Neste ponto se conectaria com a BR-163 e com o trecho do anel que dá acesso à MS-010 (Rochedinho ), MS-040 ( saída para Rochedo ) e às saídas para Aquidauana (BR-262) e Sidrolândia (BR-060).
O trajeto proposto tem aproximadamente 30 km, mas a extensão exata só será apurada quando o projeto executivo for feito. “Os custos da elaboração do projeto, as desapropriações e da obra serão bancados pelo grupo que vier a vencer a licitação e assumir a administração da rodovia”, explica o ex-secretário de Infraestrutura e Serviços Públicos, Rudi Fiorese.
Terceiro anel viário de Campo Grande
Para o arquiteto e urbanista Fayez José Risk, 69 anos, antes da construção de um novo macroanel o município deve olhar para o passado e aprender com os erros cometidos.
O primeiro anel viário de Campo Grande compreendia as avenidas Ceará, Eduardo Elias Zahran, Salgado Filho, Tamandaré e Mascarenhas de Moraes, projetado no início dos anos 1960 e construído na década de 1970. E hoje é facilmente verificável o problema que ocorreu.
“Não se preocuparam com a Lei de Uso e Ocupação do Solo. Tem que se ter um controle sobre o que se pode instalar na beira desse anel. O que aconteceu foi que a cidade loteou, se construiu e hoje você passa na Zahran e não tem um milímetro para alargar a rua para suportar o tráfego. Também não tem estacionamento porque construíram na beira da calçada. E viraram as ruas que vemos hoje”, explica Fayez Risk.
Com o crescimento da Capital, foi criado o atual anel viário com a BR-163, BR-262 e BR-060. E nos últimos anos, os campo-grandenses veem o trecho entre as saídas de São Paulo e Cuiabá repetir o mesmo que ocorreu no primeiro macroanel e ficar “superlotado” de veículos.
“Agora virou uma avenida também, por causa dos mesmos problemas. Não criaram vias paralelas, deixam o comércio tomar conta, oficinas mecânicas, borracharias, armazéns de carga. Aí se criou novamente o mesmo problema. Deixaram a cidade crescer em volta sem organização espacial, sem controle do uso do solo”, relata Fayez. “É preciso um novo anel, porque esse aí está inviável”.
O urbanista alerta que Campo Grande é uma das maiores cidades do País em área urbana, superando cidades mais habitadas como Porto Alegre (RS), Salvador (BA), Belém (PA), que fazem parte de regiões metropolitanas. Isso prejudica a mobilidade e o acesso ao transporte coletivo público para uma população de 942.140 de habitantes, conforme a prévia do Censo do IBGE.
“Se você criar um novo anel viário, evidentemente as pessoas vão procurar lá. Vai valorizar, vão querer lotear, a cidade vai ficar maior ainda e mais cara. É uma equação que não é simples de resolver”, aponta Fayez José Risk, que tem 45 anos de experiência em mobilidade urbana.
Preocupação com o futuro
Presidente da Comissão de Mobilidade, o vereador André Luis (Rede) demonstra preocupação com o futuro de um novo rodoanel. Para ele, o projetado pela Prefeitura de Campo Grande está próximo do perímetro urbano.
“Este é o terceiro anel viário e, se brincar, vai ter um outro ainda. A proposta é passar depois do autódromo, o que acho que está perto de Campo Grande. Na minha opinião, teria que ser bem mais pra lá também. Para justamente a gente não ter mais preocupação com o novo anel viário”, diz o parlamentar.
Andre Luis defende que o governo federal passe o trecho da BR-163 entre as saídas de São Paulo e Cuiabá para o município e seja transformado em uma avenida perimetral, pois serve de entrada para diversos bairros.
O vereador vai ao encontro do que diz o urbanista Fayez Risk, de que a Lei de Ocupação do Solo é negligenciada na cidade.
“Em Campo Grande você não tem uma política de ocupação do espaço público. Se você pega a [Avenida] Gury Marques, sentido Moreninhas, antes de chegar no bairro, tem uma fazenda, uma área rural com vacas. É um absurdo. Não tem uma Lei de Ocupação do Solo, não tem fiscalização. É uma cidade que está a deus-dará”, conclui.